O comandante do Exército brasileiro, general Tomás Ribeiro Paiva, afirmou, nesta quinta-feira (9), que as “fake news” propagadas nas redes sociais sobre a tragédia causada pelas fortes chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul têm prejudicado o trabalho de ajuda às vítimas.
Desde o início das enchentes, bolsonaristas passaram a divulgar mentiras e desinformação nas redes atacando medidas tomadas pelo governo e às ações de voluntários e até mesmo dos militares que tem atuado incansavelmente no resgate e atendimento das vítimas do desastre.
“Já foram resgatadas mais de 60 mil pessoas por todas as forças, e aqui eu estou colocando todo mundo: não tem que ter diferença entre Exército, Marinha, Aeronáutica, Brigada Militar, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, os voluntários que estão trabalhando. Toda a ajuda é importante nesse momento, mas as fake news prejudicam o trabalho”, disse Tomás Paiva, em entrevista à GloboNews, da Base Aérea de Canoas, no Rio Grande do Sul (RS).
“As pessoas que estão ajudando também têm famílias, muitas vezes também estão deslocadas, só que não podem ir pra casa. Estão dobrando três dias, quatro dias, às vezes não têm tempo pra tomar um banho. Estão fazendo de tudo pra gente fazer o mais importante que é resgatar vidas, salvar vidas. A fake news desmotiva, espalha inverdade. Mas não podemos nos desmotivar com isso. Temos que estar o tempo todo mostrando o que está acontecendo e mostrando a verdade”, afirmou o comandante.
O general Tomás Paiva, que tem se dedicado a organizar as operações de resgate e envio de ajuda humanitária às vítimas, também foi alvo das redes bolsonaristas que dispararam mensagens afirmando que o comandante teria “viajado para a China confraternizar com comunistas”.
Desde o início da operação, Tomás Paiva já esteve no estado duas vezes e vem dividindo o tempo com outras missões do Exército no país, como a operação de combate ao crime organizado na fronteira com o Paraguai, no Mato Grosso do Sul, e com a Bolívia, no Mato Grosso, e as ações na Amazônia, com destaque para a terra indígena Yanomami.
DESINFORMAÇÃO
O governo federal divulgou nas redes sociais as principais mentiras que são repercutidas para obter acessos e, consequentemente, vantagens nas publicações:
- Não há exigência de nota fiscal para realizar doações;
- Veículos de salvamento não estão sendo multados;
- Não há obrigação de licença para pilotar barcos e jetskis em operações de salvamento;
- Não há fiscalização de marmitas pelo Piratini;
- O governo não recusou ajuda de outros países;
- O pix habilitado pelo governo não vai para um caixa da gestão.
Assim como as notícias falsas, um tipo de golpe virtual também foi registrado. Fraudadores divulgam nas mídias sociais uma arte semelhante à do governo contendo um QR Code para doação. Porém, simula informações do Piratini, com dados de um terceiro.
OBJETIVO É PREJUDICAR TRABALHO REALIZADO
O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, afirmou que tem conversado diariamente com o pessoal da Defesa Civil e das Forças Aramadas, que estão fazendo o salvamento. “Ninguém aguenta mais essa onda organizada e de forma industrial de disseminação de notícias falsas”.
“Parte da energia que estamos usando para desmentir essa ação organizada e criminosa nós poderíamos utilizar para salvar vidas, ajudar no abastecimento e pensar em coisas urgentes. Cada hora surge uma nova fake news. Espalharam de forma criminosa que o país estaria negando auxílio de outros países. Vocês realmente acham que teria sido negado algum apoio oferecido a nós e que pudesse ser fundamental nesse momento?”, questionou Paulo Pimenta.
“Isso tem como objetivo tirar o foco do nosso trabalho. Por isso tem que acionar a Polícia Federal e a AGU [Advocacia Geral da União] para identificar os disseminadores de fake news e tratá-los como criminosos, já que prestam um desserviço à sociedade em uma hora na qual todos estão trabalhando juntos.Não temos problema algum com o governador [Eduardo Leite] e com a equipe dele. Trabalhamos de forma muito harmônica. (…) Estamos incentivando as pessoas a denunciarem as fake news. Estou convencido de que é uma ação organizada para tirar nossa capacidade de trabalho e prejudicar o que está sendo feito pelas Forças Armadas”, afirmou.
O pediu para que a investigação identifique os autores e citou que há parlamentares e influenciadores envolvidos em disseminação de notícias falsas. A Polícia Federal (PF) informou que abriu o inquérito a pedido do governo federal.
Pimenta afirmou que os conteúdos falsos fazem com que pessoas fiquem com medo de sair das casas e ainda prejudica as informações repassadas pelo governo.
“São vários tipos de denúncias. As pessoas estão exaustas e boa parte da energia que poderia ser utilizada para salvar gente está sendo utilizada para desmentir essas mentiras que são divulgadas de forma industrial”, comentou o ministro a jornalistas.
O Rio Grande do Sul já contabiliza mais de 107 mortos e mais de 130 desaparecidos por conta das chuvas. Há 395,6 mil pessoas fora de casa. Desse total, são 68,5 mil em abrigos e 327,1 mil desalojados (pessoas que estão nas casas de familiares ou amigos).