“Organizações líderes judaico-brasileiras repeliram a presença da bandeira de Israel no centro de um ato que pede o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal”, afirma matéria do jornal israelense Haaretz, do dia 7, que registra a contribuição do jornalista Marcus M. Gilban e a Agência Telegráfica Judaica (JTA, com sede em Nova Iorque) como colaboradores.
O artigo, originalmente intitulado “Presidente do Brasil fica perto de bandeira israelense em ato antidemocrático confundindo e enraivecendo judeus”, prossegue destacando que as lideranças judaicas frisaram que “incluir a bandeira envia uma falsa mensagem sobre os sentimentos da comunidade judaica em relação ao presidente, que é alvo de críticas e de escândalos políticos e pela forma como vem tratando a crise do coronavírus”.
O Haaretz faz um breve levantamento da situação vivida pelo Brasil e das atitudes do presidente no ato:
“Bolsonaro ‘deixou o palácio presidencial para falar aos manifestantes que pediam o retorno do regime autoritário’”.
E relata que a demissão do chefe da Polícia Federal “fez o ministro da Justiça renunciar e acusar Bolsonaro de interferir em investigações de corrupção”.
Como o STF bloqueou a indicação preferencial de Bolsonaro, traz o artigo, o presidente disse, no ato de domingo: “Basta de interferência. Nossa paciência se esgotou”.
A matéria ressalta ainda que “a comunidade judaica ficou dividida com a candidatura de Bolsonaro em 2018”.
Citando a JTA, repercute a declaração do presidente da Confederação Israelita Brasileira, Conib, Fernando Lottenberg, a qual afirma que “o uso constante da bandeira israelense pode passar uma mensagem errada sobre a composição política plural da comunidade judaica brasileira e representar mal nossa posição com relação aos manifestantes e o governo”.
Também se refere a mais duas notas de entidades judaicas brasileiras. A primeira, da organização Judeus pela Democracia, que, referindo-se à estrela de David na bandeira, declara: “A bandeira israelense em uma demonstração contra a democracia não representa os valores judaicos! Chega de sequestrar nossos símbolos”.
A outra é da organização B’nai Brith do Brasil, cujo presidente, Abraham Goldstein, apesar de mais moderado, também observa que “a presença de bandeiras de outros países em um ato exclusivamente brasileiro não faz sentido. Isso deve ocorrer em momentos específicos a exemplo de eventos comuns, visitas de autoridades e hóspedes especiais”.
O artigo termina lembrando que “no ano passado, Bolsonaro disse que o nazismo era um movimento de esquerda, recebendo uma reprimenda da direção do museu do Holocausto israelense, o Yad Vashem”.
Segundo o Haaretz, “a deputada Joice Hasselman entende que ‘a reação judaica é natural’ ao comentar as respostas ao ato de domingo e a referência ao ocorrido no Yad Vashem”.
Já o jornal Times of Israel, que também repercutiu o posicionamento dos judeus brasileiros em seu artigo intitulado “Judeus brasileiros criticam o tremlar de bandeiras de Israel em atos antidemocráticos”. Segundo o jornal, o Instituto Brasil-Israel, Ibi, desfraldar bandeiras israelenses em tais atos equivale a queima-las”.