Elias Jabbour fala ao HP sobre o trabalho de divulgação de informações sobre a China, que realiza como estudioso e pesquisador. “É incrível como não é notícia no Brasil a superação da extrema-pobreza no país mais populoso do mundo!”, destacou, após ressaltar a importância de “desmontar fake news sobre a China”.
Ao final do texto da entrevista, o leitor poderá assistir a dois episódios do programa Meia Noite em Pequim.
Hora do Povo – Com seu programa Meia Noite em Pequim você enfrenta fake news e traz informações relevantes sobre a China. Como avalia a importância desse trabalho?
Elias Jabbour – Acho que vai se tornando algo não somente uma questão de utilidade pública, mas estratégico politicamente desmontar as fake news sobre a China. Na medida em que as mentiras que se contam sobre a China vão ganhando corpo e tornando-se senso comum também vai se diminuindo espaços para discussões sobre as reais alternativas ao neoliberalismo e, mesmo, sobre as possibilidades que o socialismo guarda à humanidade e que são expostas pela experiência chinesa. É incrível como não é notícia no Brasil a superação da extrema-pobreza no país mais populoso do mundo! É incrível como as pessoas simplesmente não sabem que a vida na China voltou ao normal há cerca de um ano enquanto o ocidente ainda nem sabe por onde começar quando o assunto é o pós-pandemia. É este espírito militante que acaba guiando nosso trabalho com o programa Meia Noite em Pequim na TV Grabois
HP– A linguagem é um tanto informal e bem humorada. Amplia sintonia com a juventude?
EJ -Você sabe que não é somente uma questão de ampliar a sintonia com a juventude. Evidente que isso é fundamental, mas as próprias “notícias” que se espalham sobre a China pela grande imprensa em si já se conformam em verdadeiras piadas prontas. Neste sentido a chamada “vergonha alheia” ajuda na dose de humor que usamos nos episódios.
HP – Como se dá a escolha dos temas e a gravação de cada episódio?
EJ – Existem os “temas quentes” como os relacionadas ao Xinjiang e que precisam de respostas imediatas e tem as mentiras deslavadas que necessitam de elucidação. Por exemplo, essas questões sobre “trabalho escravo”, “ditadura”, “democracia”. Evidente que outro critério é mais estratégico, tratar temas de fronteira como socialismo e a liberdade de imprensa sob o socialismo são fundamentais. Sempre comento com a editora do canal, a Manuela D`Ávila, que não temos que ter medo de abordar nenhum tema e se posicionar sobre eles. Nunca ficar em cima do muro.
HP – Como e quando surgiu seu interesse em pesquisar e estudar a China?
EJ – Já estudo a China desde a metade da década de 1990 quando iniciei minhas pesquisas ainda na graduação em geografia na USP. Mas meu interesse principal sempre foi o de buscar responder se o socialismo é uma proposta de sociedade factível do ponto de vista econômico ou não. Evidente que falar em socialismo desde aquela época teria de falar em China. E estou nesse tema desde então.
HP – Como estudioso da China você se destaca por valorizar a pesquisa in loco. O que isso representa para o seu trabalho científico ?
EJ -Já fui à China cinco vezes, sendo que ao menos duas delas passei muitos meses no país, viajando por terra por todas as províncias. Acumular uma boa teoria e capacidade de abstração e poder observar a dinâmica de uma formação social no concreto é uma combinação que não é das mais fáceis. Talvez esteja aí um diferencial que estamos construindo ao longo do tempo.
*Elias Jabbour é professor dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Econômicas e em Relações Internacionais da UERJ.
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