Fernando Haddad, candidato do PT ao governo de São Paulo, foi entrevistado em uma sabatina, na última sexta-feira (14), após o bolsonarista Tarcísio Freiras (Republicanos) desistir de comparecer ao debate promovido pelos veículos Terra, Estadão/Rádio Eldorado, SBT, CNN Brasil, Veja e Rádio Nova Brasil.
O ex-prefeito de São Paulo lamentou a ausência do adversário e a recusa em debater as propostas para o Estado. Ele chamou Tarcísio de “um recém-chegado ao estado de São Paulo”.
“(É) lamentável a ausência do meu parceiro. Ele teria a oportunidade de defender os seus projetos, e eu, os meus. E o confronto de ideias daria a você, cidadão, a oportunidade de verificar o que é melhor para a sua família. Lamento muito a escolha do meu adversário, que é um recém-chegado ao estado de São Paulo”, disse Haddad.
Ao longo da sabatina, Haddad defendeu suas propostas para o governo e anunciou a intenção de reativar obras paradas na área de infraestrutura para acelerar a economia paulista e gerar novos empregos.
“Se fosse uma obra parada, seria fácil, mas são 500 obras paradas e reativá-las é uma das formas para gerar emprego rapidamente para a população, e o emprego direto acaba gerando empregos indiretos, porque isso faz a economia rodar. Então retomar obras é fundamental, e eu diria que na infraestrutura é mais fundamental ainda”, argumentou.
Haddad criticou a privatização da Companhia de Saneamento de São Paulo, a Sabesp, defendida por Tarcísio. O ex-prefeito denuncia que a entrega do patrimônio público pode dobrar o valor da conta de água no Estado.
“O meu adversário comete um grande erro de dizer que vai privatizar a Sabesp. Privatizar a Sabesp só interessa à Faria Lima e o que vai acontecer, daqui a 10 anos [se privatizar] vai mais do que dobrar a conta de água, que é um bem essencial. Nós não vamos privatizar a Sabesp, muito pelo contrário, vamos dinamizá-la para que ela também atue na despoluição dos rios”, declarou Haddad.
Sobre os rios, Haddad disse ainda que pretende continuar com a despoluição, mas cobrou mais eficiência das empresas contratadas.
“Já investimos mais de R$ 4 bilhões e os resultados são muito pequenos perto do volume de recursos já investidos. Vamos sentar com as empresas, e a Sabesp é fundamental nisso”, concluiu.
TRANSPORTE
Ele defendeu a necessidade da injeção de recursos federais para garantir o investimento em São Paulo. “A gente precisa de recursos federais, sim, para tocar as obras contratadas e inclusive fazer novas. Tenho me comprometido com o trem intercidades, ligando Campinas a São Paulo, os projetos de São José dos Campos, Sorocaba e a Baixada Santista. E deixar pronto até o final do mandato tudo com o Bilhete único Metropolitano, que é algo que pode ser feito imediatamente”, disse.
Ao ser questionado sobre valores dos pedágios nas estradas estaduais, afirmou que pretende relicitar contratos já finalizados e fazer uma nova concorrência. “O que acontece no mundo inteiro no final do contrato, você relicita o contrato. Você coloca aquele pedágio em concorrência pública e a concorrência faz baixar o pedágio. Isso aconteceu várias vezes aqui em São Paulo. Algumas rodovias pedagiadas foram relicitadas e a concorrência fez um pedágio cair 20%, chegou a cair 30%. Essa é a prática internacional. O governo atual não fez isso. O governo atual prorrogou contratos, mantendo o mesmo valor.”
Haddad destacou que a cultura é um setor importante, gerador de emprego, renda e oportunidade e que é necessário ampliar o orçamento da área.
“Zero vírgula três por cento do orçamento estadual para a cultura é um erro econômico. A cultura é uma frente de geração de emprego, renda e oportunidade. Temos que, no mínimo, dobrar o orçamento da cultura para fazer chegar em Suzano os editais, assim como no interior do estado”, disse o candidato, que visitou hoje a cidade da região metropolitana de São Paulo.
