Na semana passada 18 trabalhadores foram resgatados de trabalho em condições degradantes na fazenda Córrego das Almas, na cidade de Piumhu, interior de Minas Gerais, por auditores do Ministério do Trabalho. A fazenda possuía os selos de qualidade da UTZ, o mais importante da produção do café, e da C.A.F.E Practices, do Starbucks em parceria com SCS Global Services.
Os trabalhadores foram encontrados em alojamentos coletivos infestados de ratos e morcegos e sem água potável. O grupo resgatado relata que era comum encontrar morcegos mortos na caixa d’água, que não possuía tampa, e que essa era a única água que tinham para cozinhar e beber. Os auditores relatam que a situação de saneamento era tão precária que colocava em risco a saúde dos trabalhadores.
Na fazenda existiam placas com os dizeres “Não é permitido trabalho escravo ou forçado”, contudo, a realidade dos trabalhadores era completamente diferente. “A gente não recebia por feriado, domingo, nada. E trabalhava de segunda a sábado, sem marcação de horas. Durante a semana, entrava às 6h e só parava às 17h”, diz um dos trabalhadores resgatados.
Além das condições desumanas, o cúmulo da monstruosidade a que estavam submetidos, era o roubo do café que passavam o dia colhendo. “A gente colhia e eles deixavam para pesar no outro dia. Quando chegava lá, cadê o café? E aí tinha a humilhação: a gente ia reclamar e eles riam da nossa cara”, afirma um dos resgatados.
“Para receber o pagamento, a gente já tinha que pagar. Perdia dinheiro”. Eles explicam que para descontar o cheque que recebiam com o pagamento ou para comprar alimentos, tinham que pagar R$20 de um “ônibus clandestino” para ir até a cidade mais próxima da fazenda.
A UTZ confirmou ter feito auditoria na fazenda no mês de fevereiro deste ano, emitindo o certificado em abril. Após as denúncias, suspenderam o certificado e em nota afirmaram que “os direitos e bem-estar dos trabalhadores são da maior importância e são parte integrante do nosso padrão. Sempre que recebemos evidências confiáveis sobre violações em fazendas certificadas pela UTZ, tomamos medidas imediatas, o que inclui a realização de uma investigação profunda”.
A Starbucks disse que a fazenda Córrego da Almas, ou Fartura, como é conhecida na região, possui o certificado desde 2016, mas negou a compra de cafés da unidade. A empresa ressaltou que está iniciando um processo de investigação para a possível revisão do selo.
A SCS, parceira da Starbucks no selo C.A.F.E, disse que na época da certificação não havia qualquer indício de trabalho escravo na fazenda.
Jorge Ferreira dos Santos, coordenador da Articulação dos Empregadores Rurais de Minas Gerais (Adere-MG), afirma que o sistema de certificações atende a fins econômicos sem “levar em consideração a visão e a realidade dos trabalhadores”. “Não é a primeira, a segunda e não vai ser a última vez que uma fazenda certificada é denunciada na prática de trabalho escravo e violação de direitos trabalhistas”, completou.