Ideia do grupo de Bolsonaro é colocar o “03” no lugar do delegado Waldir
O grupo de fieis Bolsonaristas do PSL apresentou, na quarta-feira (16), um número de assinaturas suficientes para destituir o líder do partido na Câmara, Delegado Waldir. É necessária a metade da bancada para trocar o líder. A intenção era colocar em seu lugar o deputado Eduardo Bolsonaro.
Até o fechamento desta edição, na noite de quarta-feira, havia um impasse porque a outra facção também anunciou que tinha mais da metade de assinaturas. A crise entrou em impasse.
Caso venha a nova função, o “zero três” de Bolsonaro estaria cada vez mais distante de ser efetivado como embaixador do Brasil nos EUA. A indicação já estava difícil. Agora, com a crise, parece descartada. Seu expertise em fritar hambúrgueres em lanchonetes americanas não foi suficiente para convencer os senadores.
OBSTRUÇÃO
As repercussões dessa verdadeira briga de gangues dentro do PSL começou a trazer consequências nefastas para os planos do Planalto. Pela primeira vez, na terça-feira (15), o líder do partido na Câmara, Delegado Waldir, orientou a bancada do PSL a obstruir uma votação de interesse do governo.
Nos últimos dias a luta fratricida entre bolsonaristas e bivaristas (ligados a Luciano Bivar) tornou-se explosiva dentro do PSL, numa disputa pelo controle da legenda, da máquina e de seus recursos.
ESQUECE O PSL
De um lado ficaram Bolsonaro, os filhos, alguns parlamentares e um grupo de advogados e assessores, e de outro, boa parte da bancada e os dois líderes, da Câmara e do Senado. Bolsonaro chegou a falar que deixaria o partido. “Esquece o PSL”, disse ele a uma apoiador.
O líder do PSL no Senado, senador Major Olímpio, por usa vez, creditou a crise a ação maléfica dos filhos do presidente. Ele afirmou que “os filhos de Jair Bolsonaro têm mania de príncipes e causam muitos problemas e desgastam o governo”.
OLÍMPIO X EDUARDO
Eduardo Bolsonaro ameaçou Olímpio de aceitar um requerimento da oposição na comissão que ele preside, a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN), chamando o suplente do senador, Alexandre Giordano, para prestar esclarecimentos sobre o escândalo Itaipu. Giordano é lobista da empresa Léros, interessada no contrato de energia com o Paraguai.
“Eduardo, tem medo quem deve e coerência na vida é fundamental. Não vejo problema nenhum eu responder pelos meus atos. Agora, o que tenho a ver com suposto ato de suplente? Se quiser fazer CPI disso, sou o primeiro a assinar. Talvez tenha notado que não te pedi para segurar nada”, rebateu o Major Olímpio.
ESCÂNDALO ITAIPU
O nome do senador por São Paulo ficou em evidência após estourar o escândalo do acordo de Itaipu com o Paraguai. Alexandre Giordano, suplente do major Olímpio, esteve no Paraguai e disse estar falando em nome da família Bolsonaro.
Assinado em segredo, o acordo bilateral acabou vindo a público depois que o presidente da ANDE (estatal paraguaia de energia elétrica), Pedro Ferreira, renunciou afirmando que o acordo configurava “traição à pátria” e “extorsão financeira”.
Os termos do acordo divulgado em julho provocaram uma crise política no país vizinho e quase provocou a queda do presidente paraguaio Mario Abdo Benítez. Segundo a oposição no Paraguai, a negociação foi ‘entreguista’ por favorecer o Brasil na contratação da energia de Itaipu.
Os prejuízos, segundo os opositores, ultrapassam os “US$ 200 milhões ao Paraguai”. Quem se beneficiaria na negociata seria e empresa de Giordano, que alegara em Assunção, falar em nome do clã Bolsonaro.
BUSCA E APREENSÃO
A coisa azedou mesmo entre o bando de Bivar e o de Bolsonaro, na segunda-feira, com a ação da Polícia Federal de busca e apreensão em endereços de Luciano Bivar, autorizada pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE).
