O maior aumento em 7 anos
A conta de luz pode ter um reajuste médio de 21% em 2022, conforme projeções da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Caso confirmado, esse pode ser o maior reajuste em 7 anos.
Segundo a Aneel, “nossas estimativas apontam para um cenário de impacto tarifário médio em 2022 da ordem de 21,04%”, diz o texto no qual o Estadão teve acesso. Considerando dados da própria agência, o reajuste acumulado neste ano só para o consumidor residencial chega a 7,04%, ou seja, o aumento projetado para o ano que vem praticamente triplica a alta de 2021. Em 2020, o aumento médio foi de 3,25%.
Os brasileiros – que hoje sofrem com o arrocho salarial e veem seu escasso poder de compra sendo corroído pela inflação – irão no ano que vem reviver a tormenta de 2015, chamada de “realismo tarifário”, que se deu após o governo Dilma permitir que os preços das tarifas saltassem em média 30,73% para acertar contas que tinham ficado em aberto nos anos anteriores junto às distribuidoras de energia.
O motivo para o tarifaço em 2022 está relacionado ao custo atual que o governo tem com o acionamento de fontes térmicas de energia para garantir o abastecimento na atual crise hídrica; situação que o governo nada fez para evitá-la, pois escassez de chuvas nos principais reservatórios do país não é novidade – ou seja – o governo deveria ter avançado em investimentos de energia mais barata, como eólicas, solares e até hidráulicas para não depender mais das térmicas, que são na sua maioria caras e poluentes.
Há meses, todas as plantas térmicas movidas a diesel, gás, biomassa e carvão do País operam a plena carga. Se a situação é de emergência hídrica, esse custo aumenta mais ainda. É por esta incompetência, que os consumidores de energia têm bancado, mensalmente, o custo pesado das chamadas “bandeiras tarifárias”.
Em julho, a tarifa vermelha patamar 2 foi reajustada em 52% e a cobrança subiu para R$ 9,49. Em setembro, entrou em vigor a bandeira “escassez hídrica”, que passou a acrescentar R$ 14,20, ou 49,6% a mais, na conta de luz para cada 100 kWh consumidos, e deve vigorar até abril de 2022.
A área técnica da agência reguladora concluiu que, até abril de 2022, as “melhores estimativas” apontam para um rombo de R$ 13 bilhões, “já descontada a previsão de arrecadação da receita da bandeira tarifária patamar escassez hídrica no período”. O acionamento das térmicas não é o único fator que explica o rombo financeiro do setor elétrico.
Outra fatura estimada em mais R$ 9 bilhões que será paga pelo consumidor tem origem nas contratações “simplificadas” de energia feitas pelo governo Bolsonaro no mês passado. Trata-se de uma “energia de reserva” que será entregue a partir de maio do ano que vem, para dar mais segurança e evitar o racionamento.
Os reajustes refletiram ainda o aumento da importação de energia, por meio de contratos firmados com Argentina e Uruguai.
Na prática, estes novos reajustes nas contas de energia devem pressionar ainda mais a inflação no próximo ano. Números recentes do IBGE apontam que a inflação oficial, medida pelo IPCA, subiu 10,67%, no acumulado em 12 meses até outubro, puxada principalmente – como já era esperado – pelos preços dos combustíveis e da energia elétrica, produtos cujos preços são administrados pelo governo federal.