União Química entregou documentação para o pedido de uso emergencial do imunizante e aguarda a autorização para início da distribuição
Governadores de 18 estados e do Distrito Federal visitaram, nesta terça-feira (2), as instalações da farmacêutica União Química, no Distrito Federal, responsável pela produção da vacina russa, Sputnik V, no Brasil. Após a visita, os chefes de executivos estaduais defenderam a urgente liberação do uso do imunizante pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Além do imunizante propriamente, a União Química também produz o ingrediente farmacêutico ativo (IFA) Sputnik V. Neste momento, o IFA está sendo produzido para fins de teste, já que a Anvisa ainda não aprovou o imunizante para que seja viabilizada a fabricação em escala comercial.
A Sputnik V é desenvolvida pelo estatal Instituto Gamaleya, de Moscou, possui uma eficácia comprovada de 91,6% e já vem sendo aplicada em 35 países. Apesar disso, a direção da Anvisa, chefiada pelo bolsonarista Barra Torres, atua para impedir a liberação do seu uso emergencial no Brasil.
A expectativa dos governadores é de que a União Química entregue até maio as primeiras doses do imunizante ao Brasil. Segundo o governador Wellington Dias (PT), que visitou a fábrica nesta terça-feira (2), serão 10 milhões de doses nos próximos três meses.
“O compromisso é de, com a autorização emergencial, entregar em março, abril ou maio, dez milhões de doses já contratadas com o Ministério da Saúde. Isso se soma a estratégia de garantir a vacinação do grupo de maior risco até maio”, disse o governador.
“Eles entregaram a documentação para a fase emergencial para ter aprovação emergencial da Anvisa. Acertamos o empenho para que a gente tenha, até a próxima semana, um posicionamento sobre essa aprovação”, afirmou o governador, que também é coordenador da temática vacina dentro do Fórum Nacional de Governadores (FNG).
Ainda de acordo com Welligton Dias, o objetivo é de chegar até julho com 70% da população vacinada. “Eles (União Química) entregaram a documentação já da fase 3 para pedido de autorização definitiva. Fizemos um pedido sobre o cronograma de produção. Foi dito que eles vão ter condição de, a partir de abril, produzir 8 milhões de doses por mês. Com base nisso, o que é possível contratar de entrega. O interesse é de chegar até julho com 70% da população vacinada”, declarou.
Técnicos do Ministério da Saúde já afirmaram que o contrato da Sputnik V está pronto, à espera apenas de que o governo assine. Se autorizado, 10 milhões de doses prometidas para março chegarão prontas da Rússia para atender ao Programa Nacional de Imunização.
“Isso se soma à estratégia de garantir a vacinação do grupo de maior risco até [no máximo] o mês de abril, início de maio”, disse Wellington Dias. O governador acrescentou que a União Química deve apresentar, até a próxima semana, ao Fórum de Governadores um cronograma para a produção própria da Sputnik V.
“Com base nisso [queremos saber] o que é possível, além do que já está contratado, o que é possível acrescentar de entrega entre abril e julho para que, com isso, a gente possa estar com mais vacinas para mais cedo imunizar os brasileiros”, destacou na saída da visita.
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, participou da visita à fábrica da União Química. Ele participou de reunião com o CEO da União Química, Fernando Marques, e o diretor de Negócios Internacionais da empresa, Rogério Rosso, além do embaixador da Rússia no Brasil, Sergey Akopov.
“A documentação da Sputnik V foi entregue à Anvisa e, havendo autorização, já deveremos ter, a partir do mês de abril, a fabricação desse imunizante no Brasil. Isso vai nos ajudar a acelerar o processo de vacinação da nossa população, juntamente com a produção dos laboratórios Butantan e Fiocruz, para termos mais opções de vacinas. Até porque, a quantidade de vacinas, hoje, ainda está bem aquém do necessário para garantirmos uma cobertura satisfatória para a população brasileira”, afirmou Paulo Câmara após o encontro.
