Isso aconteceu no auge da pandemia do coronavírus, com várias mortes no país
O ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, se reuniu com atravessadores que ofereciam vacinas que não existiam e até mesmo “luminária germicida”, mas ignorava emails da Pfizer, apontam informações obtidas pelo jornal Folha de S.Paulo.
As empresas golpistas tiveram acesso ao alto escalão do Ministério porque foram levadas por um aliado do governo ou por alguns militares da reserva.
O braço direito do então ministro, Eduardo Pazuello, se reuniu com pelo menos oito empresas ou representantes que ofereciam as vacinas CoronaVac, AstraZeneca e Covaxx, mesmo que as farmacêuticas que as produziam já tivessem falado publicamente que não vendiam por atravessadores.
No dia 20 de janeiro, Elcio Franco recebeu representantes da Ample Develop, que oferecia 100 milhões de doses da CoronaVac.
Naquele momento, o Instituto Butantan já tinha fechado um contrato de exclusividade com o laboratório que produz o imunizante.
A empresa oferecia a vacina “com pagamento parcelado ou pagamento futuro, com até 5 anos para pagar, dependendo do quantitativo contratualizado”.
Cinco dias depois, o secretário-executivo do Ministério da Saúde se reuniu com Henry Morita, que se identifica como “ex-operações especiais do Exército”, que oferecia as vacinas AstraZeneca, que seriam importadas pela Davati e Covaxx.
A Davati está sendo investigada pela CPI da Pandemia por ter negociado com funcionários do Ministério da Saúde uma propina de US$ 1 por dose.
No dia 27 de janeiro, Elcio Franco se encontrou com a Alloy Iluminação, em uma reunião que foi intermediada pelo coronel Ricardo Mazzon. A empresa prometia uma “luminária germicida” que seria capaz de “exterminar o COVID-19, assim como outros vírus e bactérias presentes no seu ambiente!”, segundo a própria empresa em suas redes sociais.
Contatada pela Folha, a Alloy não quis explicar sua reunião com o Ministério. O coronel Mazzon disse ao jornal que não iria falar com a mídia “esquerdista e lazarenta”.
No mesmo mês, no dia 29, Elcio Franco assinou uma ordem de que todas as ofertas de vacinas deveriam passar pela Secretaria-Executiva do Ministério.
Em fevereiro, Franco teve uma reunião com executivos das empresas Biomedic e Adexmed, que diziam ter acesso a 300 milhões de doses da AstraZeneca. A farmacêutica negou contato com as empresas e reiterou que só negociava diretamente com governos.
Ao mesmo tempo, membros do Ministério já estavam negociando com a Davati, com a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) e com o Instituto Força Brasil (IBF) para comprar doses superfaturadas de AstraZeneca.
Ainda em fevereiro, o deputado federal Charlles Evangelista (PSL-MG) levou até o Ministério da Saúde uma empresa que tinha, segundo a pauta da reunião, interesse em conseguir uma “carta de intenções” sobre a vacina Sinopharm. O deputado não quis dizer em favor de qual grupo ele atuou.
Em março, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, gravou um vídeo ao lado de executivos e representantes da World Brands, que diziam ter acesso a doses da CoronaVac. A empresa ofereceu 30 milhões de doses pelo triplo do preço do Instituto Butantan.
O ex-secretário-executivo Elcio Franco também se reuniu com representantes de uma empresa chamada Uptime para conversar sobre a vacina Covaxx. O Ministério da Saúde ainda teve contato com a Huzza Alpha, que oferecia, como atravessadora, 40 milhões de doses da AstraZeneca.
Ao todo, foram pelo menos 13 reuniões entre o Ministério da Saúde e empresas atravessadoras, que queriam tirar uma parte da venda como lucro ou simplesmente aplicar um golpe.
Ao mesmo tempo em que faziam essas reuniões, o governo Bolsonaro estava deliberadamente ignorando a farmacêutica Pfizer, que oferecia 100 milhões de doses de sua vacina desde a metade de 2020.
Segundo o vice-presidente da CPI da Pandemia, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a farmacêutica, que não estava usando nenhum atravessador para tentar negociar com o governo brasileiro, teve 53 emails ignorados.