Mais de 600 pacientes com sintomas leves e moderados da Covid-19 participaram do estudo que foi publicado nesta semana na revista médica “The New England Journal of Medicine”. Não houve diferença na evolução os pacientes que tomaram e que não tomaram a medicação
Um novo estudo, realizado no Brasil e publicado na revista médica “The New England Journal of Medicine”, sobre a eficácia da Hidroxicloroquina, associada ou não ao antibiótico Azitromicina, no tratamento de casos leves e moderados de Covid-19, revelou que a substância não tem eficácia contra o novo coronavírus nesta fase da doença. Os pacientes evoluíram de forma semelhante tomando ou não a medicação. Os que tomaram a cloroquina apresentaram efeitos colaterais hepáticos e cardíacos.
O estudo foi realizado pela Coalizão COVID-19, que ainda conduz outros oito estudos sobre o tema. O grupo é formado por Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).
Participaram do estudo 667 pacientes atendidos em 55 hospitais brasileiros. Os autores explicam que os pacientes incluídos no estudo tinham idade em torno de 50 anos e pouco mais da metade era do sexo masculino. Os participantes eram pacientes recém-admitidos ao hospital (até 48 horas) que tivessem sintomas iniciados, no máximo, até sete dias antes. Além disso, 40% eram hipertensos, 21% eram diabéticos; 17% eram obesos.
Por sorteio, eles foram divididos em três grupos: um com 217 pacientes recebeu hidroxicloroquina e azitromicina, outro com 221 pacientes recebeu hidroxicloroquina e o terceiro, com 227 pacientes, apenas suporte clínico padrão.
Em um período de 15 dias, os pesquisadores afirmam que estavam em casa sem limitações respiratórias: 69% dos pacientes do grupo hidroxicloroquina + azitromicina + suporte clínico padrão; 64% dos pacientes do grupo hidroxicloroquina + suporte clínico padrão; 68% dos pacientes do grupo suporte clínico padrão.
Ou seja, “o status clínico (…) foi similar nos grupos tratados com hidroxicloroquina e azitromicina, hidroxicloroquina isolada ou grupo controle”, apontou o estudo. A interpretação dos autores é que “a utilização de HCQ ou Azitromicina não promoveu melhoria na evolução clínica dos pacientes”. Em relação a morte de pacientes, o número em 15 dias foi semelhante entre os grupos, em torno de 3%.
Alterações em exames de eletrocardiograma (aumento do intervalo QT, que representa maior risco para arritmias) foi mais frequente nos grupos que utilizaram hidroxicloroquina; Alteração de exames que podem representar lesão hepática foi mais frequente nos grupos que utilizaram hidroxicloroquina. De acordo com o estudo, “não houve diferenças para outros eventos adversos, como arritmias, problemas hepáticos graves ou outros”.
Mesmo sem eficácia comprovada, o presidente Jair Bolsonaro, testado positivo para doença por três vezes, segue insistindo em recomendar o uso do medicamento. No último domingo (19), Bolsonaro se encontrou com apoiadores e fez, mais uma vez, propaganda do medicamento. Parecendo uma ideia fixa ele ofereceu a cloroquina até para animais que vivem no Palácio da Alvorada.
Abaixo a conclusão do trabalho brasileiro publicado na “The New England Journal of Medicine”
Entre os pacientes hospitalizados com Covid-19 leve a moderado, o uso de hidroxicloroquina, sozinho ou com azitromicina, não melhorou o estado clínico em 15 dias, em comparação com o tratamento padrão. (Financiado pela Coalition Covid-19 Brazil e EMS Pharma; número ClinicalTrials.gov, NCT04322123. Abre em uma nova guia.)
A doença de coronavírus 2019 (Covid-19), causada por SARS-CoV-2 (síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2), está associada a considerável morbimortalidade. A hidroxicloroquina tem efeitos antivirais in vitro e, sugeriu-se que em associação com a azitromicina, diminuísse a carga viral de SARS-CoV-2 em um pequeno estudo não randomizado.
Com base nessas evidências, a hidroxicloroquina mais a azitromicina têm sido usada por alguns profissionais no tratamento de pacientes com Covid-19. Além disso, algumas agências reguladoras nacionais autorizaram o uso de hidroxicloroquina em pacientes hospitalizados com esta doença.
No entanto, estudos observacionais sugeriram não haver nenhum efeito benéfico da cloroquina ou hidroxicloroquina em pacientes hospitalizados com Covid-19. Não houve benefício da hidroxicloroquina na profilaxia pós-exposição ou no tratamento da Covid-19. Realizamos um estudo controlado multicêntrico, randomizado e aberto, controlado (Coalition Covid-19 Brasil I) para avaliar se a hidroxicloroquina, sozinha ou em combinação com a azitromicina, seria eficaz na melhoria do estado clínico 15 dias após a internação devido ao Covid-19 leve a moderado.
Quem quiser avaliar o trabalho na íntegra, pode fazê-lo aqui