O contrato para a compra da vacina indiana Covaxin foi fechado pelo governo de Jair Bolsonaro por um preço 50% mais alto do que o valor inicial da oferta, que era de US$ 10 por dose.
O acordo, fechado em 25 de fevereiro deste ano, prevê pagamento de US$ 15 a unidade. Segundo informações divulgadas pela Agência Estado, documentos do Ministério da Saúde mostram que o preço subiu no meio das negociações.
A primeira reunião técnica do ministério com o fabricante da vacina (o laboratório Bharat Biotech) e representantes da Precisa Medicamentos, que intermediou o contrato, ocorreu em 20 de novembro. O valor do imunizante informado no documento intitulado “Memória do Encontro” foi de US$ 10, com a possibilidade de o preço baixar a depender da quantidade de doses que o governo comprasse.
“O valor da vacina é de US$ 10 por dose, que, em razão de eventual aquisição de montante elevado de doses, o valor poderia vir a ser reduzido e estaria aberto à negociação”, diz o documento do Ministério da Saúde, que foi enviado à Câmara em resposta a um requerimento de informação da deputada Adriana Ventura (Novo-SP).
O acordo, fechado três meses depois, prevê que o Brasil pagaria R$ 1,614 bilhão por 20 milhões de doses. A negociação sairia por R$ 538 milhões a menos se o preço inicialmente ofertado tivesse sido mantido.
A reunião com representantes da Bharat Biotech e Francisco Maximiano, sócio da Precisa, foi comandada pelo coronel da reserva Elcio Franco, secretário-executivo do Ministério da Saúde durante a gestão do general Eduardo Pazuello.
Como “número 2” da Pasta, ele foi responsável pelos principais atos do órgão no enfrentamento à pandemia, como negociações para compras de vacinas.
A primeira vez que o valor de US$ 15 por dose aparece nas tratativas é em um e-mail de V. Krishna Mohan, diretor executivo da Bharat Biotech, a Élcio Franco, em 12 de janeiro.
Na mensagem, o diretor informou a intenção de vender 12 milhões de doses e dava um prazo de três dias para o governo brasileiro enviar uma carta de aceitação. A resposta, no entanto, só é enviada cinco dias depois, em que Franco reafirma o interesse. Não há qualquer registro de questionamento sobre o preço mais alto.
Diferentemente das demais vacinas, negociadas diretamente com seus fabricantes (no país ou no exterior), o contrato de compra da Covaxin foi intermediada pela Precisa.
A negociação da vacina indiana também foi a mais rápida até o momento, levando pouco mais de três meses, ante quase 11 meses do imunizante da Pfizer, por exemplo.