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A segunda rodada de negociações Rússia-Ucrânia foi remarcada para amanhã, quinta-feira (3), segundo a agência de notícias russa TASS, após finalmente confirmada pelo governo Zelensky, depois de mais de 24 horas de protelações.
A reunião acontecerá em Belovejskaya Puscha, na Bielorrússia, com as mesmas delegações que participaram do primeiro encontro.
O negociador russo Vladimir Medinsky disse que estará na pauta um cessar-fogo. O exército russo está fornecendo um corredor de segurança para a delegação ucraniana.
As protelações chegaram a ser atribuídas a “pressões de Washington” pelo chanceler russo Sergei Lavrov.
O lado ucraniano, segundo Lavrov, tentou arrastar as negociações, assim como fez no primeiro encontro. “Acho que os americanos também não permitem”, disse o chanceler russo. “Agora ninguém acredita na independência de Kiev”.
Horas antes, o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, postara mensagem no Facebook, segundo a agência espanhola EFE de que “de momento, não se sabe quando é que as novas negociações se vão realizar”.
Na terça-feira, Kuleba, em telefonema ao seu homólogo chinês, Wang Yi, pediu a intermediação da China na busca de um cessar-fogo e um acordo. Kuleba posteriormente se referiu ao “papel construtivo” da China na questão.
Pequim tem rejeitado as sanções unilaterais e à margem da lei internacional que vêm sendo deflagradas contra Moscou por Washington e subalternos e manifestou seu apoio a que a Rússia tenha suas legítimas considerações de segurança sobre a expansão da Otan atendidas, e reiterou seu persistente princípio de respeito à soberania e de negociação ganha-ganha.
ENTREVISTA DE LAVROV
Em entrevista à rede Al Jazeera publicada nesta quarta-feira (2), Lavrou afirmou que as exigências da Rússia à Ucrânia não podem ser qualificadas como capitulação.
“Não se trata do termo a ser usado. Oferecemos um acordo”, sublinhou Lavrov. “Assegurará os direitos legais de todos os povos que vivem na Ucrânia, o que inclui todas as minorias nacionais sem exceção, sua igualdade”.
Lavrov afirmou que Moscou “continua comprometida com a desmilitarização da Ucrânia” e que deveria haver uma lista de armas específicas que nunca poderiam ser implantadas em território ucraniano.
“Nossos negociadores estão prontos para a segunda rodada de discussão dessas garantias com representantes ucranianos”, destacou.
SEM APARTHEID A RUSSOS
O principal diplomata russo referiu-se à lei ucraniana sobre os povos nativos no país – que exclui as pessoas de ascendência russa.
“Esse é o tipo de coisa que já está criando a base legislativa para uma política russófoba e não apenas russófoba – contra todas as outras minorias nacionais: húngaros, romenos, poloneses, búlgaros”, continuou ele.
Para Lavrov, o conflito em curso na Ucrânia foi criado artificialmente pelo Ocidente. Ele também não descartou que alguém estivesse “interessado” que a Rússia se envolvesse nesse conflito – uma abordagem que o ministro das Relações Exteriores da Rússia descreveu como “uma linha de pensamento filosófica cínica e absolutamente neocolonial [que] é característica de nossos parceiros ocidentais”.
Depois que este conflito for resolvido, no entanto, caberá ao povo ucraniano decidir sobre seu futuro, sublinhou Lavrov. Mas Moscou acredita que a decisão deve ser tomada considerando a opinião de todos os povos que vivem na Ucrânia.
SEM ARMAS NUCLEARES
Embora Kiev tenha potencial tecnológico para obter armas nucleares, não é algo que a Rússia permita que aconteça, enfatizou Lavrov. “É algo que o presidente [Vladimir] Putin falou, nossos especialistas também comentaram sobre essa situação”, disse Lavrov. “Posso declarar que não permitiremos que isso seja feito”.
O chefe da diplomacia russa reafirmou que Moscou considera Zelensky presidente ucraniano e vê o desejo dele de receber garantias de segurança como um “passo positivo”.
DESNAZIFICAR
O conflito na Ucrânia, segundo Lavrov, é algo que a Rússia pretende acabar com sua operação militar, com o objetivo de “desmilitarizar e desnazificar” o país vizinho. De acordo com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, a Ucrânia deveria passar por um procedimento de desnazificação semelhante ao que a Alemanha nazista fez no século 20.
As Forças Armadas russas, segundo o Kremlin, visam exclusivamente a infraestrutura militar ucraniana e não representam uma ameaça para os civis. Lavrov enfatizou que os militares russos estão fazendo “tudo” para evitar sérias baixas civis. Moscou também sublinhou que não tem planos de ocupar a Ucrânia.
ENXURRADA DE SANÇÕES
Em relação à enxurrada de sanções antirrussas desencadeada pelos países ocidentais e a histeria midiática, Lavrov considerou-a como uma tentativa de criar uma nova “cortina de ferro” para a Rússia. No entanto, ele afirmou que Moscou encontrará oportunidades para se desenvolver apesar dessas tentativas.
“Se o Ocidente assim o decidiu, garanto-vos que encontraremos uma oportunidade de continuar a viver, desenvolver-nos e não nos preocuparemos muito com o que os nossos parceiros ocidentais fizerem, provando mais uma vez a sua absoluta falta de fiabilidade e total incapacidade de negociar”, concluiu.
NO TERRENO
O Ministério da Defesa da Rússia anunciou nesta quarta-feira que suas tropas tomaram o controle da cidade de Kherson, no Sul da Ucrânia, o que abre o caminho para Odessa, a terceira maior cidade do país.
O cerco vem se fechando sobre a capital, Kiev, e as forças russas dominam o espaço aéreo ucraniano.
Kharkiv, a segunda maior cidade, próxima da fronteira russa, continua cercada e com os pontos de estratégicos sob bombardeio. As forças rebeldes do Donbass já chegaram ao porto de Mariupol, fechando o cerco às forças ucranianas e especialmente aos batalhões neonazistas.