O futuro ministro da Educação, o colombiano Ricardo Vélez-Rodriguez, disse em entrevista na segunda-feira que será “ótimo” que Bolsonaro veja as provas do Enem antes de serem aplicadas aos estudantes. “Se o presidente se interessar, ninguém vai impedir. Ótimo que o presidente se interesse pela qualidade das nossas provas”.
Vélez-Rodriguez referia-se às afirmações de Bolsonaro logo após o exame do Enem este ano. Bolsonaro fez críticas a questões da prova, e disse que ao assumir iria ver o conteúdo antes da realização do exame e que não permitiria a inclusão de determinadas questões.
Sobre o Enem, Bolsonaro já havia dito em outro momento que, “Enem deve tratar sobre o que interessa” e que deve cobrar “conhecimentos úteis”. Resta saber o que seriam esses “conhecimentos úteis” ou o que “interessa” para Bolsonaro e seu ministro, defensores de projetos como o “Escola sem Partido”, que nada mais é do que a tentativa de cercear discussões em sala de aula, proibir posicionamentos políticos ou ideológicos e o pensamento crítico no ambiente escolar.
Um bom exemplo do que pode significar esses “conhecimentos úteis” e o que “interessa”, pode ser visto em propostas, ou seriam pensamentos profundos sobre educação, do futuro ministro: “O segundo grau teria como finalidade mostrar ao aluno que ele pode colocar em prática os conhecimento e ganhar dinheiro com isso. Como os youtubers, ganham dinheiro sem enfrentar uma universidade. Nem todo mundo quer fazer uma universidade. É bobagem pensar na democratização da universidade, nem todo mundo gosta”.
O exame do Enem, que esse ano teve cerca de 6 milhões de inscritos e dá acesso aos estudantes a 500 universidades públicas e privadas, é de responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao MEC.
Segundo a presidente do órgão, Maria Inês Fini, “o Inep tem uma diretoria específica de técnicos consagrados que, com a ajuda de uma série de educadores e professores universitários de todas as regiões do país, elaboram a prova”.
Outra questão que as declarações de Bolsonaro e Vélez-Rodriguez suscitam é quanto à segurança do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O atual ministro da educação, Rossieli Soares, disse na terça-feira que os procedimentos de segurança teriam que ser revistos, caso o presidente eleito queira ter acesso às provas antes de serem aplicadas.
“Nós entendemos, inclusive por questão de segurança das próprias autoridades, que cabe às equipes do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) fazerem a gestão da prova. Na nossa gestão, eu não olhei, e pelo que sei, outros ministros também não olharam. Falo de ministros, não falo nem de presidentes, que também não olharam a prova”, disse.
Ele explicou que a prova, após elaborada, fica em uma sala-cofre e só deixa o local para ser levada para a gráfica, escoltada por policiais federais. “Existe um processo, um procedimento, que precisará ser revisto para que isso aconteça [o presidente ter acesso à prova], mas caberá a eles a partir de 1º de janeiro”.