A ação faz parte da Operação Guinhol, que investiga o caso da candidaturas laranjas do PSL na eleição de 2018. O pedido de investigação de Bivar foi feito pelo Ministério Público Eleitoral (MPE).
A PF informou que está investigando o uso de candidaturas laranjas pelo partido na eleição de 2018. Além da residência de Bivar, também foram cumpridos mandados na sede do PSL em Pernambuco e em uma gráfica.
A ação investiga fraude no emprego dos recursos destinados às candidaturas de mulheres – ao menos 30% dos valores do Fundo Partidário deveriam ser empregados em campanhas femininas. Segundo a PF, o dinheiro foi desviado e usado por outros candidatos.
Foram apreendidos celulares, notebooks e pendrives nos endereços no Recife e em Jaboatão. Numa gráfica, a PF recolheu documentos. Os investigadores não informaram qual candidatura estava sendo alvo da operação da terça-feira, mas uma das investigadas, desde fevereiro, é a de Lourdes Paixão, que recebeu R$ 400 mil da direção nacional do PSL, terceira maior verba concedida pelo partido. A candidata a deputada federal obteve 274 votos em 2018.
ONDE ESTÁ QUEIROZ?
Na segunda e na terça-feira, vários integrantes da bancada do PSL exigiram que a Polícia Federal investigasse também o senador Flávio Bolsonaro, acusado de criar um esquema de lavagem de dinheiro, operado por seu motorista, Fabrício Queiroz, dentro de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quando ele era deputado estadual. “Onde está Queiroz”, indagou o próprio líder Delegado Waldir, em entrevista.
O deputado Junior Bozzella (PSL-SP), também da trupe de Bivar, saiu ao ataque contra Bolsonaro e seu grupo. “Ele [Bivar] deu a casa, o carro, comida e roupa lavada. Mas [o grupo de Bolsonaro] queria ficar com a mulher dele também”, afirmou o deputado, referindo-se ao fato de Bivar ter abrigado os bolsonaristas para que disputassem a campanha de 2018 pelo PSL.
NUNCA TIVE ‘RELAÇÃO’ COM BIVAR
Ao chegar a Brasília na quarta-feira (16), Luciano Bivar divulgou nota dizendo que “interesses pessoais” têm criado “fatos artificiais”. Ele declarou também que a relação entre ele e Bolsonaro não tinha mais volta. Bolsonaro respondeu jurando que nunca teve relação nenhuma com Luciano Bivar, presidente do PSL, partido pelo qual Bolsonaro se elegeu.
A declaração foi dada em frente ao Palácio do Alvorada nesta quarta-feira (16). “Eu nunca tive relação com ele, que negócio é esse?”, afirmou o ex-capitão. Diante do espanto dos jornalistas, Bolsonaro disse que estava “fazendo uma piada” sobre a tal “relação dos dois”.
Ele explicou que a brincadeira tinha a ver com a declaração que Bivar tinha feito na mesma manhã de quarta-feira, de que a relação dos dois “não tinha mais volta”.
“Pessoal, entenderam a piada, né? Mas tudo bem, não vou discutir partido com vocês. Eu tenho muita coisa a fazer pelo Brasil para ficar discutindo política partidária”, justificou Bolsonaro.
Ficou a impressão de que o presidente estava falando de outros tipos de relação e não da relação política entre os dois.
O presidente nacional do PSL já havia atacado o chefe do outro bando dizendo que Jair Bolsonaro está comprando essa briga para controlar o partido e “fazer coisas não éticas”, como “contratos para assessoria de imprensa, publicidade, advogados, compliance”.
A seletividade de Bolsonaro nas críticas tem como causa sua intenção de acobertar o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e o senador Flávio Bolsonaro, este último, coincidentemente, seu filho, que são investigados por lavagem e desvio de dinheiro público e organização criminosa.
Por isso, sua crítica dirigida apenas contra Luciano Bivar, pelo escândalo do laranjal do PSL em Pernambuco, que é notório que ocorreu, enquanto livra a cara do filho e do ministro do Turismo, que também cometeram crimes, está sendo vista apenas como parte da guerra entre as facções bolsonaristas pelo controle da máquina partidária.
SÉRGIO CRUZ