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Mãe Bernadete líder do Quilombo Pitanga dos Palmares em Simões Filho, região metropolitana de Salvador
Na noite da última quinta-feira (17) a liderança quilombola baiana e coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) Bernadete Pacífico, foi assassinada a tiros dentro da associação do Quilombo Pitanga dos Palmares, na cidade de Simões Filho, na região metropolitana da capital baiana.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública da Bahia, dois homens, usando capacetes, entraram no imóvel onde estava a vítima, e efetuaram disparos com arma de fogo.
Segundo o filho de Bernadete, Wellington dos Santos, em entrevista à TV Bahia, na manhã desta sexta-feira (18), a mãe foi assassinada com tiros no rosto. “Minha família está sendo perseguida, meu irmão foi morto da mesma forma. Não vamos parar, quilombo sempre será resistência”, disse o filho da líder assassinada.
A SSP disse ainda que as polícias Militar, Civil e Técnica, após tomarem conhecimento do fato, iniciaram de imediato as diligências e a perícia no local para identificar os autores do crime. A secretaria ainda repudiou o crime.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), disse que recebeu “com pesar e indignação” a notícia da morte de Mãe Bernadete, a quem chamou de “amiga e grande liderança quilombola da Bahia”. Ele ainda afirmou que determinou o deslocamento imediato das forças de segurança para o local e que elas sejam firmes na investigação.
Mãe Bernadete, como era conhecida, é ex-secretária municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e líder da comunidade quilombola da cidade de Simões Filho.
Em nota, o presidente Lula lamentou a morte da líder quilombola e colocou os ministérios à disposição para a investigação do crime. “O governo federal, por meio dos ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e Cidadania, mandou representantes e aguardamos a investigação rigorosa do caso. Meus sentimentos aos familiares e amigos de Mãe Bernadete”, diz Lula.
Segundo a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, criminosos invadiram o terreiro onde Bernadete estava. “O racismo religioso mata e produz violências reais”, escreveu a ministra.
“O ataque contra terreiros e o assassinato de lideranças religiosas de matriz africana não é pontual. O racismo religioso é mais uma faceta da conformação racista que estrutura o país e precisa ser combatido por meio de políticas públicas”, diz a nota de Anielle Franco.
Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, também determinou o envio de uma equipe da pasta até o local do assassinato.
Segundo a Conaq, Bernadete era mãe de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho do Quilombo. Ele era líder da comunidade Pitanga dos Palmares e foi assassinado há 6 anos.
“Mãe Bernadete, agora silenciada, era uma luz brilhante na luta contra a discriminação, o racismo e a marginalização”, afirma o comunicado do órgão.
“Atuava na linha de frente para solucionar o caso do assassinato do seu filho Binho e bravamente enfrentou todas adversidades que uma mãe preta pode enfrentar na busca por justiça e na defesa da memória e da dignidade de seu filho”, continuou.
DENÚNCIAS DE VIOLÊNCIA AO STF
Em julho, a liderança quilombola participou, ao lado de outras lideranças quilombolas da Bahia, de um encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber.
O evento ocorreu na comunidade Quingoma, em Lauro de Freitas, também na Região Metropolitana de Salvador. Na ocasião, Bernadete denunciou ameaças e violências contra a comunidade quilombola. O encontro aconteceu um dia antes da divulgação do Censo do IBGE com dados das comunidades quilombolas.
Ela destacou a luta por justiça pela morte do filho. “Para a senhora ter uma ideia, até hoje não sei o resultado do assassinato de meu filho. Abalou todo mundo. Foi no mesmo período em que aconteceu a morte de Marielle (Franco). Inclusive, eu fui em diversos encontros com a mãe de Marielle. É injusto. Recentemente perdi outro amigo e uma amiga em um quilombo. É o que nós recebemos: ameaças, principalmente de fazendeiros, de pessoas da região”, disse em trecho do discurso durante o evento com Weber.
“Hoje eu vivo assim, que eu não posso sair, que estou sendo revistada, minha casa toda cheia de câmeras, me sinto até mal, mas é o que acontece”, disse Bernadete.
A deputada estadual Olívia Santana (PCdoB-BA) demandou uma investigação minuciosa do crime, destacando que os responsáveis não podem escapar da justiça. Ela expressou sua solidariedade aos familiares e à comunidade que sofre com essa perda irreparável.
“Investigações rápidas e punições exemplares aos criminosos é o que se exige do Ministério da Justiça e do governo da Bahia”, destacou o deputado federal Orlando Silva (PCdoB) nas redes sociais.
Veja a repercussão nas redes: