Os dois seguranças que assassinaram João Alberto Silveira no estacionamento do hipermercado Carrefour, na noite de quinta-feira, tiveram prisões preventivas decretadas na tarde desta sexta-feira.
Eles foram presos em flagrante, mas a prisão foi convertida pelo juiz plantonista do Foro Central de Porto Alegre, Cristiano Vilhalva Flores. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil. De acordo com o Instituto-Geral de Perícias, a vítima morreu por asfixia.
Conforme o magistrado, “existem indícios de autoria pelas declarações das testemunhas, as quais afirmaram que a vítima fora detida pelos flagrados, sendo que estes teriam argumentado que agiram para cessar uma agressão que a própria vítima teria cometido contra terceiro, funcionário da empresa onde os fatos ocorreram. Os indícios de autoria são reforçados pelos vídeos juntados aos autos, onde se pode verificar toda a ação que culminou no óbito da vítima, que viera a falecer no local”.
“Pela análise do vídeo do momento em que o evento se desenrolou, pode-se constatar que, em que pese possa o fato ter se iniciado por ato da vítima, a ação dos flagrados extrapola ao que se pode conceituar como necessária para a contenção desta, pois passaram a praticar, contra ela, agressões quando já ao solo. Embora não seja este o momento para a verificação da tipificação da conduta dos flagrados de uma forma definitiva, é necessária uma prévia e provisória análise das condutas para um juízo mínimo sobre a gravidade do fato a justificar a manutenção da segregação destes”, apontou o juiz referindo-se a um vídeo da agressão que viralizou nas redes sociais ainda na noite de ontem.
Cristiano Vilhalva Flores também ressaltou que “não há como se afastar, de plano, o dolo homicida na conduta, pelo menos na sua forma eventual”. “Portanto, pelo menos neste momento, até para fins de melhor elucidação de todo o evento trágico ocorrido, a prisão cautelar dos flagrados se justifica, pelo que a aplicação de qualquer outra medida cautelar seria inadequada e insuficiente”.
ASFIXIA
João Alberto Silveira Freitas, morto no hipermercado Carrefour em Porto Alegre (RS), foi morto por asfixia, conforme indicou o primeiro resultado da necropsia realizada pela perícia.Após colher os primeiros depoimentos, a delegada responsável pelo caso, Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, recebeu, na tarde desta sexta, os médicos legistas para elucidar as causas da morte de João Alberto. Durante as agressões, a vítima também foi imobilizada pelos vigias, com o joelho de um deles nas costas.
“O maior indicativo da necropsia é de que ele foi morto por asfixia, pois ele ficou no chão enquanto os dois seguranças pressionavam e comprimiam o corpo de João Alberto dificultando a respiração dele. Ele não conseguia mais fazer o movimento para respirar”, informou.Dois seguranças terceirizados do Carrefour, Giovane Gaspar da Silva, policial militar temporário, e Magno Braz Borges foram levados para prisão. Os dois serão indiciados por homicídio triplamente qualificado – por motivo fútil, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
Além dos dois presos envolvidos na morte de João, a delegada adianta que outros envolvidos estão sendo investigados por omissão de socorro.”Duas ou mais pessoas podem ser implicadas por não terem impedido que as agressões continuassem. Foi uma ação completamente desproporcional e atípica para pessoas que exercerem essa atividade”, disse Roberta Bertoldo.
“Ele pediu minha ajuda”
Abalada, a esposa de João Alberto, Milena Borges Alves, de 43 anos, conversou com a reportagem da Record TV RS.
“Resolvemos fazer umas compras por ele queria muito comer verduras. Daí fomos e chegando no caixa, ele acenou a mão brincando para uma segurança e ela sentiu como uma ofensa”, lembrou.
“Fiquei pagando as compras e disse que ia descer…quando eu estava na escada rolante, os seguranças largaram correndo e cheguei lá embaixo ela já estava imobilizado”, recordou. “Ele gritou por minha ajuda”, acrescentou. A viúva contou que não acreditou no que ocorreu no subsolo do estacionamento do estabelecimento comercial. “Fiquei em choque na hora.
Várias pessoas viram o que aconteceram e foram solidárias e boas comigo…”, contou. “A brutalidade do que fizeram com ele….foi horrível. Não precisava ter matado ele.. por que fizeram isso?”, desabafou. “Um dos seguranças me empurrou..e mesmo depois do falecimento ele continuou imobilizado pelos seguranças”, revelou chorando.
“Quero Justiça, só isso: Justiça”, afirmou a viúva.João Alberto Silveira Freitas deixa quatro filhos de casamentos anteriores. “Sobra uma lacuna dolorosa, dolorosa mesmo, pois jamais imaginei que enterraria meu filho antes de mim. Só me resta o sentimento de Justiça. A vida de meu filho não vai voltar”, declarou o pai da vítima, João Batista Freitas.