Com o desemprego atingindo mais de 14 milhões de pessoas, a variação em disparada do IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) – usado como referência para contratos de aluguéis – aponta para uma grave crise.
De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que faz o calculo do índice, a “inflação do aluguel” fechou 2020 com variação acumulada de 23,14%.
Segundo a FGV, usar o IGP-M com referência para reajustes é uma mera convenção – já que o índice oficial de inflação do país é o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O IGP-M é composto por uma média dos Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). Com isso, considera a variação de preços de bens de produção, como matérias-primas, commodities, materiais de construção, entre outros.
A diferença na composição dos índices explica a diferença: enquanto o IGP-M é calculado com base nos preços de produtos de referência para o mercado e é sensível ao dólar, o IPCA é calculado com base na cesta do consumidor.
“Toda vez que o dólar varia frente ao real, o IPA, que representa 60% do IGP-M, capta o impacto das variações. Ele mede os preços de produtos agropecuários e industriais, como as commodities, que são sensíveis à variação cambial. Então, se o preço do trigo ou minério de ferro sobe, influenciado pela alta do dólar, a tendência é o IGP-M acompanhar a alta”, explica André Braz, economista e coordenador dos índices de preços da FGV/IBRE.
“O IGP-M não foi criado com o objetivo de parametrizar os contratos de aluguel, mas, sim, para passar uma visão geral sobre o ambiente econômico, baseando-se nos setores de maior peso no PIB”, completa o economista.
“Salários não são reajustados pelo IGP-M”
Por mais que negociações entre inquilinos e proprietários durante a pandemia tenham garantido acordos de reajustes mais razoáveis que o IGP-M – como relata a FGV e algumas associações de comerciantes, cresce a necessidade de que exista uma regulação sobre os índices de reajuste que leve em consideração as condições de vida da população.
“Nesse momento, está muito difícil para a maioria dos inquilinos pagar um reajuste dessa magnitude, porque os salários não estão sendo reajustados pelo IGP”, aponta Braz. “Muitas famílias foram surpreendidas pelo desemprego e estão com sua capacidade de pagamento reduzida”.
Inflação
As incertezas geradas pelo desgoverno de Bolsonaro e Paulo Guedes durante a pandemia geraram a expectativa na população para o incremento anda maior da inflação em 2021. De acordo com levantamento de dezembro do Datafolha, 72% dos entrevistados esperam ainda mais carestia no próximo ano.
Além do IGP-M, a inflação oficial medida pelo IBGE chegou a 4,31% puxada pelo aumento nos preços dos alimentos.