O suborno teria sido pedido pelo ex-diretor de Logística da pasta, Roberto Ferreira Dias, exonerado na quarta-feira (30), pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. A compra de 400 milhões de doses da AstraZeneca pelo ministério geraria montante ilícito de R$ 2 bilhões.
A CPI da Covid-19 no Senado ouve, nesta quinta-feira (1º), Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se diz representante da empresa Davati Medical Supply. Ele revelou ao jornal Folha de S.Paulo que recebeu pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina em troca da assinatura de contrato com o Ministério da Saúde.
Ao descrever o jantar em que ocorreu o suposto pedido de propina, o depoente disse que se negou a aceitar o referido “acréscimo de UR$ 1 por dose”. E em resposta, Roberto Dias teria pedido para que ele “‘pensasse direitinho e levasse uma nova proposta’”, o que foi entendido como sugestão para que a solicitação de suborno fosse aceita.
“‘Nós temos que melhorar esse valor. Mas é para cima, para mais’”, teria dito Dias no jantar a Dominguetti.
A CPI, instalada em 27 de abril, investiga as ações, omissões e inações do governo federal, sob a liderança do presidente Jair Bolsonaro, na gestão do novo coronavírus. A pandemia da Covid-19 já vitimou, até o momento, 520.081 brasileiras e brasileiros.
TRÊS DIRETORES
Em depoimento, Dominguetti disse que três diretores do Ministério da Saúde tiveram conhecimento da proposta de venda de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.
Segundo ele, as propostas foram repassadas para o ex-diretor de logística Roberto Ferreira Dias, ao ex-secretário-executivo Elcio Franco — braço direito do ex-ministro Eduardo Pazuello — e a uma pessoa que chamou de Laurício, que seria representante da Vigilância Sanitária.
Dominguetti relatou à CPI que, inicialmente, Elcio Franco, segundo no comando do Ministério da Saúde entre junho de 2020 e março de 2021, não sabia das negociações da proposta da venda de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, feita pela Davati.
O depoente disse que se surpreendeu ao notar que Franco não tinha conhecimento das tratativas, visto que se tratava de grande quantidade de imunizantes, e que foi encaminhada a outros diretores do ministério.
“FACILIDADE”
“Nunca se buscou uma facilidade por parte dele [Roberto Dias]. Essa facilidade não ocorreu porque ele sempre colocou o entrave no sentido de que, se não se majorasse a vacina, não teria aquisição por parte do ministério”, disse Dominguetti em depoimento à CPI.
Suposta proposta de propina foi informada ao Cristiano Alberto Carvalho, disse depoente. O procurador da empresa também foi convocado para oitiva na CPI.
Dominguetti reafirmou que a proposta de propina foi de US$ 1 por dose de vacina vendida para o Ministério da Saúde. “Na primeira proposta, a dose US$ 3,50. A Davati estava ofertando ao Ministério da Saúde 400 milhões de doses”, disse à CPI.
ROBERTO DIAS
“O pedido dessa ‘majoração’ foi exclusivamente do senhor Roberto Dias”, explicita o depoente. Ele revelou ainda que o motivo para atuar como represente da empresa foi a necessidade financeira. “Sou cabo da Polícia Militar [de Minas Gerais] e para complementação de renda comecei a trabalhar no ramo de insumo”, disse à CPI.
Dominguetti: “Fui apresentado ao Roberto Dias [diretor de logística do Ministério da Saúde] pelo coronel Blanco”.
O militar o qual o depoente referiu seria o coronel do Exército Marcelo Blanco, que foi assessor no departamento de logística do Ministério da Saúde na gestão de Roberto Ferreira Dias. Segundo ele, o ex-funcionário da pasta já vinha fazendo tratativas com a Davati para a aquisição de vacinas da AstraZeneca.
O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), questionou qual seria a relação do depoente com a empresa Davati e nas negociações com o Ministério da Saúde. Dominguetti respondeu que tinha um acordo verbal com o CEO da empresa no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho, para negociar. Ele afirma que a “parceria” dele com a Davati começou em janeiro.
M. V.