Em manifesto lançado nesta quinta-feira (2), empresariado mineiro desautoriza adesismo da Fiemg e repudia articulação antidemocrática do Planalto
Mais de 300 empresários mineiros lançaram nesta quinta-feira (2) um manifesto em defesa da democracia e em oposição ao apoio dado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) às atitudes golpistas de Bolsonaro.
O documento dos empresários mineiros condena com veemência a falta de harmonia dos três poderes em Brasília e os ataques à democracia e rejeita a ruptura pelas armas. A Fiemg havia concentrado suas críticas ao Supremo Tribunal Federal que é alvo também dos ataques golpistas de Bolsonaro.
O apoio da Fiemg a Bolsonaro foi repudiado por sindicatos que integram a Câmara da Indústria de Comunicação e Audiovisual da entidade. O documento é assinado pelo Sindicato da Indústria do Audiovisual de Minas Gerais (Sindav-MG), pelo Brasil Audiovisual Independente (Bravi-MG), pelo Fórum dos Festivais, pela Agência de Desenvolvimento do Polo Audiovisual da Zona da Mata e por mais duzentas entidades.
“As entidades signatárias desta declaração não foram consultadas e sequer comunicadas a respeito do conteúdo do texto. Não concordamos com as ideias expressas no manifesto”, ressalta a nota de repúdio. Ex-presidente da Fiemg, Olavo Machado Júnior, vê que o momento é de entendimento, sem desmerecer a atuação do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
“Não devemos fazer crítica a nenhum dos poderes. A intenção não é essa. A intenção de Minas, como no primeiro manifesto, é sempre mostrar a importância da harmonia dos poderes, para que todos tenham seus méritos e defeitos. Pode ser que um tenha um defeito mais explícito, mas não vai ser apontando erros que vamos chegar a algum lugar”, diz o empresário que assina o Segundo Manifesto dos Mineiros.
“Todo dia, o Executivo faz discurso em que fala e termina sobre democracia, mas o conteúdo é antidemocrático. Portanto, há risco para a democracia. No Legislativo, quem manda é o Centrão e não a vontade do eleitor que o elegeu ou da sociedade. No Judiciário, a Suprema Corte paga um preço caro pelas decisões recentes. Temos uma Polícia Federal, Ministério Público e auditores competentes, mas em vez de financiar campanhas públicas por meio dos veículos privados e fiscalizados, preferiu tomar R$ 3 bilhões ou R$ 4 bilhões de um dinheiro de orçamento público federal, enquanto não há dinheiro para vacina, saúde, educação e segurança”, ressalta o empresário José Anchieta da Silva, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (AC Minas), idealizador do manifesto.
Ele diz que o momento atual tem semelhanças com o primeiro manifesto pela entrada do país na guerra, lançado na década de 1940: “No primeiro, o Brasil vivia o período da Segunda Guerra Mundial. E hoje vivemos uma nova guerra, a pandemia da COVID-19 com três poderes desarmonizados. O Brasil está derretendo e não dá para esperar”. As diversas lideranças que assinaram o documento concordam que o país precisa de estabilidade para caminhar com as próprias pernas.
Para Nadim Donato, presidente do Sindicato dos Lojistas de Belo Horizonte (Sindilojas), a união é fundamental para sair do momento de turbulência: “Não adianta confrontar, e sim precisamos da união das entidades e dos poderes, já que o momento é muito ruim. Não saímos da pandemia. As empresas não conseguiram voltar à normalidade de suas vendas e não conseguiram recompor seus quadros funcionais. Se tivermos um país instável, como vamos recompor funcionários e voltar a vender?”.
O empresário considerou ainda que “o STF erra, mas acerta também. Não pode acabar com uma instituição. A Fiemg tomou uma postura em que ela acredita, que não pode existir essa situação dentro do Supremo, mas, em contrapartida, apesar dos erros, o poder está constituído”. Por sua vez, o médico José Salvador, presidente da rede Mater Dei, defende a democracia como elemento fundamental da sociedade: “O ideal é um regime democrático com liberdade e que permite o desenvolvimento do país como um todo. Quando rompe o sistema democrático, todos perdem. Perdem a sociedade, o estado e o município. Para que haja desenvolvimento, é preciso que haja leis e confiança mútua”.
Leia a íntegra do “Segundo Manifesto dos Mineiros ao Povo Brasileiro”:
“As mudanças estruturais que o Estado Brasileiro necessita (e que o Povo Brasileiro reclama) exigem das lideranças, todas, e daqueles que ocupam cargos e funções nas estruturas produtivas e fornecedoras de serviço e de conhecimento (tanto públicas quanto privadas) uma urgente tomada de posição.
A ruptura pelas armas, pela confrontação física nas ruas, é sinônimo de anarquia, que é antônimo de tudo quanto possa compreender uma caminhada serena, cidadã e construtiva. A democracia não pode ser ameaçada, antes, deve ser fortalecida e aperfeiçoada. O que se pretende provocar é outro tipo de ruptura: a ruptura através das ideias e da mudança de comportamentos em todas as dimensões da vida.
