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Segundo represente do Observatório que investiga atuação dos grupos, neonazistas “passaram a se sentir mais à vontade” após Bolsonaro assumir o poder
O Brasil é, atualmente, o país onde grupos de extrema direita mais crescem no mundo, revela uma pesquisa realizada pela ONG Anti-Defamation League (ADL). Os dados, divulgados pelo Observatório da Extrema Direita, que faz o monitoramento desses grupos em universidades brasileiras e de outros países, revelam também que São Paulo é o estado que apresenta maior presença de grupos extremistas de direita. Segundo informações do jornal O Globo, em um total de 137 células espalhadas pelo estado, 51 estão na capital paulista.
No país, o número de células extremistas ultrapassa as 530 unidades. Uma pesquisa da Universidade de Campinas (Unicamp) dividiu os estudos desses grupos em categorias. As pesquisas se basearam nas ideologias propagadas pelos integrantes. Assim, há grupos Hitlerista/Nazista, Negação do Holocausto, Ultranacionalista Branco, Radical Catolicismo, Fascismo, Supremacista, Criatividade Brasil, Masculinismo Supremacia Misógina e Neo-Paganismo racista. Em 2019, um estudo apontou 334 células presentes no país.
Os estudos apontam ainda que o aumento da presença desses grupos cresceu com a ascensão de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto em 2018. Hoje estima-se que 15% dos brasileiros são de extrema direita. Para o pesquisador Michel Gherman, membro do Observatório da Extrema Direita, professor de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Instituto Brasil-Israel, a eleição de Bolsonaro criou no Brasil uma “Disneylândia do neonazismo”, pois os que o defendem “passaram a se sentir mais à vontade”
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“Desde 2018, o Brasil se transformou no país com maior crescimento de grupos de extrema direita. Este fenômeno tem a ver com a eleição de Jair Bolsonaro que, num nível subterrâneo, está vinculado a estas ideologias”. “Hoje, estima-se que 15% dos brasileiros são de extrema direita”, completa Gherman.
Segundo o professor, apesar de muitos grupos já existirem antes de 2018, o que se observava era “algo periférico”, sem a legitimidade de agora. A opinião é respaldada por Karl Schuster, professor das Universidades de Pernambuco e Vigo, na Espanha: “Estas mais de 530 células ganharam autorização para aparecer. A pergunta fundamental não é se estes grupos são ou não fascistas, e sim por que eles trazem para si aspectos do fascismo histórico. O que eles ganham se aproximando desses discursos?”, questiona.
Nas manifestações pró Bolsonaro, no auge da pandemia em 2020, na Avenida Paulista, apoiadores do governo exibiram bandeiras pretas e vermelhas, com tradicional símbolo ucraniano, o mesmo adotado por grupos de extrema direita e também neonazistas. Na ocasião, entraram em confronto com integrantes das torcidas organizadas de clubes de futebol contrárias ao fascismo e em defesa da democracia, que também protestavam no local.
O movimento político ucraniano de extrema direita e ultranacionalista Pravyy Sektor, é conhecido por também adotar a bandeira com as cores preta e vermelha e o símbolo do tridente. Na Ucrânia, o grupo é conhecido por ações violentas e uma das principais organizações neonazistas atuando no país. Em outros países, ele é considerado simpatizante de neonazistas.
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Esta não foi a única vez que símbolos relacionados a movimentos neonazistas e de supremacistas brancos aparecem em movimentos de apoiadores de Bolsonaro.
A então defensora de Bolsonaro, Sara Winter, comandou, em junho de 2020, um ato contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Em Brasília, cerca de 30 participantes da manifestação foram até a sede do Supremo carregando tochas, vestindo máscaras e roupas pretas – estética semelhante à do grupo supremacista branco Ku Klux Klan, dos EUA.
Sara Winter, que rompeu com Bolsonaro após o fracasso do ato golpista, dizia a todos ter sido treinada por milícias ucranianas antes de tornar-se um bastião bolsonarista.
Dentro do próprio governo já houve manifestações de alusão a movimentos fascistas. Em janeiro de 2020, o então secretário da Cultura, Roberto Alvim, foi demitido após a divulgação de um vídeo que tinha estética semelhante à do nazismo.
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RECRUTAMENTO DE MERCENÁRIOS PARA O ‘BATALHÃO DE AZOV’
Em 2016, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul cumpriu oito mandados de busca em sete cidades gaúchas para impedir possíveis ações de um movimento armado que estava realizando reuniões com neonazistas no estado. Os alvos seriam judeus ou homossexuais. Durante a operação, um suspeito foi preso, em Cruz Alta, por porte ilegal de munição. Um vasto material de apologia ao nazismo em seu poder foi apreendido pelos policiais.
Segundo o delegado Paulo César Jardim, que comandou as ações à época, meses antes, um integrante italiano do chamado Misanthropic Division (grupo nacional socialista internacional e que já tem facção no Brasil) esteve em várias cidades do Estado recrutando jovens para se filiar às organizações fascistas da Ucrânia.
