Na data em que é comemorado o Dia Mundial da Vacinação, 17 de outubro, o Brasil se depara com mais uma crueldade do governo Bolsonaro. De acordo com dados levantados pelo grupo Observa Infância, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em média, uma criança com menos de 5 anos morre de Covid-19 a cada dois dias no país.
Entre 4 de setembro e 1° de outubro, 437 crianças foram hospitalizadas por complicações do vírus e 17 mortes entre menores de 5 anos foram registradas no período. Ou seja, crianças brasileiras morrem para uma doença que já existe vacina e que poderiam estar imunizadas, caso o governo federal comprasse os imunizantes.
De janeiro até 3 de setembro, a proporção de crianças internadas por complicações de Covid-19 era, em média, de 6,3%.
A pesquisa mostra que a curva de hospitalizações e de mortes pelo coronavírus vem diminuindo em todas as faixas etárias desde junho, mas entre crianças com menos de 5 anos é queda está mais demorada.
“Essas crianças continuam muito vulneráveis porque o vírus continua circulando. A vacina impede a manifestação das formas graves e boa parte dos óbitos, mas, ainda assim, o vírus circula. E a criança não vacinada tem sido, sim, impactada”, afirmou o pesquisador e coordenador do grupo, Cristiano Boccolini.
Uma parcela de crianças, que têm entre 6 meses e 2 anos e 11 meses, continua sem vacina contra a Covid-19. Atualmente, o país oferece doses da CoronaVac para crianças com mais de 3 anos e da Pfizer para aquelas que têm entre 5 e 11 anos.
Um mês depois da aprovação da Anvisa, o governo federal ainda não deu prazo para a chegada das doses e para o começo da vacinação com Pfizer em crianças de 6 meses a 4 anos.
GOVERNO PROTELA A COMPRA
Apesar dos dados divulgados sobre a baixa adesão à vacina pelas crianças e o elevado número de internações, o governo de Jair Bolsonaro protela a compra do imunizante da Pfizer, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser aplicada nas crianças dessa faixa etária, e dificulta os trâmites para utilização dos 35 milhões de doses já adquiridas.
Mais de um mês depois da Anvisa aprovar a aplicação de vacinas contra a Covid-19 da Pfizer em crianças entre 6 meses e 4 anos de idade, o Brasil segue sem previsão de quando a imunização vai começar.
Na semana passada, membros da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI), que assessora o Ministério da Saúde em temas de vacinação, recomendaram a aplicação da vacina da Pfizer em crianças a partir dos 6 meses. Em outros momentos, a pasta aguardou apenas o parecer desse grupo para anunciar o início da imunização, sem enviar o assunto para a Conitec.
ANVISA LIBEROU IMUNIZANTE HÁ MAIS DE UM MÊS
A Anvisa liberou o uso no dia 16 do mês passado. Desde então, o Ministério da Saúde não informou se vai incluir a vacinação na atual campanha de imunização contra a Covid-19 para o público.
Até dezembro, a Pfizer precisa entregar um “saldo” de cerca de 35 milhões de doses da última negociação com o governo federal. Parte dessas doses – ou a totalidade – poderia ser destinada para o novo público infantil, já que o contrato prevê o fornecimento de vacinas adaptadas ou para diferentes faixas etárias.
A Pfizer afirmou, em nota, que as entregas “dependerão das definições junto ao Ministério da Saúde”, mas não detalha as negociações por causa de “compromissos de confidencialidade”.
SEM PRESSA
A demora na inclusão da vacina repete o que ocorreu com a liberação das doses para a faixa de 5 a 11 anos: à época, o ministro Marcelo Queiroga (Saúde) convocou uma audiência e uma consulta pública para discutir a imunização infantil.
São necessárias aproximadamente 39 milhões de doses para contemplar a faixa etária de 6 meses a 4 anos. Tirando crianças de 3 e 4 anos, que também podem ser vacinadas com a Coronavac, o número de doses necessárias é menor: cerca de 21 milhões, em um cálculo aproximado.
A situação é semelhante ao que aconteceu com a CoronaVac. Para protelar a compra do imunizante, à época, o ministro Marcelo Queiroga (Saúde)usou de vários subterfúgios como convocação de audiência, consulta pública, sob o pretexto de discutir a vacinação infantil, entre outras desculpas.
Enquanto Jair Bolsonaro atrasava a compra do imunizante chinês, seus ministros atuavam para desestimular à vacinação infantil., inclusive com a produção de documentos oficiais com mentiras sobre os efeitos da vacina. Um dos documentos partiu do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, comandado à época por Damares Alves.
BOLSONARO MENTE
Enquanto as crianças brasileiras estão morrendo, Bolsonaro mente sobre suas ações para garantir a vacinação e salvar vidas. Além de propaganda na TV, até no debate da TV Band, na noite de domingo, o presidente usou para propagar a ideia de que ele trabalha pela vacinação.
Ao ser questionado sobre a compra de vacinas durante a pandemia de Covid-19, Bolsonaro (PL) afirmou que, no Brasil, “todos que quiseram tomar vacina tomaram”.
“Foi um dos países que mais vacinou no mundo”, disse Bolsonaro ao defender a atuação do seu governo durante a pandemia. Segundo ele, o governo disponibilizou mais de 500 milhões de doses.
O Brasil realmente é um exemplo na vacinação mundial. Mas isso acontece graças ao empenho do Sistema Único de Saúde e dos seus profissionais.