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“Foi humilhante e deplorável para as Forças Armadas”, destacou o presidente eleito
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (10) que a divulgação, por parte do Ministério da Defesa, de um relatório sobre as eleições de 2022 foi “humilhante e deplorável” para as Forças Armadas.
A fala do presidente eleito aconteceu em discurso durante a primeira visita do futuro chefe do Executivo federal ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede da transição de governo. Lula se reuniu com parlamentares aliados para uma série de encontros internos.
Lula comentou sobre o relatório de fiscalização das Forças Armadas em torno do processo eleitoral, divulgado na quarta-feira (9), que não apontou nenhuma fraude ou irregularidade.
“Ontem aconteceu uma coisa humilhante, deplorável para as nossas Forças Armadas. O presidente da República não tinha o direito de envolver as Forças Armadas a fazer uma comissão para investigar urnas eletrônicas, coisa que é da sociedade civil, dos partidos políticos e do Congresso Nacional”, argumentou.
“O resultado [da fiscalização] foi humilhante” para Jair Bolsonaro. “O relatório não diz nada, absolutamente nada daquilo que ele [Bolsonaro] por tanto tempo acusou”. “Eu não sei se o presidente está doente, mas ele tem a obrigação de vir à televisão e pedir desculpas à sociedade brasileira e às Forças Armadas, que é uma instituição séria, uma garantia para o povo brasileiro quanto a possíveis inimigos externos, apresentando um relatório que não diz nada”, afirmou.
O Ministério da Defesa divulgou, às 19h da quarta, o documento que atesta o trabalho “de fiscalização do sistema eletrônico de votação” feito por militares. O documento não destaca elementos que indiquem possibilidades de fraude no pleito do último dia 30 de outubro, que deu a vitória de Lula. Apenas levanta suspeitas de risco.
Lula defendeu que atual presidente “tem obrigação de vir a televisão e pedir desculpas à sociedade brasileira” e aos militares por apresentar um “relatório que não diz nada”. “Um presidente da República pode errar, mas ele não pode mentir”, completou o presidente eleito.
Na quarta-feira, logo após sair o relatório da Defesa, Lula sugeriu que Bolsonaro reconheça a derrota e volte a disputar nas próximas eleições.
“Cabe ao presidente reconhecer sua derrota, cabe a ele fazer uma reflexão e se preparar para daqui uns anos concorrer outra vez. É assim que é o jogo democrático, é respeitar a decisão da maioria do povo brasileiro”.
O documento assinado pelo ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), destaca dois pontos observados pelos especialistas das Forças Armadas. O primeiro é que “foi observado que a ocorrência de acesso à rede, durante a compilação do código-fonte e consequente geração dos programas (códigos binários), pode configurar relevante risco à segurança do processo”.
O segundo, dos testes de funcionalidade, realizados por meio do Teste de Integridade e do Projeto-Piloto com Biometria, para o Ministério da Defesa, “não é possível afirmar que o sistema eletrônico de votação está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar o seu funcionamento”.
Apesar de levantar a suspeita, o documento não diz como o sistema poderia ter o funcionamento alterado ou se isso ocorreu.
O relatório da Defesa diz que: “Quanto à ‘Compilação, Assinatura Digital e Lacração dos Sistemas Eleitorais’, a ocorrência de acesso à rede, durante a compilação dos códigos-fonte e consequente geração dos programas (códigos binários), pode configurar relevante risco à segurança do processo, o que sugere a realização de uma investigação técnica para melhor conhecimento do ocorrido e de seus possíveis efeitos”.
Contudo, o especialista Giuseppe Janino, ex-secretário de Tecnologia da Informação do TSE, rebateu e explicou que a etapa da compilação do código-fonte é realizada com as máquinas desconectadas das redes, isto é, offline. Dessa forma, a “fragilidade” que a Defesa tentou imputar às eleições é falsa.
“Esse procedimento é feito com equipamentos offline. As máquinas que fazem a compilação estão desligadas da rede, da internet, principalmente”, esclareceu Janino.
Ele também disse que qualquer “código malicioso” que fosse inserido, em caso de conexão com a internet, no código-fonte poderia ser identificado no teste de integridade. O teste, no entanto, não identificou nenhuma anomalia.
“O teste de integridade serve justamente para isso: se há qualquer software malicioso, ele teria que se manifestar durante o processo de simulação, exatamente como ocorre na votação”, sustentou.