Por 37 a 9, senadores barraram a indicação de Fabio Mendes Marzano para delegado permanente do Brasil na ONU. Aconteceu também em 2015, com Dilma, mas o caso é raríssimo
Os senadores rejeitaram, na terça-feira (15), o indicado de Jair Bolsonaro e de seu ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para o cargo de delegado permanente do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), Fabio Mendes Marzano.
Marzano, que é o atual secretário de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania, recebeu apenas 9 votos favoráveis entre os senadores, enquanto outros 37 votaram contra sua indicação.
Entre os diplomatas, a derrota foi considerada uma “surra” ou “o 7×1 do Beato Salú”. “Beato Salú” é como Ernesto Araújo é conhecido, pela semelhança com o personagem da novela Roque Santeiro, de Dias Gomes.
Marzano foi rejeitado após uma reação do senador Major Olimpio (PSL-SP), que criticou a forma como o indicado se dirigiu à senadora Kátia Abreu (PP-TO) durante sabatina na Comissão de Relações Exteriores.
“Ao ser sabatinado na comissão por uma das nossas senadoras, quando ela argumentava, de forma coerente – como o Senado tem obrigação – esse senhor, de maneira grotesca, irresponsável, simplesmente disse que não era de sua alçada e não responderia à senadora. Então eu peço ao Senado que não vote por essa indicação”, disse major Olimpio.
A última vez que o Senado barrou a indicação de um embaixador foi em 2015, durante o governo Dilma Rousseff. O governo tinha indicado Guilherme Patriota para ser o representante do Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington. A votação foi apertada e ele foi impedido de assumir o cargo por 37 votos contra 36.
Durante a sabatina na Comissão de Relações Exteriores, a senadora Kátia Abreu (PP-TO) perguntou a opinião de Fabio Marzano sobre os desgastes internacionais causadas pela alta do desmatamento e das queimadas durante o governo Bolsonaro, mas ele se recusou a responder.
O indicado de Bolsonaro disse que não tem “mandato” para opinar e que o cargo para o qual tinha sido indicado não se ocupa de temas ambientais.
Kátia Abreu disse que a recusa “envergonha o Itamaraty, o Senado e o Brasil”. “O Itamaraty está virando uma casa dos terrores, onde os embaixadores não podem abrir a boca e dar as suas opiniões”, apontou a senadora.
Na votação no plenário, o senador Major Olimpio (PSL-SP) pediu aos demais colegas que também votassem para impedir a nomeação de Fabio Marzano. Olimpio criticou a postura do secretário de Ernesto Araújo em relação à pergunta feita por Kátia Abreu.
“Se o Senado votar nesse cara, nós estaremos negando a nossa própria existência e o respeito a cada um de nós. Então, eu peço, eu encareço: vamos votar contra, o Senado todo. Que se faça outra indicação no começo do ano”.
“Mas vir aqui dizer o que foi dito, de forma grotesca, e isso sair barato! ‘Ah, mas eu sou do time do chanceler’. Para o inferno o chanceler! Respeito ao Senado, respeito aos Senadores! Vamos todos votar contra esse cidadão”, apelou.