O médico José Hilson de Paiva, prefeito afastado de Uruburetama foi detido na última sexta-feira (19), após a Justiça do Ceará decretar a sua prisão preventiva. Ele é acusado de abusar sexualmente de várias mulheres por décadas, enquanto realizava atendimentos ginecológicos. Ele foi afastado do cargo de prefeito de Uruburetama e impedido de exercer a medicina por seis meses.
O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) havia pedido a prisão preventiva do médico na quarta-feira (17), por considerar que ele apresenta “riscos para a investigação do caso”.
A decisão sobre a prisão é do juiz José Cléber Moura do Nascimento, que considerou a medida necessária para preservar as provas e evitar a influência do prefeito nas investigações.
“A prisão preventiva se faz necessária a fim de preservar higidez das provas a serem produzidas em juízo eis que, da leitura das peças, depreende-se que o representado vinha utilizando sua influência para se manter impune ao longo de vários anos”, decidiu o juiz. O magistrado ainda determinou a busca e apreensão de objetos em dois endereços de José Hilson nas cidades de Fortaleza e Uruburetama. A medida é para apreender computadores, celulares, tablets, HDs externos, CDs e DVDs gravados, receituários médicos, prescrições, agendas de consultas, além de outros objetos relacionados ao investigado.
Denúncias
José Hilton de Paiva confessou que filmou os crimes com câmera escondida durante 30 anos, sem o consentimento das vítimas. “Ele diz que isso virou um vício”, afirmou Joseanna Oliveira, delegada que investiga o caso.
Em uma rápida declaração, o médico tentou se defender das acusações. “É um momento de… não sei nem explicar. Parte delas, a maior parte, eram consentidas. Se não fosse, eu não ia chegar aqui e mentir para a imprensa”, disse.
O médico segue preso pelos crimes de estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude. A polícia também apreendeu computadores e fichas médicas de pacientes em Uruburetama. Os 63 vídeos gravados pelo acusado vão passar por uma perícia.
“É conhecido como estelionato sexual, porque é igual, no estelionato, a vítima, ela é enganada, então ela passa alguma coisa pro infrator, né, a mesma coisa aqui nessa questão sexual. Ela está lá deitada, fragilizada, tem um médico dizendo que ela está doente e que aquele tipo de procedimento é necessário pra que ele possa verificar qual é a doença que ela tem, entendeu?”, comentou Rogéria Neusa, delegada de Uruburetama.
Profissionais da Associação Médica Brasileira assistiram aos vídeos e afirmam que o caso se trata “claramente” de “estupro das pacientes”.
Após as denúncias, órgãos de saúde reagiram às acusações contra o prefeito:
O Conselho Regional de Medicina suspendeu a licença de medicina de Hilton por seis meses. A Associação Cearense de Ginecologia também informou, na última terça-feira (16), que o médico não tem a especialidade ginecológica, apesar de ter atuado por 30 anos na área.
Conforme as vítimas, José Hilton abusa das pacientes desde a década de 1980. As primeiras denúncias ocorreram em 1994, mas o caso foi arquivado. Várias mulheres afirmaram que não denunciaram por medo ou porque dependiam do prefeito para manter emprego ou ter acesso a serviços públicos.
Em 2018, quatro mulheres voltaram a denunciar Hilson de Paiva por abuso durante atendimento ginecológico. O juiz arquivou o caso, e as mulheres foram obrigadas a pedir desculpa ao prefeito para evitar serem processadas por calúnia e difamação.
O Ministério Público do Ceará (MP-CE) informou que, depois da divulgação dos primeiros vídeos, em março de 2018, e após ouvir quatro mulheres que se identificaram como vítimas do então prefeito, a Promotoria de Justiça de Uruburetama instaurou uma investigação.