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A Congregação da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP) divulgou nota técnica, no último dia 29, em que enfatiza que a imunidade coletiva não pode ser uma estratégia de combate à Covid-19, principalmente diante de uma pandemia cujos efeitos a longo prazo ainda são desconhecidos.
“É ilusório esperar que a progressão da epidemia leve a seu próprio controle. Ao contrário, as condições de intensa e contínua transmissão favorecem a aparição de novas variantes do vírus”, diz a nota.
O documento enfatiza ainda que, com a falta de uma campanha nacional de prevenção da doença, a estrutura do Sistema Único de Saúde não consegue suportar a demanda.
“A taxa de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no SUS indica uma situação crítica no mês de março de 2021. Até o dia 22, os Estados apresentavam taxas entre 85% e 94% na Região Sudeste, entre 90% e 106% na Região Centro Oeste, entre 96% e 97% na Região Sul, entre 83% e 97% na Região Nordeste e entre 64% e 100% na Região Norte. O colapso do sistema na maior parte do país põe em risco o atendimento para pacientes complexos que necessitem de cuidados intensivos”, diz a nota.
A Congregação denuncia ainda a falta de prioridade dada à saúde pública por parte do governo Bolsonaro, que nem durante a pandemia destinou os recursos necessários.
“Em 2021, a alocação orçamentária para ações e serviços públicos de saúde no Ministério da Saúde corresponde a apenas R$ 123,8 bilhões. Trata-se de montante inferior à 2020 (R$ 125,2 bilhões) e equivale ao valor do piso gasto em 2017, desconsiderando o crescimento populacional e a intensificação da pandemia. Durante o ano da pandemia de 2020, o gasto para o seu enfrentamento da pandemia foi baixo, correspondendo a apenas R$ 39,4 bilhões (valores pagos), sendo 31,5% do total do orçamento do Ministério da Saúde para 2020, assim distribuídos: 22,8% em transferências para Estados e Distrito Federal; e 58,6% em transferências para os Municípios; 14,4% para aplicação direta pelo MS e 4,0% para transferência ao exterior”, denuncia a nota.
Em entrevista ao Jornal da USP, a professora responsável pela nota técnica, Claudia Moreno, do Departamento de Saúde, Ciclos de Vida e Sociedade da FSP da USP, afirmou que o que o governo Bolsonaro tem feito é promover o espalhamento do vírus e o agravamento da pandemia. A professora explica que a imunidade coletiva só pode ser alcançada a partir da vacinação de 70% a 90% da população.
Claudia destacou que a defesa da imunidade coletiva – por meio do contágio em massa – está associada a uma propaganda contra a saúde pública realizada pelo próprio governo, através de discursos que minimizam a gravidade da doença e atitudes como a promoção de aglomerações. Além disso, o desencontro entre os discursos políticos, segundo a professora, gera um trânsito de informações falsas e discursos distorcidos, confundindo a população e levando ao descrédito de informações técnicas e científicas.
A nota técnica da FSP enfatiza que não há nenhuma contradição entre proteção da economia e proteção da saúde, e que essa é uma falsa oposição que precisa ser desfeita.
“Essas coisas têm que ser feitas em conjunto, por isso é importante a discussão da crise sanitária a partir de políticas de saúde pública”, afirma a professora.
A Congregação da FSP também aponta que já faltava investimentos adequados no SUS, mas que é exatamente ele, mesmo sem ter recebido recursos financeiros suplementares em 2020, quem está evitando que a catástrofe sanitária seja ainda maior.
De acordo com a professora, o SUS tem capacidade para agilizar o processo fundamental de vacinação, desde que tenhamos as doses necessárias. Ela também destaca que os cuidados paliativos, como da utilização de máscaras, do isolamento físico e da higienização das mãos, principalmente enquanto não se alcança uma quantidade ideal de vacinados e não se tem conhecimento suficiente a respeito das variantes surgidas a partir de mutações do vírus, são essenciais para o combate da doença.