“Não é uma indicação do partido. Só soube da nomeação do Fábio hoje de manhã”, afirmou o ex-ministro de Temer e de Dilma
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, disse nesta quinta-feira (11), em entrevista à CNN, que a decisão do presidente da República Jair Bolsonaro de nomear o deputado Fábio Faria (PSD-RN) para ocupar o novo Ministério das Comunicações, reaberto por ele, é uma decisão pessoal do presidente e não passou por discussão com o partido. Faria é genro do dono SBT, o apresentador Sílvio Santos. A indicação é vista como intenção do governo de prestigiar a imprensa dos “amigos”.
“O próprio presidente, em suas palavras, deixou claro que foi uma decisão pessoal, sem nenhuma relação partidária”, disse Kassab. “Não é uma indicação do partido. Só soube da nomeação do Fábio hoje de manhã. O Fábio é um quadro filiado, respeitado e fundador do partido, é meu amigo pessoal, mas [a nomeação] foi escolha pessoal do presidente da República. Seu convite não passou por conversa com o partido, o presidente ou qualquer liderança”.
Kassab, que foi ministro da pasta de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações durante a gestão Temer e das Cidades no governo Dilma, minimizou o fato de Faria ser casado com Patrícia Abravanel, filha de Silvio Santos. “O fato do Fábio ser genro do Silvio não o impede de assumir o ministério. Bem antes de ser casado com a Patrícia, ele já era deputado federal. Nunca foi gestor do grupo [SBT] e tem todas as condições morais e éticas para aceitar o convite”, declarou Kassab ao falar de conflito de interesse. “O convite foi formulado por conta de sua vocação política, sua participação [no SBT] é distante”, acrescentou.
Kassab rejeitou a inclusão do PSD no chamado Centrão. “O PSD não integra o Centrão. Temos pauta comum, convergente na votação de projetos, mas temos vida independente”, disse ele. “O PSD tem quadros próximos e distantes e é independente em relação ao governo”, afirmou.
O deputado Fábio Faria (PSD-RN) foi alvo de quatro inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de recebimento de caixa dois eleitoral e crimes eleitorais. Destes inquéritos, o deputado ainda responde em um deles porque os outros três foram arquivados.
Fábio Faria e Robinson Faria foram apontados por Ricardo Saud, ex-executivo da J&F, como tendo recebido R$ 10 milhões em propina. A afirmação foi feita em depoimento no acordo de colaboração premiada do executivo com a PGR. O caso chegou a ser arquivado por falta de provas, mas, em junho do ano passado, a PGR (Procuradoria-Geral da República) pediu a reabertura de uma investigação contra o deputado com base na colaboração premiada de Ricardo Saud, ex-executivo do grupo J&F.
O pedido teve com base provas obtidas com a quebra de sigilo telemático de um dos advogados envolvidos no caso, denunciado no início do ano pelo Ministério Público Federal por corrupção e lavagem dinheiro por suspeita de participação em um esquema de compra de sentenças na Justiça Eleitoral. Mas, sob a alegação que as provas contra o deputado foram obtidas de forma irregular, a PGR recuou do pedido de reabertura do inquérito.
O pagamento da propina seria em troca da privatização da Companhia de Água e Esgoto do governo do RN, mas a contrapartida não ocorreu porque a empresa perdeu interesse em realizar investimentos nessa área. Parte desses pagamentos teria ocorrido por meio de contratos fictícios com o escritório do advogado Erick Pereira, segundo o depoente.