Haddad também destacou que pretende colocar em prática políticas de compra de alimentos para escolas e hospitais, além de iniciativas de combate à fome. Segundo o candidato, terão prioridade alimentos da agricultura familiar e, sempre que possível, orgânicos.
“Nós vamos usar as compras do governo para aquisição de alimentos. Eu fiz isso quando fui ministro [da Educação] e quando fui prefeito [de São Paulo]. Vamos melhorar a qualidade da merenda comprando alimentos dos produtores rurais a um preço justo. Então, quem trabalha com a terra não precisa se preocupar porque a nossa gestão vai apoiar o setor”, disse.
COMBATE À POBREZA
Sobre o combate à extrema pobreza, afirmou que pretende trabalhar em conjunto com os governos municipais e que o programa Renda Básica de Cidadania deve ser implantado em caráter “emergencial”. “Eu acho que esse é um drama que está afetando não só a região metropolitana de São Paulo, mas também cidades do interior. Eu visitei, de um ano para cá, 150 cidades do interior, grandes, pequenas e médias. Pude ver, conversando com os prefeitos dessas cidades, que o drama da população em situação de rua, para dar um exemplo, é um drama que se espalhou por todo o estado.”
Haddad prometeu aumentar o salário mínimo no estado para R$ 1.580. “Eu disse e repito, não é nenhum favor, nós estamos repondo os efeitos da inflação que corroeram o salário mínimo paulista.”
Já em relação aos impostos, o ex-prefeito criticou o sistema tributário brasileiro e afirmou ser necessário “cobrar mais de quem ganha mais e cobrar menos de quem ganha menos”.
“No Brasil, quem tem menos renda paga proporcionalmente mais imposto no Brasil. E por quê? Porque os impostos incidem sobre o consumo e pouco sobre o patrimônio. Então, quem tem muito patrimônio, paga pouco imposto, e o pobre, que consome mais de 100% da sua renda e se endivida por isso, é aquele que sustenta o orçamento público. Isso foi denunciado há anos por vários economistas. Tem que inverter essa lógica, cobrar menos do consumo, sobretudo do gêneros de primeira necessidade, e cobrar mais do patrimônio e da renda.”
SEGURANÇA
Em relação à segurança pública, quando questionado sobre como pretende corrigir o déficit de policiais no estado, Haddad disse que será necessário requalificar a Polícia Civil e atrair mais jovens para a profissão. “Eu acho que nós precisamos fazer na Polícia Civil de São Paulo o que nós fizemos na Polícia Federal. Nós fortalecemos a Polícia Federal como nunca se fez. Nós fizemos uma carreira. Nós contratamos policiais federais. Hoje a polícia é um orgulho, a Polícia Federal orgulho, nós temos que ter uma Polícia Civil aqui em São Paulo equivalente.”
“Nós dependemos da investigação para desbaratar as quadrilhas. Enquanto a gente ficar só prendendo em flagrante e não der consequência e uma investigação que vai chegar na organização criminosa, que alicia e recepta os bens roubados, nós não vamos transmitir sensação de segurança”, defendeu.
O candidato também afirmou que vai “acabar com o Centrão” no estado de São Paulo. “Não vou tolerar esse tipo de toma lá da cá. Fico atônito de ver como meu adversário diz, com todas as letras, que a turma do Centrão virá para o estado, inclusive com o orçamento secreto, que ele diz que não dá para contornar. Podemos ter, pela primeira vez na história, um governo de coalizão democrática que reúna as melhores cabeças do estado e não precise contar com o Centrão.”
Haddad, nas considerações finais, disse que “sabe exatamente o que está passando com as pessoas do estado. As pessoas estão com um orçamento que não chega no final do mês. Estão subempregadas, com empregos precários. Estão preocupados com a educação dos seus filhos, evasão dos jovens da faculdade e ensino médio, estão preocupados com a fila do SUS. E onde está o Tarcísio de Freitas? Ao invés de estar junto comigo explicando para a sociedade o que queremos para o estado de São Paulo, num horário que ele deve estar em casa, ele poderia estar aqui comigo dando a melhor das oportunidades que a democracia permite”.