37,1% foram abaixo da inflação e 9,3% tiveram zero de ganho real, segundo a Fipe
A Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe) da USP divulgou nesta quarta-feira, 22, o boletim mensal Mercado de Trabalho e Negociações Coletivas, referente a julho de 2018, também conhecido como “salariômetro”, mostrando que 37,1% dos acordos fechados no mês ficaram abaixo do INPC.
Ao todo, somados aos acordos em que o ganho real (acima da inflação) foi zero, nada menos que 46,4% dos acordos não representaram nenhum aumento para os trabalhadores.
A pesquisa é feita com dados do Ministério do Trabalho e Emprego (TEM) e do IBGE, segundo os quais a inflação nos últimos 12 meses, até julho, ficou em 3,5%. Se considerarmos o reajuste médio dos salários nos últimos 12 meses, o resultado também é ruim, com 3% apenas acima da inflação. Além disso, o número de acordos que foram iguais à inflação e, portanto, sem ganho real, ficou em 9,3%.
Não apenas o número de desempregados aumentou em 1,3 milhão no segundo trimestre de 2018, na comparação com o mesmo período do ano passado; também o salário de quem consegue trabalhar está cada vez menor.
Segundo a pesquisa, “o INPC previsto em alta e o baixo nível da atividade econômica dificultarão a volta dos reajustes reais nos próximos meses”. Também o professor da Faculdade de Economia da USP e coordenador do salariômetro, Hélio Zylberstajn, aponta para a alta da inflação como um dos fatores, mas ressalta que não é só isso: “O acumulado da inflação deu um salto, praticamente dobrou. E, com a economia parada como está, não há como as empresas darem aumento real aos trabalhadores”, afirma.
REFORMA TRABALHISTA
A pesquisa também diferencia os acordos coletivos, celebrados entre trabalhadores de uma determinada empresa e a direção, e as convenções coletivas, discutidas entre toda a categoria e os sindicatos patronais.
Como já havia ficado constatado com dados do primeiro semestre de 2018, o número de acordos e convenções coletivas diminuiu. Novamente essa realidade se comprova, e na comparação de janeiro a julho, este ano teve uma redução de 33% nos acordos frente a 2017.
Grande parte disso é devido à reforma trabalhista – a permissão de colocar o acordado sobre o legislado fez com que patrões e sindicatos patronais quisessem eliminar direitos garantidos anteriormente, e a resistência dos trabalhadores não permite que esses acordos sejam firmados.
Outro ponto em que a reforma trabalhista ataca os direitos dos trabalhadores está na negociação coletiva: ela permite que sejam feitos acordos individuais de salário, sem a participação de sindicato ou qualquer instrumento de representação dos trabalhadores. Assim, não apenas inibiu-se a formação de convenções coletivas, como os acordos gerais por empresa também ficam ameaçados.
Agora, é possível verificar que a maioria das negociações que ficaram abaixo do INPC representam aquelas celebradas com empresas, sem a participação do sindicato. Neste mês de julho, foram 41,9% dos Acordos Coletivos que não conseguiram repor a inflação no período, contra 21,7% das Convenções.
Embora ambos os números sejam muito altos, a pesquisa mostra que em todos os meses, com exceção de junho, o número de Convenções abaixo do INPC foi menor do que o de Acordos.
É esse o resultado da política de arrocho e austeridade. Desde que os cortes na economia começaram em 2014, o número de desempregados começou a aumentar, e salvo alguns meses em que tradicionalmente há mais ofertas temporárias de emprego (como no final do ano, com o aumento no setor de comércio e hotelaria), a quantidade de desempregados e trabalhadores informais só aumenta, enquanto diminui aqueles com carteira assinada. Para quem consegue trabalhar, resta o arrocho.
ANA CLÁUDIA