Relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), afirmou que, se a intenção foi atrapalhar a comissão, ação terá “consequências”
O sargento do Exército, Luís Marcos dos Reis, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), comandado pelo tenente-coronel Mauro Cid, entregou apenas o extrato de uma das contas que ele possui à CPI do Golpe, no Congresso Nacional, que apura os ataques aos prédios dos Três Poderes, em 8 de janeiro.
Luís Marcos dos Reis atuava na equipe do tenente-coronel Mauro Cid, na Ajudância de Ordens do ex-presidente. Ele está preso desde maio, suspeito de participar de esquema de falsificação de cartões de vacinação.
A relatora da CPI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), afirmou que se a intenção do ex-ajudante de ordens foi enrolar ou enganar a comissão, “haverá consequências”.
“Se houve uma tentativa de embaraço de Luis Marcos dos Reis com a CPI, ao disponibilizar apenas parte dos extratos, haverá consequências jurídicas disso”, afirmou a relatora.
“MOVIMENTAÇÃO SUBSTANCIAL”
A defesa de Luis Marcos dos Reis declarou que a escolha foi feita porque traz a “movimentação substancial” do sargento. “É somente a conta do Banco do Brasil que tem movimentação substancial. A defesa não se opõe à vinda das informações das demais contas”, afirmou a defesa do militar.
O sargento foi supervisor na ajudância de ordens de Bolsonaro desde o início do governo até julho de 2022, segundo o currículo dele disponível no portal do governo federal.
EXTRATO BANCÁRIO
Num ato voluntário, ele disponibilizou para a CPI os extratos que trouxe como documento acessório para utilizar durante o depoimento que prestou na última quinta-feira (24).
O RIF (Relatório de Inteligência Financeira) produzido pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) aponta que ele possui, ao menos, outras duas contas.
Os extratos disponibilizados foram de conta do Banco do Brasil e os dados são de fevereiro de 2022 a maio de 2023. Nesses documentos, é possível identificar, por exemplo, R$ 70 mil que foram enviados para o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, em janeiro de 2023.
TRANSAÇÕES ESTRANHAS
Durante depoimento à CPI, Reis justificou que o valor se referia à venda de veículo de Cid. “O carro era dele, comprou, único dono, e eu anunciei o carro para vender. […] Está lá no dia que essa senhora comprou o carro, que depositou na minha conta, R$72 mil”, afirmou o militar.
O subordinado de Cid ainda disse que repassou valor menor porque o chefe o gratificou pelo “trabalho” feito. “Ele: ‘Quanto que sobrou? R$ 72.830 (setenta e dois mil, oitocentos e trinta reais).’ Ele falou assim: ‘Passa R$ 70 mil; fica para você o restante por seu trabalho”, disse.
INFORMAÇÕES INCOMPLETAS
Entretanto, os extratos não trazem a movimentação bancária completa que o ex-ajudante de ordens teve ao longo do período. Em um dos relatórios, o conselho aponta que Mauro Cid enviou, em única transferência, R$ 11.740 para Reis. Todavia, este valor não aparece nos extratos bancários.
Outra inconsistência se dá nas transferências para Maria Helena Graces de Moraes Braga, tia de Michelle Bolsonaro e babá da filha mais nova do ex-presidente.
O relatório aponta que Reis enviou da conta dele R$ 11.360 em quatro transferências de R$ 2.840, realizadas em fevereiro, abril, junho e julho de 2022. Porém, essas transações não aparecem no extrato entregue por ele à CPI. O único registro de transferência deste valor aparece apenas em 16 de março de 2022.
Na última sessão deliberativa da CPI, foi aprovado requerimento, da relatora Eliziane Gama, que pede a quebra de sigilo bancário do militar.
PRISÃO DO SARGENTO
Luis Marcos dos Reis foi preso pela PF em maio na operação sobre fraude nos cartões de vacinação de Bolsonaro. Ele esteve nos atos golpistas de 8 de janeiro e relatou o que viu e gravou.
Segundo a PF, Reis foi para a Esplanada com a esposa e um dos filhos e enviou vídeos do local para pelo menos três pessoas diferentes. “Nós temos que cada um fazer a nossa força aqui. Representar o nosso País, né? Graças a Deus! Mas foi bonito aqui! É, muita das vezes a televisão fala mentira aí, que… Realmente, é a primeira vez que eu vejo aqui”, disse o sargento ao amigo interlocutor.
Continuou: “Entraram no Planalto, no Congresso, Câmera dos Deputado e entrou no STF. E quebrou, arrancou as togas lá daqueles ladrões. Arrancou tudo! Foi, foi… O bicho pegou hoje aqui! Spray também de pimenta, gás lacrimogêneo.”
Nos áudios ele mencionou que a prima do amigo com quem conversava estava lá, mas não disse o nome dela. “O pau torou aqui! Sua prima estava no combate aqui comigo! Tamo aqui ainda! Bicho está pegando!”, complementou na ocasião.
M. V.