O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, considerou como “terroristas” os ataques criminosos que ocorrem no Rio Grande do Norte há uma semana. A declaração foi dada durante entrevista coletiva em visita ao Rio Grande do Norte nesta segunda-feira (20).
O ministro desembarcou na noite de domingo (19) em Natal. Desde o dia 14, o estado enfrenta uma crise na segurança pública, com mais de 252 ataques contra a população, prédios públicos, comércios e veículos.
“Legalmente há um debate sobre a Lei de Terrorismo, mas na minha ótica sim, se enquadram (atos terroristas), mas o Supremo ainda vai decidir isso”, disse o ministro.
Desde a última semana, os ataques de criminosos, que ocorrem de forma orquestrada, têm como alvos ônibus, carros de prefeituras, unidades de saúde, supermercados e prédios públicos. O governo federal realizou o envio de tropas da Força Nacional para o Estado além de mais R$ 100 milhões em investimentos para reforçar a segurança no Rio Grande do Norte ainda em 2023.
Os recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública serão destinados ao complexo da Polícia Civil, ao regimento de cavalaria da Polícia Militar e à polícia científica do Rio Grande do Norte.
“Estamos assumindo os custos de obras [previstas] para a polícia científica. Essas despesas serão assumidas pelo governo federal. Dessa forma, vamos liberar o governo estadual para fazer investimentos em viaturas e armas”, disse Flávio Dino durante a coletiva de imprensa, ao lado da governadora Fátima Bezerra.
Dino garantiu que os recursos são “dinheiro novo”. “Em acréscimo ao que já estava disponível ao estado”, afirmou.
A expectativa é que com a nova verba seja possível ampliar os investimentos em penitenciárias e dobrar o número de viaturas alugadas, além de adquirir veículos, câmeras para uso de policiais e aparelhos de raio-x.
Ao chegar ao estado, Dino informou que pelo menos 700 policiais de várias forças federais já foram enviados ao Rio Grande do Norte e que o uso do mecanismo da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que inclui a convocação das Forças Armadas, não foi cogitada até o momento.
“Se for necessário GLO, quem vai pedir é a governadora [Fátima Bezerra], e claro que vamos atender. Ou seja, não há uma posição ideológica, nem no sentido de fazer amanhã, nem no sentido de rejeitar. Isso é uma decisão técnica”, disse em sua chegada ao Rio Grande do Norte.
Pelo menos 51 cidades do Rio Grande do Norte foram alvos de ataques criminosos em uma semana. O terror começou na madrugada de terça-feira (14), quando prédios públicos e privados foram depredados, veículos incendiados e moradores das regiões ficaram em estado de pânico.
Os ataques começaram na madrugada do dia 14 de março, quando ao menos 20 cidades foram alvos de destruição. No primeiro dia, um fórum de Justiça, duas bases da Polícia Militar, a sede de uma prefeitura e outros prédios públicos foram alvos.
Veículos foram incendiados, incluindo ônibus do transporte público. Nos dias seguintes, mesmo com a segurança reforçada, os ataques continuaram. Mais de 130 pessoas foram presas suspeitas de envolvimento nos ataques.
AUMENTO DO EFETIVO POLICIAL
O ministro Flávio Dino afirmou que o governo federal pode enviar mais 800 policiais ou “quantos o Rio Grande do Norte precisar” para auxiliar na segurança pública do estado.
Até o momento, segundo o ministro, o governo federal já fez o envio de aproximadamente 700 policiais para o Rio Grande do Norte, em um investimento que já ultrapassa os R$ 5,3 milhões.
“Se houver uma necessidade adicional, o que nós não acreditamos, esses 700 poderão virar 1.000, 1.200, 1.500, ou quanto o Rio Grande do Norte precisar. Nós não economizaremos no que é o principal, que é a paz social de um estado tão importante”, afirmou Dino.
ATAQUES
O Rio Grande do Norte registrou novos ataques criminosos entre a noite do último domingo (19) e madrugada desta segunda, sétimo dia desde o início da onda de violência contra prédios públicos, comércios e veículos no estado. A polícia também prendeu suspeitos.
Os novos casos aconteceram em Natal e cidades do interior do estado. Segundo a polícia, as ações são comandadas por uma facção criminosa. Até o domingo, o governo do estado registrou oficialmente 284 ataques.
Por volta das 3h desta segunda, criminosos jogaram um coquetel molotov em um pátio do Comando de Policiamento Rodoviário Estadual (CPRE) de Currais Novos, no Seridó potiguar, onde são guardados veículos apreendidos e destinados a leilão. A garrafa com combustível atingiu o para-brisa de um ônibus da PM, mas o fogo não se espalhou.
Em Grossos, interior do estado, criminosos atiraram várias vezes contra a fachada da Câmara Municipal de Vereadores, por volta das 4h. Várias balas foram encontradas em frente ao prédio, que ficou com a porta de vidro destruída. Por causa do ataque, o expediente foi suspenso por tempo indeterminado.
Em Natal, criminosos tentaram incendiar uma base da Polícia Militar localizada no bairro de Neópolis, na Zona Sul da capital. Criminosos jogaram um coquetel molotov contra a entrada do prédio. A porta e a janela ficaram manchadas pela fumaça, mas as chamas não se alastraram.
Criminosos também tentaram incendiar uma garagem de ônibus na Zona Leste de Natal, mas nenhum veículo foi atingido. Outro crime registrado foi uma tentativa de incêndio a dois ônibus em Mossoró, na região do Oeste potiguar.
Na noite de domingo, três homens foram flagrados em cima de uma caixa d’água em Parnamirim, na Grande Natal. Segundo a polícia, os suspeitos se esconderam no local ao perceberem a aproximação da polícia, mas foram localizados.
Na mesma cidade, a polícia ainda registrou uma tentativa de incêndio em uma garagem de ônibus e impediu o arrombamento de uma escola municipal. Segundo a polícia, os criminosos fugiram com a chegada dos militares. Dois homens foram presos pela Polícia Civil com oito coquetéis molotov.