
Sob a regência da chanceler Ângela Merkel, o estado da Baviera, no sul da Alemanha, inaugurou no dia 1º de agosto o primeiro campo de concentração para “refugiados”, fazendo com que os imigrantes aguardem atrás das grades a decisão oficial sobre seu destino. Os chamados “centros-âncora” (Ankerzentren) integram o bizarro plano elaborado pelo ministro do Interior, Horst Seehofer, da extrema-direita, para reduzir através do medo o número de pessoas que buscam abrigo no país e, ao mesmo tempo, acelerar o prazo de deportação dos refugiados.
Conforme o governo alemão, a engenhoca racista dará maior velocidade à tramitação dos processos sob o mesmo “teto”: chegada, solicitação de refúgio, decisão se o imigrante pode ficar ou não. Cada um dos chamados “centros-âncora” deverá ter capacidade para abrigar 1.500 refugiados, com a deportação ocorrendo já a partir do local de confinamento. Diante desta nua e crua realidade, as organizações humanitárias têm condenado os Ankerzentren como “campos de deportação”.
“Está claro que os ‘centros-âncora’ servem para dissuadir, estimular a desistência. Trata-se de enviar um sinal aos refugiados de que eles não são exatamente bem-vindos aqui”, sintetiza o pesquisador de movimentos migratórios, Werner Schiffauer, condenando a infame xenofobia por detrás da iniciativa.
Em cada uma das sete localidades na Baviera onde serão erguidos os “centros para refugiados”, na fronteira com a Áustria, também haverá escritórios – para agilizar e facilitar a deportação sem burocracia – do Departamento de Estrangeiros estadual, do Departamento Federal para Migração e Refugiados (Bamf) e dos tribunais administrativos.
Sem qualquer base legal para implementar os Ankerzentren, o governo alemão tentou ganhar tempo e alega que sua concretização dependerá de uma “avaliação” após uma “fase-piloto” de seis meses. Só então e, após aprovado, Merkel e Horst disseram que vão criar uma base legal para implementar os tais centros, para o que precisarão do apoio dos diferentes governos estaduais. A situação é difícil, pois poucos estados se mostraram favoráveis ao perverso plano. Além da Saxônia (leste) – onde um desses centros deverá ser estabelecido em Dresden – apenas o estado de Hessen (centro-oeste) e da Renânia do Norte-Vestfália (oeste) demonstraram algum interesse pelo xenófobo modelo.
Conforme Werner Schiffauer, presidente do Conselho de Migração, uma rede nacional formada por cerca de 150 pesquisadores especializados em questões de migração e integração, os centros só devem ajudar os “casos óbvios”, acelerando processos como o dos “sírios que vêm diretamente das zonas de guerra”. “Mas o que quase não vai mudar são os casos difíceis, a exemplo de refugiados afegãos que, em parte, já estão fugindo pela segunda vez”, explica Schiffauer, e que “demoram muito tempo”, “como mostram os exemplos das cidades de Manching e Bamberg”. Nos dois centros de acolhimento bávaros, há bem mais do que mil pessoas, disse, refugiados que esperam uma resposta quanto à deportação sem exercer qualquer atividade e sem perspectivas de futuro, além de viverem amplamente isoladas do mundo exterior.