Além da pandemia de Covid-19, debate entre Manuela D’Ávila e Sebastião Melo abordou temas como redução do IPTU e a melhoria do transporte público na capital gaúcha
No primeiro debate do segundo turno das eleições à Prefeitura de Porto Alegre, a candidata Manuela D’Ávila (PCdoB) saiu em defesa da vacina e criticou Jair Bolsonaro pela politicagem feita entorno do imunizante.
Além da pandemia de Covid-19, o embate entre Manuela e Sebastião Melo (PMDB), realizado na manhã desta quarta-feira (18), pela Rádio Gaúcha se acirrou quando temas como IPTU e transporte público foram abordados no encontro.
Manuela e Melo foram questionados pela Rádio Gaúcha sobre como farão o enfrentamento da pandemia no ano que vem, considerando a possibilidade de uma segunda onda da doença na cidade.
“Nós faremos a gestão própria da vacina. Eu não posso admitir, hoje, que nós tenhamos um debate ideológico sobre a vacina. Veja só, o presidente acha que não se pode negociar vacina com a China. Eu quero negociar com a China, com a Rússia, com Oxford, com quem quer que seja que produza a vacina, quero negociar com o Butantan em São Paulo que está produzindo. Nós vamos usar o Fundo Covid criado pelo Marchezan para fazer testagem dirigida e evitar a transmissão. Teremos uma solução construída junto com os trabalhadores e trabalhadoras do IMESF [Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família] e com aqueles que estão nas unidades contratadas garantindo assim a estabilidade nas unidades básicas de saúde para que a população não sofra com a Covid”, afirmou Manuela.
A candidata ainda disse que criará um “comitê de crise, como eu já havia proposto ao prefeito Marchezan, para negociarmos condições objetivas para que a economia permaneça aberta”.
Após Manuela apresenta suas propostas para o tema, Melo concordou com suas declarações e disse que também acha importante a ideia dela de criar um comitê de crise. “Eu e a Manuela temos algumas convergências, se eu ganhar a eleição também terei um comitê de Covid chamando infectologistas economistas, médicos e os setores produtivos da cidade pra que a gente tome as melhores decisões. Esse abre e fecha quebrou muita gente, deixou muita gente desempregada. A economia precisa abrir com os protocolos sanitários necessários. Nós vamos reabrir a economia com muita segurança”, afirmou o candidato do PMDB.
Melo também disse que acredita que Bolsonaro vá comprar a vacina, mas que se não, ele irá fazer um consórcio metropolitano e preparar a cidade para a vacina.
Manuela ainda destacou a experiência de reabertura do Maranhão, dirigida por Flávio Dino (PCdoB). “O Maranhão foi o primeiro estado a reabrir, em 24 de maio. Hoje é o estado que mais cresce do Nordeste, que mais gerou empregos durante o processo da pandemia. Ou seja, é possível com diálogo e responsabilidade, sem negar a existência da pandemia e seus graves impactos econômicos e sociais. Reabrir dialogando com esses setores e monitorando, sobretudo a testagem e a ação que o Consórcio do Nordeste estabeleceu de brigadas para impedir a ampliação do contágio nas comunidades”.
Manuela também ressaltou a importância de se debater o impacto da pandemia no vínculo das crianças com a escola. “Eu prefeita farei um esforço para que as nossas crianças não percam esse vinculo. Observo esse debate como mãe e, obviamente, como quem quer governar a cidade e vejo que às vezes ficamos preocupados se vai voltar, se vai aprender ou não vai. As crianças têm condições de aprender meio ano depois, não é só essa a questão. Nós estamos falando sobre a volta do trabalho infantil. Por isso, no nosso programa, nos temos a chamada Renda de Proteção da Infância, para garantir que essas crianças não estejam trabalhando e voltem para a escola.
Melo defendeu a reabertura, disse que abrir com capacidade muito reduzida é a mesma coisa que não reabrir. Para ele é preciso de protocolos que garantam segurança para reabrir mais. Defendeu o mesmo para as escolas. “A economia precisa girar porque se não, não tem dinheiro para a saúde, para creche nem para tapar buraco”.
IPTU
A revogação do aumento do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana esquentou o clima do debate.
Na atual gestão, os valores do IPTU foram alterados pelo prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB), que se candidatou a reeleição, mas não foi ao segundo turno. A mudança no tributo gerou aumento em determinadas regiões e diminuição em outras.
Após ter pedido nas urnas, Marchezan anunciou que poderia encaminhar à Câmara de Vereadores um projeto para rever os reajustes que recém foram aprovados.
