Filho diz que texto que assinou assumindo a culpa do assassinato foi copiado de uma carta que tinha a letra e a assinatura dela
Na sexta-feira (18), em depoimento no julgamento do caso, no Fórum de Niteroi, a deputada federal Flordelis (PSD) admitiu que sabia da existência de um plano para matar o pastor Anderson do Carmo.
A deputada federal é acusada de ter sido mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, morto com mais de 30 tiros, na garagem de sua casa, em junho de 2019.
Com essa versão, Flordelis tenta se livrar da acusação de ter mandado executar o pastor, jogando nas costas dos filhos a responsabilidade.
Flordelis afirmou no interrogatório que um de seus filhos adotivos, Lucas dos Santos, mostrou uma mensagem de texto para ela, que foi recebida do próprio celular da deputada, pedindo que ele matasse Anderson.
Segundo a parlamentar, a mensagem foi enviada por uma de suas filhas afetivas, Marzy, e alegou ainda que todos na casa tinham acesso a seu celular. No entanto, a pastora não mencionou a data em que o episódio teria ocorrido. Lucas e Marzy estão presos acusados de envolvimento no assassinato. Flordelis só não foi presa porque tem imunidade parlamentar.
A parlamentar também negou que tenha responsabilidade pelo envio da mensagem ou por pedir que a filha entrasse em contato com Lucas, pedindo que este matasse o pastor Anderson. Além disso, Flordelis disse que contou ao marido sobre a mensagem e pediu que Anderson procurasse uma delegacia de polícia.
“A primeira pessoa que mostrou essa mensagem ao meu marido fui eu. Pedi para ir a uma delegacia. Ele sentou comigo e falou que ele resolveria, pois não queria exposição com o nome dele”, disse Flordelis.
Mas, em depoimento nesta mesma sexta-feira, Lucas Santos, filho adotivo de Flordelis e um dos réus no processo que julga o assassinato do pastor, deu sua versão, em depoimento na 3ª Vara Criminal, no Fórum de Niterói.
Ele contradisse Flordelis e relatou que é falsa a carta que escreveu de próprio punho, dentro da cela, confessando que foi o assassino do pastor a mando de Wagner Andrade Pimenta, conhecido como Misael, e Luan Santos.
Segundo disse em depoimento, o conteúdo da carta é falso. Ele contou que recebeu uma carta de Flávio, filho biológico de Flordelis que também está preso acusado pelo crime, com o texto que deveria copiar de próprio punho e assinar.
De acordo com Lucas, o conteúdo da carta que recebeu tinha a letra de Flordelis e a assinatura dela.
“O Flávio que me orientou a copiar essa carta e ela foi entregue a mim pelo policial Marcos Siqueira, que também estava preso na mesma ala do Bangu 9. Ele era o faxina da ala e tinha acesso às celas. Ele me entregou a carta por orientação do Flávio e ficou de buscar depois que eu copiasse”, disse Lucas.
O advogado Ângelo Máximo, assistente de acusação, afirmou que esta foi a terceira vez que Lucas Santos negou o conteúdo da carta. Para Máximo, a negativa somada à afirmação de que o teor da carta original tinha letra e assinatura de Flordelis é uma das provas que apontam a participação da pastora como mandante do crime.
O julgamento terminou por volta de 19h. E será retomado no dia 22 de janeiro. Ao deixar o Fórum, Flordelis alegou inocência: “Eu só quero a verdade e ela vai aparecer nessa história, nem que eu tenha que buscar ajuda no exterior. A mais prejudicada nisso tudo fui eu, que perdi um marido, um amigo, um parceirão, um articulador”, disse Flordelis, referindo-se ao pastor Anderson do Carmo.
O advogado Ângelo Máximo leu uma carta, na saída, pedindo o fim da imunidade parlamentar de Flordelis. Ela é tutelada com tornozeleira eletrônica, mas não teve o mandato cassado e segue em liberdade.
“A omissão da Câmara em retirar o véu de proteção da deputada, impedindo a aplicação da lei, e do Poder Judiciário, traz uma consequência grave: o descrédito do Poder Legislativo. Porque lá é a casa do povo. E existe a consequência da consequência, pois quando a população deixa de acreditar na República, a própria democracia que é desacreditada. Estou me sentindo desacreditado com a casa legislativa”, assinalou o advogado.