Os funcionários da Mina Córrego do Sítio (CDS), da AngloGold Ashanti, em Santa Bárbara (MG), foram evacuados às pressas devido ao alto risco de rompimento da barragem. Com fendas profundas densas que se abriram com as chuvas na região, a base da barragem sofre grave risco de romper.
Se os mais de 80 metros de detritos da chamada Pilha do Sapê romper, uma tragédia pode ser provocada como a de Brumadinho e até mesmo cortar o abastecimento de mais de 25 mil pessoas.
Mesmo com as garantias da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais (Cedec-MG) de que vem recebendo informações da AngloGold Ashanti sobre a estabilidade da Pilha de Sapé, que estoca rejeitos da empresa na Mina Córrego do Sítio, ela se encontra repleta de erosões em seus taludes e base.
A AngloGold afirmou que fiscais do meio ambiente estiveram na mina na última semana. A Prefeitura de Santa Bárbara, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e a Agência Nacional de Mineração (ANM) ainda não confirmaram fiscalizações e não divulgaram informações para a população.
No complexo CDS1 da porção oeste da mineradora não há mais trabalhadores da empresa. Tudo que ficava abaixo da Pilha de Sapê foi redirecionado, evacuado e transferido para a planta CDS2, 7,5 quilômetros a leste.
A proximidade dos funcionários com o perigo se mostrou semelhante ao que se tinha na Mina Córrego do Feijão em Brumadinho, onde 270 pessoas morreram, em 2019.
Na estrutura, a sombra da pilha minada pela água estão áreas de trabalho que eram ocupadas e intensas, como o escritório central, a 260 metros da estrutura, os alojamentos e refeitórios (290 metros), os tanques onde trabalhadores afirmam estar estocadas misturas com cianeto que é tóxico para animais e o ser humano (322 metros) e a portaria do complexo (600 metros).
Encaixada na calha do Rio Conceição, a devastação dos rejeitos da mineração de ouro e seus possíveis contaminantes teriam um caminho de 10 quilômetros para chegar até a estrada que leva ao Santuário do Caraça, um importante ponto turístico da região.
São apenas 500 metros para saltar do Rio Conceição e chegar até o Ribeirão do Caraça, em vários pontos mais baixos que o manancial carregado de rejeitos. Com isso, a comunidade, os ambientalistas e os especialistas temem que ocorra uma contaminação do Ribeirão do Caraça, que é a principal fonte de abastecimento do município de Santa Bárbara, chegando às torneiras de cerca de 25 mil pessoas.
SOLUÇÕES IMEDIATAS
Especialistas em mineração afirmam que a fiscalização deve ser imediata, bem como a publicidade sobre problemas e soluções para a sociedade.
“Os problemas vistos na estrutura são nítidos, e as correções são urgentes. O poder público não pode depender apenas de informações da empresa, principalmente com o histórico de tragédias em Minas Gerais. As pessoas precisam ter uma resposta”, afirma o professor Carlos Barreira Martinez, do Instituto de Engenharia Mecânica (IEM) da Universidade Federal de Itajubá (Unifei).
“No passado, os problemas com barragens e estruturas da mineração eram vistos como pontuais. Com poucas ocorrências, mas que se intensificaram e já acometem estruturas como as pilhas. Por isso, a fiscalização e o monitoramento não podem ser como antes, nem o poder público se ater a receber informações das empresas. É preciso agir e se modernizar”, observa Bruno Milanez, especialista em economia da mineração.
Para o professor Martinez, um dos obstáculos para a estabilização da pilha é a necessidade de se esperar a estiagem para intervir. “Mas, certamente, a empresa tem ótimas consultorias especializadas que podem e vão trazer soluções de engenharia. Não é possível comentar mais a fundo, pois não estive no local”, afirma.