“Quem foi afastado foi o diretor-geral da Polícia Federal, quem foi substituído foi o superintendente da PF do Rio de Janeiro e quem foi demitido foi o ministro da Justiça e não alguém do Gabinete de Segurança Institucional (GSI)”, lembrou o ex-ministro
O ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou em entrevista à Globonews na noite de domingo (5) que “a reunião ministerial do dia 22 de abril falou por si mesma”, ao ser perguntado sobre as negativas de Bolsonaro de que teria tentado interferir na Polícia Federal.
“Quem foi afastado foi o diretor-geral da Polícia Federal, quem foi substituído foi o superintendente da PF o Rio de Janeiro e quem foi demitido foi o Ministro da Justiça e não alguém do Gabinete de Segurança Institucional (GSI)”, disse Moro.
“Nunca houve nenhuma dificuldade na troca no GSI e na segurança de pessoas do presidente”, acrescentou o ex-ministro ressaltando que estava dizendo a verdade quando denunciou a interferência na Polícia Federal. “Me cobraram provas do que eu estava dizendo e, além disso, o presidente da República foi para a Rede TV dizer que eu estava mentindo. Por isso eu apresentei aqueles dados, mas cabe à Procuradoria-Geral da República avaliar se houve crime ou não”, explicou Moro.
“Não se pode combater a corrupção se o Ministério Público não é independente, se o delegado da Polícia Federal não pode agir de maneira autônoma, se você não tem juízes independentes”, ressaltou.
“Se você não tem o império da lei, se você não tem o Estado de direito, você não tem democracia”, prosseguiu Moro, ao falar das tentativas de interferência indevida na Polícia Federal. Ele disse que quando entrou no governo tinha a expectativa de que pudesse avançar no combate à corrupção, mas que esta expectativa foi se perdendo com o tempo.
Sobre o caso Queiroz, Moro disse que o melhor é que esses fatos todos fossem logo esclarecidos. Ele defendeu a autonomia do Ministério Público do Rio de Janeiro nas suas investigações. Defendeu que não pode haver “esses cantinhos escuros que não podem ser investigados”. “O governo deve esclarecer todas essas situações”, observou.
O ex-ministro cobrou iniciativas do governo que apontassem para autonomia dos órgãos de investigação, lembrou e defendeu a escolha da Procuradoria por lista tríplice e mandato para o diretor da Polícia Federal. “Há uma série de ações que o governo poderia tomar para mostrar que ele leva a sério a agenda anticorrupção”, afirmou.
Moro também falou sobre as insinuações de que a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba tivesse protegido o deputado Rodrigo Maia e o senador David Alcolumbre, ambos do DEM. “Até onde eu saiba, eles não estavam sendo investigados. Então é grave essa afirmação, sem base em dados, de que estaria havendo esse tipo de comportamento por parte dos membros do Ministério público”, afirmou o ex-ministro.
Sobre as denúncias de corrupção na saúde, alvo do Ministério Público e da Polícia Federal nos estados, o ex-juiz disse que desvios de recursos públicos da saúde como os que vêm sendo relatados em ações de combate ao novo coronavírus, ‘são quase como um genocídio’. “Como cidadão, me sinto mal. Nenhuma sociedade vive com níveis tão gritantes de corrupção ou impunidade”, disse Sérgio Moro.
“Ver situações que podem envolver desvios de recursos públicos para a compra de equipamentos ou material para salvar vidas, o desvio desse tipo de recurso, não vou dizer que é um crime lesa-pátria, é quase um crime de genocídio. Você deixar as pessoas ao desamparo, aproveitando a fragilidade e a vulnerabilidade do sistema de controle, ou dessa urgência decorrente da pandemia para ter esse tipo de comportamento. Vejo com grande pesar”, afirmou.