Após uma série de medidas do governo de Jair Bolsonaro (PSL) com a intenção de paralisar centenas de produções audiovisuais, manifestantes realizaram um ato em defesa da Agência Nacional de Cinema (Ancine). O ato “Fica Ancine”, em repúdio à censura, pela normalização das atividades da Agência Nacional do Cinema, e pela manutenção do seu escritório central na cidade Rio de Janeiro, foi realizado nesta terça-feira (17), na rua Graça Aranha, na Cinelândia, em frente ao prédio da agência.
Também foram espalhadas dezenas de cartazes com os dizeres “Fica Ancine”, “Censura Nunca Mais”, “Audiovisual com a Educação”, “Audiovisual gera 20bi”, “Os recursos do FSA são provenientes da indústria audiovisual”, entre outros. O ato encerrou-se por volta de 19h nas escadarias do Theatro Municipal Municipal do Rio de Janeiro.
Segundo os manifestantes que entregaram flores brancas para os servidores da Agência, o setor audiovisual tem passado por um período de turbulência. A insegurança institucional paralisou centenas de produções que seguiram à risca todas as regras definidas pelo governo. A mesma insegurança institucional breca o trabalho da Agência Nacional de Cinema (Ancine), onde um corpo de servidores altamente especializado se via até a semana passada às voltas com ordens desencontradas, rumores de remoção para Brasília e suspensão de programas e editais sem justificativas razoáveis.
A convocatória do ato também destaca a falta de distribuição e de espaço para a exibição dos filmes nacionais. “Um único filme estrangeiro ocupa quase 90% das salas de cinema, tirando espaço de produções nacionais de sucesso e de outras que nunca chegam a encontrar seu público. Na internet, a questão se repete: sem regulamentação, serviços globais de streaming oferecem o que é mais barato, privando o público da grande diversidade de obras feitas em seu próprio país”.
Os manifestantes também destacam a importância do setor audiovisual para a economia. “A indústria do cinema fatura cerca de 20 bilhões anuais, emprega meio milhão de pessoas e até meses atrás vinha sobrevivendo bravamente à crise. Até o ano passado, para cada real investido em audiovisual, três reais voltavam para a economia do país. Neste ano, o número de produções despencou, deixando uma quantidade imensurável de profissionais à deriva, sem trabalho”.
“Foi pensando em unir essas três pontas fundamentais: público, gestores e produtores, que decidimos fazer um ato em apoio aos trabalhadores que lutam diariamente para construir um audiovisual 100% nacional, original, livre e democrático. Nacional, porque nenhuma cinematografia vai retratar nossa vida, nossa alma e nossos sonhos como a que é feita por autores brasileiros. Original, porque nosso cinema brilha nas telas de todo o planeta, conquista prêmios nos principais festivais internacionais, impressiona olhos e ouvidos em todos os continentes contando histórias que apenas brasileiros podem contar. E livre, porque é assim que a arte deve ser: capaz de dialogar com públicos de todas as idades, gostos, classes sociais, orientações afetivas e inclinações políticas”, diz trecho do manifesto que convocou o ato de ontem.
Ainda segundo o manifesto, o ato é a favor de “uma Ancine bem-gerida, eficiente e mantida no Rio, evitando que o governo, em meio a enorme crise fiscal, *tenha gastos milionários* com a mudança do escritório central do Rio para Brasília. Além do gasto exorbitante, a agência corre o risco de perder boa parte de seu corpo técnico de quase 400 funcionários, baseado há 18 anos no Rio de Janeiro”.
Eles também repudiam as tentativas de censura de conteúdo pelo governo Bolsonaro. “Estamos certos de que o público sabe escolher o que quer ou não ver, o que seus filhos devem ou não ver. A Constituição garante que essas são questões de foro íntimo e o governo deve ficar fora delas”.