A polícia ainda não tem pistas sobre os autores do assassinato de três ambientalistas da mesma família na área rural de São Félix do Xingu, no sudoeste do Pará. O pescador, conhecido como Zé do Lago, a esposa, Marcia Nunes, e a filha Joane, de 14 anos foram mortos a tiros.
O corpo de Márcia foi localizado boiando às margens do Rio Xingu. Os corpos do pai e filha foram encontrados nas proximidades da casa onde a família morava, todos no domingo (09). Segundo análise da perícia, a suspeita é que o triplo homicídio tenha ocorrido há cerca de três dias.
Eles moravam há mais de 20 anos na região, onde desenvolviam um projeto ambiental de repovoamento das águas com filhotes de tartarugas. Todos os anos, o pescador soltava espécies de répteis nas águas do Rio Xingu.
Em nota emitida nesta terça-feira, a Anistia Internacional Brasil manifestou indignação com a tragédia e cobrou providências. “A Anistia Internacional cobrará e estará atenta às investigações que têm o dever de elucidar as circunstâncias dos assassinatos de Zé do Lago, Márcia e Joene. Os responsáveis pelos crimes devem ser identificados e responsabilizados de maneira célere e efetiva”, diz o documento. “O Estado brasileiro possui a obrigação de agir para conter a onda de violência e o ciclo de impunidade que se perpetuam na região amazônica e em todo o território nacional”, prossegue a entidade.
“O direito ao meio ambiente limpo, saudável e sustentável é um direito humano recentemente reconhecido pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU. As ameaças, agressões e assassinatos de defensores e defensoras deste direito, intimamente relacionado às lutas por justiça ambiental e climática e às resistências dos povos do campo, das florestas e das águas, não constituem casos isolados”, denuncia a Anistia.
A entidade aponta ainda que o Brasil é o quarto país que mais mata pessoas engajadas em causas ambientais. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT) em 2021, 26 mortes envolvendo conflitos no campo foram registrados no país.
Em 2020, o total de disputas motivadas por questões agrárias totalizaram 2.054 ocorrências, com 18 assassinatos. Esse é o maior número de conflitos por terra registrado desde 1985, quando a CPT começou a fazer o monitoramento. Na segunda colocação ficou o ano de 2019, com 1.903 conflitos e 32 mortes. Em 2020 os conflitos agrários foram 25% mais numerosos que no primeiro ano do governo Bolsonaro e 57,6% comparado a 2018.
A Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) encaminhou ofício à Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup) solicitando apuração do caso.
Já a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) cobrou rapidez e eficiência nas investigações para a garantir a segurança de possíveis testemunhas e familiares que se sintam ameaçados. “Fizemos um pedido de providências à Segup para que adote todas as providências necessárias com o uso de todo o aparato institucional a fim de identificar e responsabilizar os autores dessa barbárie, para que não seja mais um caso de impunidade aqui no estado”, afirma o advogado Nildon Deleon.
Há suspeitas de que o crime tenha sido cometido por pistoleiros. Munições foram localizadas no local dos crimes, mas a motivação segue sendo investigada, segundo a Polícia Civil do Pará que apura o caso.