Um estudo inédito encomendado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) revela que 61,2% das coleções biológicas científicas do Brasil estão alocadas em universidades públicas. Do total, 68% são federais e 32% estaduais. O trabalho foi elaborado por sociedades científicas e possibilitou construir uma base de dados que será utilizado para a formulação de políticas públicas para a área.
“É um dado bastante importante porque não tínhamos. Até pensávamos que o número seria relevante, mas não tão significativo da forma como apareceu no diagnóstico”, analisa a coordenadora do estudo e presidente da Sociedade Brasileira de Zoologia, Luciane Marinoni. “Agora temos a visão do todo”, completa a pesquisadora.
Das 975 coleções biológicas científicas brasileiras listadas inicialmente, 708 responderam ao questionário do estudo. O diagnóstico apontou que as coleções estão alocadas em 220 instituições.
Esse é o primeiro estudo realizado no Brasil que reuniu formalmente informações que constituem uma base de dados sobre o assunto. O estudo foi realizado pela Coordenação-Geral de Ecossistema e Biodiversidade (CGEB) e teve o apoio da Sociedade Botânica do Brasil, Sociedade Brasileira de Microbiologia, Sociedade Brasileira de Virologia e Inmetro.
Além das universidades, o material está em instituições públicas vinculadas a pastas ministeriais, como Fundação Oswaldo Cruz, Embrapa, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Museu Paraense Emílio Goeldi, Instituto Nacional Mata Atlântica (Inma) e Instituto Evandro Chagas.
Juntos os institutos detém 120 coleções e respondem por 8,9%. Universidades privadas sem fins lucrativos, dentre as quais estão as Pontifícias Universidades Católicas, com 54 coleções, que correspondem a 7,6%. Já as instituições públicas vinculadas a secretarias e órgãos estaduais de administração respondem por 45 coleções ou 5,2%.
O Sudeste, com 41,5%, principalmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro reúne o maior volume de pesquisas; o Sul com 21%, ocupa o segundo lugar; Nordeste com 19%, Centro-Oeste com 9,6% e Norte com 9% completam o restante. Em relação ao tipo de coleção, 224 são botânicas, 150 são microbiológicas e 334 são zoológicas.
Os questionários abordam aspectos sobre identificação, caracterização, infraestrutura física e de pessoas, acesso à coleção, digitalização, qualidade do acervo, gestão e priorização de necessidades. Foram mapeadas as coleções de todas as regiões do Brasil, de diferentes grupos taxonômicos (categorias) e de diferentes portes.
“A partir dessas coleções é que se faz ciência e tecnologia no país, principalmente relacionadas à biodiversidade”, afirma Luciane. “Quando mantemos as coleções, estamos mantendo o patrimônio genético. É uma base de conhecimento importantíssima. Algumas coleções são centenárias”, completa.
As coleções científicas brasileiras também são consultadas por pesquisadores estrangeiros. Elas servem como referência para estudos futuros que envolvem mudanças climáticas, para detectar alterações na fauna, flora e microrganismos, entre outros aspectos. As pesquisas que são feitas a partir das coleções ficam registradas e podem ser mapeadas. “São informações para todas as áreas (do conhecimento)”, explica a professora.
Os resultados permitirão ao MCTI as condições para definir prioridades de ação com as demais pastas ministeriais com as quais as instituições detentoras das coleções estão vinculadas. A iniciativa atende a um dos objetivos do diagnóstico, que é subsidiar políticas públicas de fortalecimento das coleções existentes e disponibilizar dados e informações da biodiversidade para a pesquisa e a sociedade
A medida também é importante para se traçar uma ‘radiografia’ do setor como explica o coordenador-geral de Ecossistemas e Biodiversidade do MCTI, Luiz Henrique Canto. “Isso contribui para as políticas de apoio às coleções científicas biológicas, sabendo as lacunas, as fortalezas, onde é necessário um apoio mais estratégico, principalmente considerando-se o quantitativo”.
Também servirá de insumo para a Rede Brasileira de Coleções Biológicas Científicas estimular a cooperação transversal, a troca de experiências, promover capacitações e boas práticas, entre outras. “Esse diagnóstico contribui significativamente para a Rede e as futuras chamadas públicas que serão lançadas para apoio às coleções”, analisa Canto.
O estudo também servirá de fomento para a inserção dos dados sobre as coleções científicas biológicas na base de dados do Sistema de Informação da Biodiversidade Brasileira (SiBBr), uma plataforma eletrônica que integra dados sobre a biodiversidade e os ecossistemas. O diagnóstico apontou que 22% divulgam os dados no SiBBr e 36% constam do catálogo do sistema de diferentes fontes.
Muito bom, gostaria de saber onde encontro a publicação do diagnostico.
Não foi publicado um link para uma edição digital do estudo. Sendo assim, leitora, a obtenção do estudo poderá ser feita diretamente em um dos escritórios estaduais – ou outras repartições – do MCTI.