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A irmã do governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), Vanda Garcia de Almeida é um dos alvos de operação da Polícia Federal deflagrada na manhã desta sexta-feira (10) contra lavagem de dinheiro da extração ilegal de ouro em terras indígenas no estado. Esquema investigado movimentou ao menos R$ 64 milhões.
A PF cumpriu oito mandados de busca e apreensão, em Roraima e em Pernambuco, expedidos pela 4ª Vara Federal Criminal da Justiça Federal em Roraima, que também mandou bloquear bens dos envolvidos na organização criminosa.
Uma equipe da PF esteve na casa de Vanda Garcia, no bairro São Vicente, zona Sul de Roraima e deixaram a residência com documentos. A princípio, não há suspeita de envolvimento do governador, segundo a PF, mas outros parentes do governador também estiveram entre os alvos das buscas.
A irmã do governador é investigada na Operação BAL, que visa coletar provas contra uma organização criminosa que coordenaria um esquema de lavagem de dinheiro fruto do comércio de ouro extraído e vendido ilegalmente.
GOVERNADOR DEFENDE GARIMPEIROS
O governador emitiu uma nota dizendo que “desconhece o teor da investigação contra sua irmã, Vanda Garcia, e espera que as eventuais responsabilidades sejam apuradas na forma da lei”, e se colocou “à disposição para todo e qualquer esclarecimento”.
Em meio à crise humanitária na Terra Yanomami, em Roraima, com mortes de centenas de indígenas, Denarium esteve em Brasília na última terça-feira (7) para pedir ajuda a garimpeiros que atuam ilegalmente no Estado, em especial no território onde deveria haver apenas povos originários. A atividade é apontada como causadora da morte em massa de indígenas.
Ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), ele pediu a criação de uma comissão, composta apenas por políticos de Roraima, para propor ajuda aos garimpeiros. Denarium falou ainda em programa de assistência social e na destinação de uma nova área, na Amazônia, para a extração de ouro. Nada pediu para os indígenas que moram em seu estado.
Financiadores do garimpo têm responsabilidade maior, diz PF
Durante coletiva de imprensa em Roraima nesta quarta-feira (8), na qual estavam presentes ministros do governo federal, o delegado da Polícia Federal Humberto Freire, que atua nos inquéritos abertos para apurar a crise humanitária da Terra Indígena Yanomami, afirmou que “as pessoas que financiam, as pessoas que fazem lavagem daquele lucro auferido criminosamente com a retirada desse minério, elas têm uma responsabilidade muito maior”.
Segundo o delegado, “as pessoas serão punidas na medida de sua culpabilidade. E isso (grau de responsabilidade) está sendo investigado dentro dos inquéritos que foram instaurados pela PF”, disse, durante coletiva de imprensa em Roraima nesta quarta-feira (8), na qual estavam presentes ministros do governo federal.
Freire acompanhou a visita de uma comitiva ministerial composta pelos ministros da Defesa, José Múcio, dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, para tratar das operações de combate e expulsão do garimpo da terra Yanomami e para continuidade das ações de assistência aos povos indígenas.
A presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joênia Wapichana, e os comandantes do Exército, Marinha e da Força Aérea também integram o grupo. Ainda na quarta-feira eles visitaram a Casa de Saúde Indígena Yanomami, a Casai, em Boa Vista.
INQUÉRITOS
Até o momento, três frentes de investigação vão direcionar os inquéritos – três foram abertos até agora – um vai investigar o crime de genocídio contra o povo Yanomami. Outro inquérito visa identificar esquemas de lavagem de dinheiro do garimpo ilegal. Há ainda um terceiro inquérito que apura crimes correlatos, como fraudes em contratos públicos da saúde indígena.
Empresas com faturamentos milionários e sede em bairros nobres de São Paulo são alvos na Justiça não só por comprar de garimpeiros clandestinos, mas por participar de um esquema que pode ter legalizado, em 2019 e 2020, mais de 4 toneladas de ouro ilegal de várias TIs da Amazônia, segundo o Ministério Público Federal.
Há processos em Roraima, Pará e Amapá, incluindo um de dano ambiental, além de investigação em curso no Amazonas, onde a PF apura se uma delas lava ouro de balsas ilegais. São as chamadas DTVMs (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários), empresas do sistema financeiro autorizadas a comprar o metal no Brasil.
As ações para reprimir o crime na terra indígena já estão em curso, conforme destacou o delegado da PF. “Nós já tivemos ações de destruição de equipamentos ilegais empregados neste crime. Já tivemos prisão de pessoas que estavam dentro da área. Obviamente que a gente precisa ter fases dessa operação”.
“Nós temos ações programadas e serão implementadas, com vistas à, dentro de todas essas fases, termos a retirada de todos os garimpeiros por completo”, acrescentou.