“Apoio” do grupo bolsonarista de Aécio Neves a Eduardo Leite contra João Doria é manobra diversionista em prol de interesses do Planalto
Apesar dos dois pré-candidatos do PSDB à Presidência, João Doria e Eduardo Leite, terem se unido na oposição ao governo Bolsonaro, deputados ligados ao bolsonarista e réu por corrupção, Aécio Neves, têm contribuído para estruturar oportunisticamente a candidatura de Eduardo Leite nas prévias nacionais do PSDB. Rodrigo de Castro, Paulo Abi-Ackel e o ex-diretor de gestão corporativa do partido, João Almeida, são governistas e “colaboram” com Leite na disputa interna.
Rodrigo é o líder do PSDB na Câmara, enquanto Abi-Ackel preside o diretório mineiro do PSDB. Abi-Ackel foi o responsável pelo episódio que marcou o lançamento da candidatura de Leite. Ele foi o organizador do grupo de 14 parlamentares que foi a Porte Alegre almoçar com o governador gaúcho em 11 de fevereiro, dias após Doria defender o afastamento de Aécio do PSDB.
Tanto Leite quanto Doria se irmanaram à oposição democrática brasileira para barrar as ameaças de Bolsonaro ao regime democrático e suas tentativas de dar um golpe de Estado. João Doria foi, inclusive, mais além e chegou a participar ativamente da manifestação “Fora Bolsonaro”, na Avenida Paulista no último dia 12.
São, portanto, claramente oportunistas as manobras de bastidores de Aécio Neves e seus aliados bolsonaristas, ao estimularem a candidatura de Eduardo Leite, sem na verdade a apoiarem efetivamente. Eles estão, de fato, interessados, em se aproximar de Bolsonaro e facilitar a sua permanência no Planalto. Aécio já vem se aliando ao governo federal desde a disputa da presidência da Câmara, quando formou na chapa apoiada por Jair Bolsonaro.
João Doria foi um dos primeiros líderes do PSDB a redefinir a sua posição política e se colocar em oposição aberta ao governo federal. O governador de São Paulo bateu de frente com o negacionismo de Bolsonaro na questão do combate à pandemia e na aquisição de vacinas contra a Covid-19, sendo um dos principais responsáveis pelo início vitorioso da imunização da população brasileira. Eduardo Leite seguiu na mesma direção com o avançar das insanidades de Bolsonaro.
Bolsonaro foi às turras com as preferências do gaúcho. Recentemente, mais precisamente no dia 11 de setembro último, Bolsonaro voltou a agredir o governador Eduardo Leite durante a feira agropecuária Expointer, no Rio Grande do Sul. Na ocasião ele apontou para uma peça de salame produzida por um dos participantes da feira e, em mais uma de suas baixarias e piadas sem graça, disse, dirigindo-se à Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que aquela peça era “o salame do governador”.
As desavenças de Bolsonaro com João Doria já são de mais tempo. Desde o começo da pandemia, quando ficou clara a estratégia do Planalto era a criminosa imunidade de rebanho, ou seja, deixar a população se infectar e morrer com o coronavírus para, supostamente, adquirir imunidade, Doria se uniu firmemente ao mundo científico e à oposição e partiu para o ataque às posições obscurantistas de Bolsonaro. Doria se juntou aos demais chefes de executivos estaduais na formação de numa ampla frente de governadores que foi fundamental para derrotar a estratégia genocida e golpista de Bolsonaro.