No debate, Manuela e Melo foram questionados se aceitariam a proposta de rever o reajuste. Manuela foi enfática e disse que concordava com a revisão para o comércio. “A gente quer suspender aumento do IPTU para comércio, serviços e indústrias. Nesses casos, quem paga é o locatário e esses negócios foram bastante atingidos pela pandemia”, disse a candidata do PCdoB.
Melo fez outra proposta. “Nós estamos propondo o cancelamento (do aumento do IPTU)”, tanto em áreas comerciais quanto residenciais, disse o candidato do PMDB.
Melo ainda disse que deveria se respeitar o mandato de Marchezan, que vai até 31 de dezembro e que o que ele fizer neste período não terá interferência dele.
Manuela rebateu e disse que os boletos para o pagamento do IPTU já começam a ser gerados este ano e que não se envolver na questão agora é deixar qualquer revisão apenas para 2022, portanto sem qualquer solução imediata.
Ela observou que a proposta mais abrangente do adversário iria trazer mais impactos para os cofres públicos. “Se ele quer suspender o aumento geral do IPTU, o impacto no ano que vem não é R$ 34 milhões, é de R$ 78 milhões.”
Melo defendeu dizendo que não está “abrindo mão de receita”, “o que foi arrecadado já está no caixa e nós não vamos anular aumentos, impostos que foram pagos, nós vamos deixar de arrecadar aqueles aumentos que estão pela frente”.
Por fim, Manuela salientou que sem a revisão imediata, quem mais sofre com o tributo, terá de pagar um alto reajuste e que revendo apenas depois a Prefeitura perde muito mais arrecadação. Para ela, Melo iria abrir de dinheiro dos mais ricos, contrários ao reajuste. A candidata ainda salientou “os mais pobres pagaram menos IPTU no último ano”.
TRANSPORTE
Depois do debate sobre o IPTU, o segundo ponto alto do encontro entre os candidatos foi quando se discutiu o transporte público da cidade que é alvo de reclamações constantes dos passageiros por ter uma das tarifas mais altas entre as capitais.
Uma passagem de ônibus Em Porto Alegre custa atualmente R$ 4,55. O valor era de R$ 4,70 até o começo do mês, mas foi reduzido por Marchezan na véspera do primeiro turno das eleições municipais.
“Nós representamos dois caminhos diferentes, tu (Melo) representas a experiência da licitação que nos trouxe até aqui [em referência à gestão de que Melo foi vice-prefeito]. Foi no teu governo que Porto Alegre fez a licitação que chegou a esse resultado com linhas que não chegam aos bairros mais populares e com a tarifa mais cara do país”, disse ela.
“Como nós queremos conduzir o tema do transporte público na cidade? Primeiro lugar, retomando a gestão pública sobre o transporte público, com o papel estruturante da Carris [empresa pública de transporte porto alegrense]. Eu não tenho dois discursos, eu defendo a Carris pública, que, em um momento de crise, assumiu as linhas para as populações mais pobres, que tu te manifestas tanta preocupação aqui”, afirmou Manuela.
Na sequência, Melo foi questionado pelo mediador do debate, o jornalista Daniel Scola, sobre qual modelo preferiria para a Carris: pública ou privada.
“Primeiro, parece que a Manuela é contra licitações. O serviço público tem que licitar, não dá para dar para os amigos. A licitação foi feita e nós vamos repactuá-la, significa modelar aos interesses da cidade. Têm linhas hoje que andam meio dia, que tem 20 passageiros e ônibus têm 50 lugares. Isso não pode acontecer, isso é gestão. As lotações estão quebradas, precisa integrar. Têm linhas que são superavitárias e outras que não são. Pessoas que trabalham noturno, em vários bairros, não têm ônibus para voltar”, disse Melo.
“Para mim não interessa se é público ou privado em qualquer área, da saúde… (…) Para mim, o interesse é que o serviço seja público. A Carris responde por 22% do transporte coletivo em Porto Alegre, ela vai estar nessa repactuação. Nessa repactuação ela não pode continuar pública? Não, dependendo. Eu quero resolver o cidadão que precisa ter ônibus”, acrescentou o candidato.
Logo após, o apresentador perguntou para Manuela se valia a pena ter uma empresa pública com déficit.
“A Carris não teve déficit quando foi bem administrada, eu até achei engraçado. Eu defendo licitação Melo, mas eu defendo licitação bem feita que leve em conta os interesses da população. E o resultado está aí, quem anda nos ônibus vê a tarifa mais cara e o serviço pior. Esse é resultado da experiência que tu representa nesse debate” disse Manuela.
“E também não defendo dar nada para os amigos, sobre dar para os amigos, tem gente aqui que entende bem, porque a Carris foi pessimamente administrada na experiência que tu representa. Tu sabe tudo que aconteceu lá e não queremos, de fato, retomar aquele nível de experiência de gestão”, complementou a candidata.