O depoimento do ex-presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro, conhecido como Léo Pinheiro, interrogado pela juíza Gabriela Hardt, no processo da propina que Lula recebeu, através das obras no sítio de Atibaia, teve uma característica diferente daquele de Marcelo Odebrecht.
A diferença é que Pinheiro tratou diretamente com Lula as obras do sítio pagas pelas OAS. No caso da Odebrecht, quem tratava com Lula era o pai de Marcelo, Emílio, e o executivo Alexandrino Alencar (v. Sítio de Atibaia: os e-mails que provam a culpa de Lula).
Disse, na sexta-feira, o ex-presidente da OAS à juíza Hardt:
“Em fevereiro de 2014, possivelmente no final do mês, eu fui convocado pelo ex-presidente Lula para um encontro no Instituto Lula.
“Chegando lá, ele me explicou que queria fazer uma reforma, não era uma reforma grande, num sítio em Atibaia, em uma sala e numa cozinha, e também tinha um problema num lago, que estava dando infiltração, se eu podia mandar alguém, uma equipe para dar uma olhada.
“Eu disse: olha, presidente, eu gostaria de ir pessoalmente, o senhor marca o dia, que eu vou estar presente.
“Então, ele marcou no sábado seguinte” (v., abaixo, vídeo do depoimento).
Léo Pinheiro levou para o encontro no sítio de Lula o engenheiro Paulo Gordilho, diretor da OAS Empreendimentos, porque este “já tinha conhecimento dos serviços que nós vínhamos fazendo no triplex do Guarujá. Eu preferi que Paulo também continuasse, para que essa coisa não ficasse muito divulgada dentro da organização”.
Ao chegar no sítio, “ele [Lula] e a Dona Marisa me mostraram, a mim e a Paulo, os serviços que eles gostariam de fazer na sala e atingiria a cozinha, porque tinha uma parede que tinha que desmanchar.
“Nós dissemos: ‘presidente, deixa a gente fazer um projeto e mostrar ao senhor’. Fomos ver o lago que estava tendo uma infiltração. Demoramos um pouco para tentar entender como é que estava acontecendo aquilo. Eu disse: ‘olha, o lago, a gente vai ter que esvaziar’.”
Duas ou três semanas depois, no apartamento de Lula, em São Bernardo do Campo, Pinheiro e Gordilho apresentaram seu projeto:
“Estava ele e dona Marisa. Eu fui com Paulo e mostramos a ele [Lula] como é que seria a reforma da sede do sítio.
“O presidente combinou comigo o seguinte: ‘olha, tudo bem, pode iniciar o serviço. Eu só lhe pediria, Léo, que as pessoas não se apresentassem na cidade de Atibaia, questão de sigilo, que as pessoas não tivessem uniforme, essas coisas, da OAS, que não tivessem nenhuma identificação”.
A OAS, então, optou por trazer funcionários de fora de São Paulo:
“Vieram de Salvador pessoas da confiança dele [Gordilho]. Essas pessoas foram um encarregado, se não me falha a memória, três ou quatro operários. Ele determinou que qualquer coisa se conversasse com o caseiro, acho que é Maradona o nome, que teria lugar para essas pessoas dormirem.
“E assim foi feito, durante o mês de março até talvez julho ou agosto de 2014”.
Sobre as tratativas para as obras, disse Pinheiro, “eu só conversei com o presidente. Ela [Dª Marisa] estava presente nas duas vezes que eu tive contato com os dois”.
Lula disse especificamente que “não pode ser feito nada em nome da OAS”.
“As compras eram feitas na cidade de Atibaia pelo encarregado que estava lá. Ele recebia um dinheiro, que a empresa disponibilizava para ele. Ele fazia as compras, ao que me consta, parece até em nome dele, porque era recibo, não era nota fiscal”.
FATOS
Ao término do depoimento, Pinheiro respondeu a três perguntas de seus advogados:
ADVOGADA: Em algum momento, o ex-presidente Lula te questionou acerca de valores dessas obras realizadas no sítio? Em algum momento ele perguntou como deveriam ser ressarcidas essas despesas gastas?
LÉO PINHEIRO: Não, nunca.
ADVOGADO: As atitudes que o ex-presidente Lula tomou frente ao sítio – me refiro às obras especificamente que a OAS fez no sítio – deixaram dúvida ao senhor de que ele era o real proprietário do sítio?
LÉO PINHEIRO: Nenhuma dúvida.
ADVOGADO: Deixaram dúvida de que ele seria o real beneficiário dessas obras?
LÉO PINHEIRO: Nenhuma dúvida.
Esta pode ser a síntese do depoimento.
Mas Pinheiro explicou a origem da propina que pagou as obras no sítio de Lula:
“Nós fizemos várias obras com a Petrobrás ao longo desses anos, durante o governo do PT. Acredito eu que num montante de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões. Essas obras tinham um valor determinado de 1% para o PT.
“Nós tínhamos uma conta corrente. A cada faturamento de cada obra dessas, a gente tinha que fazer um pagamento de 1% sob o valor que nós recebíamos. Mas isso não era pago imediatamente.
“Às vezes juntava mais um pouco e o Vaccari [tesoureiro do PT] determinava: ‘eu quero que você me pague isso em caixa 2, quero que você faça doações ao Diretório nacional do PT, ao diretório estadual tal, que ajude político tal’. Foi assim a vida toda. Juntava-se um montante, eu tinha uma participação direta nisso, eu pouco delegava, até por uma questão de ser um partido no poder, ser o presidente.
“Vaccari combinava comigo ou diretamente com essas pessoas – e a gente fazia os pagamentos. Qualquer despesa extra que tivesse, a mando do PT – no caso [do sítio de Atibaia] essas duas coisas que foram feitas diretamente com o presidente, a nível pessoal, como as outras despesas – eu sempre combinava com Vaccari e fazia-se um encontro de contas.”
C.L.
Abaixo, o depoimento do ex-presidente da OAS, perante a juíza Hardt, no processo da propina do sítio de Atibaia: