Moradores da Zona Norte de Macapá, no Amapá, foram surpreendidos na madrugada desta segunda-feira (23) com a explosão de transformadores e curto generalizado na rede elétrica. Há mais de 20 dias, o estado enfrenta uma crise de falta de energia elétrica com repetidas falhas e apagões.
As explosões, ocorridas por uma sobrecarga do sistema, aconteceram um dia após a ida de Bolsonaro ao estado para a inauguração de geradores de energia. Desde a sua chegada, ele foi recebido sob vaias pela população, que repudiou a omissão frente a crise que vive o estado.
A visita não foi para ajudar a resolver o grave problema que vive a capital do Amapá e diversas outras cidades do estado, mas apenas uma tentativa de autopromoção fracassada.
“Senhor, tenha misericórdia. Apaga esses fogos”, disse uma moradora do bairro Brasil Novo em Macapá
Além da capital, mais 12 municípios estão há 21 dias sem o fornecimento completo de energia elétrica devido à falta de manutenção de transformadores pela LMTE. Moradores relatam um estado de crise humanitária, reconhecido pelo Ministério do Desenvolvimento Regional. Não há apenas falta de energia, mas também de água, perda de alimentos perecíveis, altas temperaturas, insegurança alimentar e ainda violência policial que atacou os manifestantes que protestavam contra a negligência do Estado.
O Amapá chegou ao 21º dia de apagão após dois blecautes e quase 90% da população com fornecimento de eletricidade racionado.
O governo federal havia anunciado que 100% do estado teria energia com os geradores termoelétricos neste sábado (21). Segundo o Ministério de Minas e Energia, os 47 geradores instalados em subestações da capital e da cidade de Santana seriam suficiente para atingir os 100% da carga necessária para abastecer todas as cidades, porém no sábado foram ligados só 20 megawatts dos 45 contratados.
O governo não divulgou o custo dos geradores, que foram pagos com verba do governo federal à Eletronorte, estatal que vem socorrendo a LMTE (Linhas de Macapá Transmissora de Energia), privatizada em 2015.
O senador pelo Amapá Randolfe Rodrigues (Rede-AP) acusou a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de não fiscalizar a companhia de transmissão LMTE. Segundo Rodrigues, a LMTE estaria com o transformador reserva parado desde o fim do ano passado e teria se aproveitado da pandemia para emitir um ofício dizendo que não poderia se responsabilizar por possíveis falhas.
A Gemini Energy, holding responsável pela LMTE, levou quase um ano para enviar o transformador inoperante para conserto em Santa Catarina. Com problemas desde dezembro de 2019, o contrato de reparo do equipamento foi assinado somente em setembro, mas o transporte começou apenas no domingo passado, já em meio ao apagão.
Comissão Internacional
A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e Terra de Direitos denunciou a resposta do presidente Jair Bolsonaro ao apagão no Amapá à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Os grupos pedem que a entidade internacional tome medidas cautelares. Os grupos solicitaram que a Comissão se pronuncie para garantir a defesa da vida e da integridade física das comunidades quilombolas do Amapá.
A Conaq e a Terra dos Direitos solicitam que à CIDH que atue para determinar ao governo brasileiro o restabelecimento imediato dos serviços de distribuição de energia elétrica em todoestado do Amapá, garantindo acesso ao serviço essencial a todas as comunidades quilombolas, inclusive aquelas privadas do fornecimento antes do apagão.
O documento também pede que a Comissão cobre o governo brasileiro para que envie ajuda humanitária para as populações quilombolas afetadas, com distribuição de água potável e alimentação imediata. Além disso, é solicitado que seja garantida a infraestrutura para que todas as comunidades afetadas tenham acesso a hospitais e tratamento de saúde adequados.
A petição denuncia a “grave situação qual estão submetidas, aproximadamente, duas mil famílias quilombolas amapaenses, nos municípios de Macapá, Calçoene e Santana, após 18 dias de falta de energia elétrica no estado” e foi endereçada à secretária Executiva Adjunta da Comissão Interamericana Maria Claudia Pulido.