Para Renato Casagrande (PSB-ES), a iniciativa do Fórum dos Governadores deve pressionar o Ministério da Saúde a acelerar a compra dos imunizantes.
“Se for preciso, nós compraremos. O Ministério da Saúde está dizendo que não será preciso, que vão comprar todas as vacinas. Mas os governadores já se colocaram todos à disposição, se for preciso nós compraremos e colocaremos no Programa Nacional de Imunização (PNI) para poder adiantar o cronograma. Mas o ministério dizendo que vai comprar todas as vacinas, para nós está tudo certo”, disse Renato Casagrande.
APROVAÇÃO EMERGENCIAL
Segundo Fernando Marques, presidente da União Química, após a autorização para o uso emergencial, o passo seguinte será o envio de 10 milhões de doses do imunizante da Rússia ao Brasil.
“Dia 8, o IFA segue para Moscou, para a certificação e aprovação. Então, pediremos inspeção da Anvisa na Bthek (fábrica da União Química que produz o IFA no DF) para começar o processo industrial do IFA no Brasil”, explicou.
“O governo russo nos arrumou 10 milhões para esse início do processo. Isso só está dependendo do uso emergencial da Anvisa para a gente poder trazer esses 10 milhões e aí começar a produção local”, completou Fernando Marques.
Ainda conforme o presidente da empresa, após uma eventual aprovação da Anvisa, a previsão da União Química é entregar, a partir de abril, 8 milhões de doses por mês ao PNI. “A nossa ideia é que os governadores que estão todos correndo atrás de vacina recebam pelo Programa Nacional de Imunização”, declarou o presidente do grupo farmacêutico.
CONGRESSO
Além da visita à fabrica da União Química, os governadores se reuniriam ainda nesta terça com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para tratar da gestão da pandemia.
Wellington Dias (PT) disse após uma reunião com a União Química que a farmacêutica entregou os documentos para obter autorização para uso emergencial junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Aqui acertamos para ter um empenho tanto do lado da União Química, com a Sputnik, com o apoio do Ministério da Saúde, com a Anvisa, para que a gente tenha as condições de até a próxima semana ter posicionamento dessa aprovação por parte da Anvisa”, afirmou Dias.
20 MILHÕES DE DOSES
Os governadores do FNG atuarão em consórcio para comprar doses da vacina russa enquanto o governo federal tarda em fechar o contrato sob a argumentação da falta de registro no Brasil. Para os governadores, é preciso se adiantar as burocracias. Somente o Estado de São Paulo irá adquirir 20 milhões de doses do imunizante, segundo informou nesta terça-feira o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
“Muitos governadores estão neste exato momento visitando a União Química em Brasília fazendo a opção de compra da vacina Sputnik, inclusive São Paulo, nosso secretário da Saúde, Jean Gorinchteyn, está lá nos representando e já com a deliberação para compra de 20 milhões de doses da vacina Sputnik”, disse Doria em São Paulo, onde acompanhou a vacinação em um drive-thru no estádio do Morumbi.
“Os demais Estados que também estão visitando, todos eles farão suas opções de compra de forma consorciada para que no volume tenhamos um preço menor e cada Estado faz a sua aquisição junto à União Química”, acrescentou Doria.
O Instituto Butantan, vinculado ao governo do Estado de São Paulo, está envasando em suas instalações doses da CoronaVac, vacina contra Covid-19 do laboratório chinês Sinovac que já está sendo aplicada na campanha nacional de vacinação contra a Covid-19.
O Butantan totalizará até agosto a entrega de 100 milhões de doses do imunizante ao Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde. Há possibilidade de mais 30 milhões de doses até o final do ano, nos quais a pasta já mostrou interesse, mas cuja venda Doria condicionou ao fim da cláusula contratual de exclusividade do Butantan com o Ministério.
Além disso, Doria disse que autorizou o Butantan a comprar mais 20 milhões de doses da CoronaVac para serem aplicadas em São Paulo. Nesta semana, o governador disse que o Estado irá comprar doses de outras vacinas caso o Ministério da Saúde não haja para suprir a necessidade de vacinas.