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As investigações confirmaram que o movimento armado é ligado ao “Batalhão de Azov”, milícias neonazistas que combatiam no leste europeu. O delegado confirmou que um integrante destes grupos esteve cooptando jovens gaúchos seguidores de Hitler. “Eles ofereceram dinheiro e treinamento militar, estão fazendo isso no mundo inteiro e comprovamos que um porto-alegrense esteve lutando na Ucrânia após ser recrutado”, disse Jardim.
A Polícia monitorava grupos neonazistas há pelo menos 15 anos no Rio Grande do Sul e, desta forma, conseguiu identificar a presença desta facção armada no Estado.
O chamado Misanthropic Division, vinculado ao grupo armado e neonazista Batalhão Azov, realizou dois ataques em janeiro de 2016 contra um espaço de cultura em São Paulo. Além disso, a investigação apontou na ocasião que havia 300 células neonazistas no Brasil com páginas na internet.
CÉLULAS
Atualmente, no Rio de Janeiro, foram encontrados 36 grupos, 15 deles na capital. Entre os bairros cariocas com maior presença de células de extrema-direita estão Méier, Tijuca e Copacabana. Em Niterói, os pesquisadores identificaram outras duas agrupações. Uma delas se apresenta como Cali, e foi responsável pelo ataque à produtora do grupo de humor Porta dos Fundos, em 2019.
“Nossa extrema direita tem várias facetas, vertentes, origens e tradições históricas. Um setor busca se articular em torno de Bolsonaro, mas outros vão além. Incorporam a quarta teoria política russa, assim como expressões da Ucrânia, Estados Unidos e do centro da Europa. Mesmo se Bolsonaro não se reeleger, a extrema direita permanecerá”, disse ao Globo o professor de História Contemporânea da UFJF, Odilon Caldeira, autor do livro “O fascismo em Camisas Verdes”.
Schuster é especialista em História Contemporânea e acaba de lançar, junto a Francisco Carlos Teixeira, o livro “Passageiros da Tempestade: Fascistas e Negacionistas no Tempo Presente”. “Estes grupos seguem o princípio da alteridade, de negar o outro. Muitos negam o Holocausto, outros dizem que o Holocausto foi o único erro do fascismo histórico. Querem ressignificar o sentimento de culpa”, diz Schuster.
O fascismo, observa Schuster, atrai nas redes um público cada vez maior. E segundo ele, é necessário tentar entender por que tantas pessoas se aproximam desse discurso, e por que estes grupos estão crescendo. O professor, que também monitora o avanço da extrema direita, diz que, além de grupos, há os chamados “lobos solitários”, como em Pernambuco. Ele defende a necessidade de saber se essas pessoas estão em contato com redes dentro e fora do Brasil.
O professor de História Contemporânea da UFJF, Odilon Caldeira, autor do livro “O fascismo em camisas verdes”, também encontrou grupos de extrema direita no Ceará, a maioria em Fortaleza. Ele afirma que “a extrema direita veio pra ficar no Brasil” e que ela busca permanentemente referências internacionais, articulações e incorporar agendas da extrema direita global.
“Nossa extrema direita tem várias facetas, vertentes, origens e tradições históricas. Um setor busca se articular em torno de Bolsonaro, mas outros vão além”. Segundo ele, esses grupos incorporam expressões da Ucrânia, Estados Unidos e do centro da Europa. “Mesmo se Bolsonaro não se reeleger, a extrema direita permanecerá”, pontua.
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ATUAÇÃO NAS REDES
Seguindo tendência mundial, os grupos atuantes no Brasil fazem uso aberto de redes sociais nas quais se sentem mais protegidos, principalmente o Telegram.
Nessas redes, não existe controle sobre a publicação de conteúdo e os usuários podem declarar livremente, sem medo de qualquer tipo de punição ou bloqueio de conta, o que pensam sobre qualquer coisa. Como explica Karina Stange Caladrin, pesquisadora do Instituto Brasil/Israel e coordenadora de Juventude da Fundação B-nai B-rith, organização internacional de defesa dos direitos humanos, “o Brasil é parte de uma onda internacional de proliferação de grupos de extrema direita, muito forte na Rússia, Hungria, Ucrânia, Polônia e EUA”.
O Telegram, em particular, é um dos aplicativos amplamente utilizados pelos bolsonaristas e pelo próprio presidente para se comunicar com o seu eleitorado. Mas seu uso não se restringe a essas pessoas. “Existem grupos antigos, e outros mais recentes. Todos têm crescido muito. Influenciadores como Monark e políticos como o deputado Kim Kataguiri têm um público grande, principalmente jovens, que se relacionam numa bolha”, declarou a pesquisadora, que alerta para o grau de desinformação de muitos dos seguidores deste tipo de personalidades. “Um dos perigos é que nazismo, partindo dessa desinformação, passou a ser passível de defesa”, frisa.
JOSI SOUSA
Taí, e tem pardola que defende o direito de uma Misanthropic Division agir livremente em nosso país mestiço e acha que está levantando uma grande questão filosófica! hahahaha Esse Brasil paralelo que surgiu pós-2013, realmente não é pra amadores! hahahaha