“Ele nunca foi contra corrupção”, denuncia a vice-presidente do PCdoB e ex-deputada. “Compra desses caminhões compactadores de lixo pelo governo tem como objetivo atender sua base no Congresso, e a distribuição é usada por senadores, deputados e prefeitos para desfilarem pelas cidades e cativarem eleitores”
Mais denúncias de corrupção envolvendo o governo de Jair Bolsonaro (PL). Essas são de superfaturamento na compra de caminhões de lixo pelo governo. O que gerou reação de lideranças políticas e pedido da oposição para apurar o caso.
Vice-presidente nacional do PCdoB, Manuela d’Ávila alertou, na segunda-feira (23), por meio das redes sociais, para o fato de que tais compras beneficiam a base de apoio do presidente no Congresso, em particular o chamado Centrão.
“Bolsonaro nunca foi contra a corrupção, Bolsonaro é parte do problema”, enfatizou.
“Mais um escândalo de corrupção envolvendo o governo Bolsonaro. Segundo matéria publicada pelo Estadão, a compra e distribuição de caminhões de lixo para pequenas cidades saltaram de 85 para 488 veículos de 2019 para 2021”, exemplificou a dirigente política.
“Mas, para quem pensa que Bolsonaro e sua turma estão preocupados com saneamento básico e reciclagem, a aquisição desses caminhões em nada tem a ver com isso”, pontificou Manuela.
ILUDIR ELEITORES
A dirigente salientou, ainda, que “a compra desses caminhões compactadores de lixo pelo governo tem como objetivo atender sua base no Congresso, e a distribuição é usada por senadores, deputados e prefeitos para desfilarem pelas cidades e cativarem eleitores”.
Ela lembrou, também, que municípios com menos de 8 mil habitantes “receberam até três veículos potentes em menos de um ano mesmo sem produzir resíduos suficientes para enchê-los. Enquanto isso, cidades que realmente precisam deste equipamento e que, inclusive, já solicitaram para os órgãos responsáveis, ainda não receberam nenhum”, denunciou.
Outro ponto denunciado por Manuela é que “além do aumento repentino de preços para a compra dos caminhões, a investigação feita pelo Estadão aponta indícios de uso de funcionários e empresas laranjas”.
RANDOLFE QUER APURAÇÃO PELO TCU
As denúncias feitas pelo jornal O Estado de S. Paulo, no último domingo (22), mostraram uma série de incongruências que envolvem a compra de caminhões de lixo nos últimos anos.
É o caso de cidades pequenas que receberam mais caminhões do que necessita, empresas fantasmas e superfaturamento — como, por exemplo, a diferença de R$ 114 mil no preço de veículos iguais comprados com apenas um mês de diferença.
Segundo a reportagem do Estadão, ao menos R$ 109 milhões podem ter sido inflados nesse processo.
Na segunda-feira (23), o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ingressou com representação no TCU (Tribunal de Contas da União) para que o caso seja apurado.
ENTENDA O CASO
A disparada na compra de caminhões de lixo pelo governo Jair Bolsonaro com preços inflados, reveladas no último domingo (22), pelo Estadão, ganhou a hashtag “Bolsolão do Lixo” e se tornou um dos assuntos mais comentados do Twitter, no início da tarde de domingo.
Foram 7.977 tuítes sobre o assunto em uma hora. Por volta das 13 horas, o “Bolsolão do Lixo” havia superado 7,5 mil tuítes e internautas passaram a publicar memes com e sobre o assunto. Um desses exibiu caminhão de lixo com cifrão na traseira do veículo e o slogan do governo “Pátria Amada Brasil” na lateral.
“No governo sem corrupção, tem corrupção até no lixo”, escreveu uma conta no Twitter.
Reportagem publicada domingo passado mostra que após Bolsonaro se associar ao Centrão, a compra e distribuição de caminhões de lixo pelo governo saltaram de 85 para 488 veículos de 2019 para 2021. Bolsonaro costuma dizer que o governo dele não tem corrupção, a despeito de diversas ilegalidades reveladas pela imprensa.
DESPESAS FORA DO PADRÃO
O investimento público federal com coleta de lixo, serviço essencial para o bem-estar da população, virou foco de despesas milionárias crescentes e fora do padrão nos últimos anos.
Avaliados com cuidado, esses gastos revelam transações difíceis de entender, como a da cidade do interior de Alagoas que tem menos lixo do que caminhões para recolhê-lo ou a diferença de R$ 114 mil no preço de veículos iguais, comprados no espaço de apenas um mês — sem falar da presença de empresas fantasmas no meio das operações.
Durante 2 meses, a equipe do Estadão analisou cerca de 1,2 mil documentos referentes à aquisição desses veículos com verbas do Orçamento federal, incluindo relatórios, planilhas e vídeos, num total de 7,7 gigabytes de dados.
FINS ELEITOREIROS
A distribuição de caminhões compactadores de lixo é usada por senadores, deputados e prefeitos para ganhar a simpatia e o voto dos eleitores de cidadezinhas pobres, onde a chegada desse tipo de auxílio é visível e faz enorme diferença. Até agora, o governo já destinou R$ 381 milhões para essa finalidade.
A reportagem identificou pagamentos inflados de R$ 109 milhões.
A diferença dos preços de compra de modelos idênticos, em alguns casos, chegou a 30%. Em outubro passado, por exemplo, o governo adquiriu modelo de caminhão por R$ 391 mil. Menos de um mês depois, aceitou pagar R$ 505 mil pelo mesmo modelo do veículo.
Há casos também em que o governo recebeu veículos menores do que o comprado sem reaver a diferença de preço. Município de oito mil habitantes ganhou três caminhões compactadores num período de um ano e três meses, enquanto cidades próximas não têm nenhum. Inclusive cidades com mais de 17 mil habitantes, para as quais esse tipo de caminhão é mais compatível e recomendado.
Até beneficiário do auxílio emergencial ganhou licitações para fornecer caminhões de lixo para o governo.
“BOLSOLÃO DO LIXO”
Do jeito que está montada, revela a reportagem, a compra dos caminhões pelo governo para atender a base de apoio no Congresso não segue nenhuma política pública de saneamento básico e não garante todas as fases da coleta de lixo.
Caminhões são destinados às pequenas cidades sem qualquer plano para construção de aterros sanitários, como determina lei.
No Piauí, por exemplo, o lixo coletado é jogado em terrenos a céu aberto em 89% das cidades. Mesmo assim, a prioridade dos chamados políticos do governo foi a aquisição desses veículos.
M. V.
Com informações do Portal Vermelho