O jogador de futsal Jonatan Bruno Santiago, que foi esquecido em Kiev, capital da Ucrânia, por um grupo de brasileiros do clube de futebol Shakhtar Donetsk, disse ter ouvido afirmações xenofóbicas ao tentar fugir de trem do país, na segunda-feira (28). Ao menos 80 brasileiros atuam em clubes ucranianos de futebol de campo e de salão. A maioria deles negou ter recebido apoio do governo brasileiro para deixar o país em conflito.
Jonatan publicou em uma rede social que conseguiu um lugar num trem por volta das 12h50 (horário de Brasília, 17h50 em Kiev). “Em cima da hora, aos 45 do segundo tempo, conseguimos uma vaga”, comemorou.
“Vai ser uma luta, mas a gente consegue. A gente é brasileiro! Contata aqui, contata ali e a gente consegue sempre se virar”, afirmou Jonatan.
Porém, logo depois, ele voltou às redes sociais num vídeo em que revelou ter perdido a vaga na composição “com essa cara de derrotado”, descreveu.
“A mulher que trabalha nos vagões gritou bem alto: pessoas estrangeiras não vão entrar”, relatou o catarinense.
Já, nesta terça-feira (1º), um dia após perder a vaga no trem ao lado para alguém que teria oferecido um valor mais alto pelo lugar, o brasileiro se arriscou ao fugir de carro, pela estrada, em direção a Lviv, cidade do oeste da Ucrânia.
“A gente tinha tentado dar um dinheiro pro maquinista, mas alguém ofereceu mais dinheiro. Está bem difícil nas estações de trem. Agora a gente [ele e mais dois brasileiros] conseguiu um carro com a embaixada. Vamos ver se vai dar certo”, disse, já no caminho.
CORRUPÇÃO
Atleta do Dnipro da Ucrânia, o jogador brasileiro Felipe Pires, disse que teve que pagar para deixar o país pela fronteira com a Romênia, porque o governo ucraniano não estava autorizando a saída de homens do país, independente da nacionalidade.
O atleta deixou a Ucrânia no sábado (26) e chegou ao Brasil na manhã de domingo (27), no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Ele afirmou que uma soldado ucraniana da fronteira pediu propina para autorizar a viagem para o país vizinho.
“Nunca vi isso. As pessoas passando por uma situação dessas, uma guerra, pessoas morrendo, e os ucranianos pensando em dinheiro. Tive que pagar para passar depois que a gente entrou na salinha lá”, contou ele à GloboNews.
“Chegou uma mulher com o uniforme da Ucrânia e disse ‘vocês vão passar e não vão pagar?’. Isso me deixou muito abalado. Como assim, meu? O que que é isso? Que coração é esse? Pensando em dinheiro numa hora dessas? Foi um choque pra mim ver isso, sabe?!”, completou.
SEM APOIO DO GOVERNO
O atleta também criticou a falta de apoio da Embaixada Brasileira na Romênia. Ao contrário do anunciado pelo governo federal, Pires afirmou que não teve nenhum apoio do Brasil ao finalmente cruzar a fronteira e deixar a Ucrânia.
“A minha esposa falou com a Embaixada [na Romênia] e a mulher que atendeu foi super grossa com a minha esposa. Disse que não tinha como fazer nada e mandou achar um lugar seguro para ficar, desligando o telefone na cara da minha esposa”, contou.