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A médica Ludhmila Hajjar, em entrevista à GloboNews, nesta segunda-feira (15), deixou muito claro e explícito que recusou o convite do presidente Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Saúde porque não havia uma “convergência técnica”, ou seja, não trocaria a ciência que sempre defendeu, como profissional, pelo negacionismo doentio e obscurantista pregado pelo chefe do Executivo, executado, até hoje, sob a batuta do general da logística, Eduardo Pazuello, e pregado aos berros, nas ruas e através dos fake News digitais, pelo séquito bolsonarista.
“Sou médica, cientista, especialista em cardiologia e terapia intensiva, tenho todas as minhas expectativas em relação à pandemia. O que eu vi, o que eu escrevi, o que eu aprendi está acima de qualquer ideologia e acima de qualquer expectativa que não seja pautada em ciência”, afirmou Ludhmila.
Ao longo de sua explanação, a médica defendeu uma posição inteiramente oposta à que vem sendo defendida e praticada por Bolsonaro e seu ministro da Saúde.
“O Brasil precisa de protocolos, e isso é para ontem. Tem que reunir os especialistas, as sociedades médicas que tem que estar com seus representantes dentro do Ministério da Saúde ajudando o Brasil (…) Nós estamos discutindo azitromicina, ivermectina, cloroquina. É coisa do passado. A ciência já deu essa resposta. Cadê um protocolo de tratamento? (…) Perdeu-se muito tempo na discussão de medicamentos que não funcionam”, disse ela.
“Não se vê nada disso. (O que se vê) é discussão sobre se o governador está certo ou errado. Gente, os governadores e prefeitos estão desesperados, porque o povo está morrendo e bate na porta deles”, enfatizou Ludhmila.
A médica também revelou que um dos motivos da recusa foi a convicção, após a conversa, que o ministro da Saúde, sob Bolsonaro, não terá autoridade para atuar tecnicamente contra a pandemia.
“É um desejo meu que quem vá substituir o Pazuello tenha autonomia. Depende uma mudança do governo, do que pensa sobre a pandemia”, salientou.
O CENÁRIO É SOMBRIO. BRASIL VAI CHEGAR A 500, 600 MIL MORTES…
“O cenário é bastante sombrio. O Brasil vai chegar em 500 mil, 600 mil mortes… Mas não só isso, o impacto que essa doença terá em doenças a longo prazo, sequelas e consequências que não estão sendo pensadas. Um projeto que eu acho necessário é ter um projeto no Ministério da Saúde para cuidar disso. Temos que reativar centros de reabilitação. As pessoas saem dessa doença incapacitadas para trabalhar”, avaliou.
PROMOVER O ISOLAMENTO E AGILIZAR AS VACINAS
A médica defendeu, ainda, medidas de distanciamento social para reduzir a mortalidade e prioridade à negociação de vacinas.
“Penso para isso neste momento, para reduzir as mortes, tem que reduzir a circulação das pessoas, de maneira técnica e respaldada por dados científicos.”, considerou.
“Não podemos perder tempo com as vacinas. Nós já perdemos muito tempo. Tem que ser um esforço nacional, com melhora da articulação nacional. O Brasil tem que falar com a OMS, tem que falar com o mundo todo, tem que pedir ajuda e tem que ser ágil na aquisição de vacinas. Esperar que a população seja vacinada até dezembro, vão se perder muitas vidas”, argumentou sobre o processo de vacinação.
AMEAÇAS DOS ESPALHA-VÍRUS
Ludhmila relatou, na entrevista, até mesmo as ameaças de morte que sofreu.
“Nestas 24 horas houve uma série de ataques a mim. (…) Estou num hotel em Brasília, e houve três tentativas de entrar no hotel. Pessoas que diziam que estavam com o número do quarto e que eu estava esperando-os. Diziam que eram pessoas que faziam parte da minha equipe médica. Se não fossem os seguranças do hotel, não sei o que seria…”, contou.
E continuou: “realmente foi assustador. Está sendo, porque eles não terminaram. Mas eu tenho muita coragem, e pelo Brasil eu estava disposta a passar por isso. Mas isso me assustou. Criaram perfis falsos meus em Twitter, perfis falsos em Instagram. Divulgaram meu celular em redes sociais. Imagina, eu sou uma médica, eu preciso do meu telefone para atender meus doentes. Eu recebo mais de 300 chamadas. Ameaças de morte. Houve uma tentativa de entrar no meu hotel no qual eu estou em Brasília. Houve ameaças à minha família. Então, tudo o que você imaginar de pessoas que eu só posso considerar que estejam lutando para o Brasil dar errado eu sofri”, afirmou.
“FAZ PARTE”, DIZ BOLSONARO SOBRE OS ATAQUES
Questionada sobre o que o presidente disse diante da campanha de ódio de qual foi vítima, Ludhmila afirmou: “ele disse que faz parte”.
A revelação da médica apenas comprova que Bolsonaro, enquanto conversava com ela, em função do pedido do presidente da Câmara, Arthur Lira, e de outros parlamentares do centrão, açulava sua turba histérica a promover aglomerações dos que se opõem às medidas sanitárias e são a favor da propagação do vírus.
Ludhmila, quando se reuniu com Bolsonaro, estava diante do principal responsável pelos ataques que ela própria sofreu em razão de seu compromisso com a ciência e o combate à pandemia.
Bolsonaro deixou claro, na conversa com Ludhmila, que precisa de um novo ministro da Saúde que pense e atue como ele e seu entorno desmiolado que aos bandos bradavam contra as vacinas pelas ruas do país neste domingo, vociferando contra a vida e glorificando a morte.
Ao fazer uma referência ao deputado Lira como alguém preocupado em buscar uma solução para o grave problema da pandemia, ela justificou sua vinda a Brasília: “enxerguei uma chance de vir aqui tecnicamente, sem nenhuma ligação política, como quiseram me ligar à esquerda… Eu, mais uma vez, digo que não tenho ligação política alguma. Eu ando com médicos. Meu partido político é a saúde”, ressaltou.