O objetivo é construir (na verdade, reconstruir) um projeto de Nação para o Brasil, dando sentido novo ao que seja patriotismo, de modo a fazer do povo brasileiro uma gente mais feliz e colocando o Brasil como Nação altiva, livre e democrática no concerto das Nações.
O país necessita de uma verdadeira “reforma do Estado” (reforma continente) nela compreendendo as reformas internas necessárias, sobressaindo: a reforma político-eleitoral, a reforma administrativa, a reforma do sistema de educação (só a educação transforma as pessoas), a reforma do sistema de segurança, a reforma orçamental e econômica, a reforma do sistema tributário (são reformas de conteúdo).
Já se revelou, e faz tempo, equivocada uma maneira de governar onde os Municípios e os Estados são reféns permanentes do que pensa e do que deseja o governo central sediado em Brasília. Esse centralismo que aumenta as desigualdades, já impôs atraso e miséria a toda a Nação Brasileira.
Vive-se um século XXI que já vai alto e os problemas da gente brasileira continuam, na base, praticamente os mesmos: analfabetismo, esquecimento, ausência de infraestrutura básica (como água e esgoto, por exemplo), além do agravamento de uma escalada criminosa crescente, em vários sentidos (de balas perdidas, assaltos e discriminações).
É preciso valorizar, e se necessário for criar um novo capitalismo que valorize a inteligência humana, um capitalismo humanizado, porque o centro da vida é a Pessoa Humana.
É quase ulceroso falar, no Brasil, em reforma constitucional, mas é imperativo reconhecer que a Constituição de 1988 já cumpriu o seu papel histórico de assegurar a democracia e de valorizar a cidadania. Quanto ao demais, o que dela se recolhe é um texto antônimo de si mesmo, na medida em que oferece, para uma mesma pergunta, como resposta, sempre um sim e um não. Não se desconhece a delicadeza do tema e as dificuldades a serem encontradas no seu enfrentamento.
É preciso extirpar das leis todo tipo odioso de privilégio que cria castas e diferenças entre as pessoas em função de seus fazeres e de suas responsabilidades. É situação, afinal, que não faz de Pessoa alguma, figura diferente e privilegiada em relação aos demais. É preciso repristinar esta verdade: perante o Estado todos os cidadãos são cidadãos comuns.
É preciso pôr fim à vida estamental do aparelho do Estado que, no Brasil, desde sempre, é uma presa capturada por grupos de pessoas que se autoprivilegiam e conduzem a vida das pessoas segundo seus interesses pessoais, secundando os legítimos interesses do Povo e da Sociedade Brasileira.
É preciso criar mecanismos eficientes de erradicação e de controle da erva daninha da corrupção, banindo da vida pública aqueles que se servem do Estado para, criminosamente, atender a interesses menores e que não correspondam às obrigações do cargo e das funções que exerçam. Tais medidas devem alcançar, por igual, aqueles que ocupem posições de destaque em todos os poderes do Estado: Executivo, Legislativo, Judiciário e Instituições agregadas.
É preciso criar mecanismo a permitir que as instituições representativas da Sociedade Civil tenham voz ativa junto aos poderes constituídos, fazendo as vezes daquele ‘Poder Moderador’ criado na França pelo pensador Benjamin Constant, de modo a nunca mais permitir arranjos que, atendendo a interesses outros, não correspondam aos anseios da Sociedade e do Povo Brasileiro.
O Brasil se insere dentre os países do mundo que já viveram todas as experiências de governos e mandonismos: o Brasil colônia deu lugar ao Brasil império; que deu lugar ao Brasil república, a velha e a nova; experimentou, por mais de uma vez, as ditaduras; conheceu, em voo de pássaro, a experiência do parlamentarismo, antes de chegar à nova república. Portanto, a experiência para reescrever o Brasil quem a possui somos nós próprios: os Brasileiros.
Esse passado inspirador retém matéria prima suficiente para que possamos, de mãos dadas, construir um futuro promissor para o Brasil-nação. A respeito, é relevante trazer a texto a constatação de que instituições brasileiras sérias e comprometidas existem e são inúmeras, como ilhas, no entanto. O propósito deste Manifesto está em propiciar a ligação de todas essas ilhas, dando-nos as mãos. Se todas essas ilhas derem as mãos, a partir de propósitos comuns, construiremos um grande Brasil-arquipélago.
Dessa construção, (na verdade, reconstrução), sobressairá fortalecido o respeito à integridade das pessoas e suas diferenças e nascerá uma sociedade mais tolerante. É preciso plantar e implantar definitivamente uma política que reconheça o valor do meio ambiente.
As mudanças estruturais e estruturantes que este Manifesto suscita – e que por certo serão aprimoradas – caminharão através de um ‘GRANDE PACTO PELO BRASIL’. Esta é a pregação maior com a qual se pretende plantar e colher um Brasil que tenha futuro.
Registro final: Não se adota neste texto por equívoco, como título, a expressão ‘SEGUNDO MANIFESTO DOS MINEIROS’. A iniciativa compreende um alertar a Gente Mineira e a Gente Brasileira, chamando a atenção para aquele corajoso e desprendido ato praticado por um grupo de pró-Homens conseguiu.”