Na esteira do desmonte que já vem sendo praticado na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos no intuito de privatizar uma das mais eficientes e lucrativas estatais brasileiras, o governo Bolsonaro quer tirar dos Correios a distribuição de livros didáticos para todo o Brasil.
A apresentação do projeto para abrir para empresas privadas a distribuição dos livros didáticos, que é feita pelos Correios desde 1994 para as 140 mil escolas públicas nos 5.570 municípios brasileiros, está marcado para acontecer nesta quarta-feira (31) com representantes de empresas do setor de entregas e o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).
A ideia é que os Correios também possam participar das licitações, dividindo com outras empresas a distribuição dos livros. A questão é que, como acontece na maioria das postagens, as empresas privadas têm dificuldades de atender regiões mais isoladas e até utilizam os serviços do Correios para atender a encomendas nessas localidades, o que certamente acontecerá com a entrega dos livros didáticos, ficando a parte “fácil” do serviço, os grandes centros, mais lucrativo em termos de logística, para as empresas privadas, e os rincões do país, o serviço não lucrativo, para os Correios.
A justificativa do governo para essa abertura ao mercado é tentar preços menores, mas segundo entidades que representam os trabalhadores dos Correios, e que lutam contra a privatização de uma estatal que dá lucro e ainda repassa boa parte desse lucro ao Tesouro, é que isso é mais uma estratégia de desmonte e esvaziamento que já vem ocorrendo, uma espécie de privatização aos pedaços, já que um projeto de lei que abre caminho para a privatização dos Correios já foi entregue pelo governo ao Congresso, em fevereiro.
No caso da distribuição de livros didáticos, até a atual direção da empresa, que desde a demissão por Bolsonaro do general Juarez Cunha obedece a cartilha privatista do Governo Federal, se manifestou contrária, afirmando em nota que apenas a estatal tem a “capilaridade e o compromisso social que podem atender essa demanda”.
A direção dos Correios cita que a distribuição do livro didático, diante da “geografia de um país continental”, envolve “uma série de variáveis” e “restrições em relação aos modais possíveis” de serem praticados.
A empresa pontua ainda que em 2002, a portentosa logística exigida na distribuição para todo o país das obras do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) teve reconhecimento internacional através do “World Post & Parcel Awards, o ‘Oscar’ dos correios de todo o mundo”.
“São 26 anos de conhecimento acumulado, diante de todas as variáveis que impactam a efetividade desse processo”, afirmou em nota a direção dos Correios.