Segundo Marinho, nesta reunião, Flávio disse a ele que tomou conhecimento de que haveria a Operação Furna da Onça. Apesar de admitir que se reuniram, o filho do presidente diz agora que não trataram deste assunto
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) confirmou, na segunda-feira (20), em depoimento ao procurador da República, Eduardo Benones, que participou do encontro, na casa de Marinho, mas negou que tenha havido “qualquer tipo de conversa por parte de Vitor Granado” sobre a operação da PF.
“Não teve vazamento. O senador nunca teve a informação de vazamento da Furna da Onça”, afirmou a advogada de Flávio, Luciana Pires, que substituiu às pressas Frederick Wassef, que foi afastado da função ao ser flagrado escondendo ilegalmente Queiroz e sua mulher por mais de um ano em sua casa de Atibaia, interior de São Paulo.
A denúncia do vazamento foi feita pelo empresário Paulo Marinho, ex-aliado do senador. Segundo Marinho, o advogado de Flávio, Victor Granado Alves, participou de um encontro com um delegado da PF que vazou as informações sigilosas da operação Furna da Onça. O encontro entre Granado e o delegado aconteceu na porta da Superintendência da PF, no Rio de Janeiro, uma semana depois do primeiro turno da eleição de 2018.
Segundo Marinho, Flávio o procurou na época para pedir ajuda. Neste momento, Flávio foi orientado a afastar Queiroz de seu gabinete e sua filha do gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro. Os dois foram exonerados.
O advogado Victor Granado Alves também já havia admitido que participou de uma reunião com Flávio e Paulo Marinho na residência deste nesta mesma época citada por Marinho, mas alegou que estava ali na condição de advogado e que, por isso, tinha direito ao sigilo profissional.
Victor Alves é ligado a Flávio Bolsonaro há muitos anos. Ele foi convocado pelo MP-RJ a depor, mas não compareceu. Após a recusa, o MPF converteu sua condição de testemunha na de investigado. Em habeas corpus concedido no sábado (18), o desembargador argumentou que o sigilo profissional dos advogados é inviolável.
Só que ao argumentar a favor do HC, o juiz federal Paulo Espírito Santo, do TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região) acabou comprometendo Victor Granado Alves. Segundo o magistrado, Alves foi chamado para o encontro com o delegado da PF na condição de advogado de Flávio Bolsonaro, com quem tinha uma relação de confiança.
A afirmação confirma o encontro do advogado com o policial federal que teria, segundo Paulo Marinho, vazado infrmações sigilosas sobre a Operação Furna da Onça. De acordo com Paulo Marinho, o vazamento da operação ocorreu entre o primeiro e o segundo turnos das eleições de 2018.
O procurador Eduardo Benones afirmou que as principais testemunhas do caso foram ouvidas e que a próxima etapa da investigação será ouvir policiais federais, agentes e delegados que participaram da operação e tiveram acessos aos documentos da ação. Pelo direito ao foro privilegiado, Flávio Bolsonaro fez o depoimento por vídeo conferência de seu gabinete no Senado.
A advogada Luciana Pires confirmou que Flávio Bolsonaro se lembra da reunião na casa de Paulo Marinho. Luciana disse que, na ocasião, o senador estava procurando um advogado e que o encontro não vazou o contexto da Furna da Onça.
“Tem um ano e meio isso. Ele [Flávio] se lembra que teve uma reunião na casa do Paulo Marinho junto com o advogado dele, Victor, o advogado Christiano Fragoso, para procurar um advogado para ele. Nessa época, já estavam protagonizando a questão do Queiroz e ele queria um advogado para se defender. Não era para vazamento de Furna da Onça nem para Queiroz, nada nesse sentido”, afirmou a advogada.
“Eu não falei mais com ele [Paulo Marinho]. Ele está no projeto dele. Ele está mais interessado na minha vaga do Senado do que tomar conta da própria vida. Ele é pré-candidato a prefeito do Rio pelo PSDB. As pessoas têm que entender que na vida política tem que ser pelo próprio mérito, não querendo tacar pedra nos outros. Eu vou continuar trabalhando muito pelo Rio. Isso é página virada. Espero que o Ministério Público do Rio e a Polícia Federal tomem providências depois com relação a essas mentiras que ele inventou”, afirmou o senador ao deixar o Senado, após o depoimento.
Segundo o procurador Eduardo Benones, Flávio Bolsonaro confirmou que participou do encontro, na casa de Marinho, mas negou que tenha havido “qualquer tipo de conversa por parte de Vitor Granado” sobre a operação da PF.
“Em relação ao depoimento do senhor Paulo Marinho, embora ele [Flávio] afirme que tenha estado nessa reunião do dia 13 de dezembro na casa do senhor Paulo Marinho, mas ele negou fundamentalmente que tenha havido qualquer tipo de conversa por parte do senhor Vitor Granado. Ele contradisse o senhor Paulo Marinho. Essa é a parte do Paulo Marinho falando sobre esse suposto vazamento da Operação Furna da Onça”, disse Benones.
Luciana Pires reafirmou que as falas de Paulo Marinho são uma “invenção espetaculosa” e que o empresário não apresentou provas que sustentassem seu depoimento. Ela disse ainda que se Flávio Bolsonaro soubesse previamente da operação, não teria apoiado a candidatura de um dos alvos, André Corrêa, à presidência da Alerj. “Ele [Flávio] explicou ao procurador da República que ele apoiava o deputado André Corrêa na época à presidência da Assembleia Legislativa e que se ele soubesse de algum vazamento da Furna da Onça, ele, obviamente, não apoiaria um alvo da Furna da Onça”, apontou a advogada.
O estranho argumento arranjado pela advogada é o de que Flávio não apoiaria alguém que foi alvo da Operação Furna da Onça. Esta operação investigava esquemas de desvio de dinheiro público por deputados estaduais. Dez deles foram presos. Flávio é investigado exatamente porque seu nome e o de Fabrício Queiroz, seu ex-assessor, aparaceram num relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) com movimentações financeiras suspeitas de lavagem de dinheiro.
Depois foi confirmado que até a milícia do Rio das Pedras, chefiada pelo pistoleiro Adriano da Nóbrega, lavou dinheiro no gabinete de Flávio. Então, esse argumento não se sustenta. Afinal, seria perfeitamente natural que Flávio apoiasse outro lavador de dinheiro para a Presidência da Assembleia Legislativa do Rio.