Levantamento foi apresentado à CPI da Câmara Municipal de São Paulo que investiga a operadora que adotou o “kit covid” em seus pacientes
Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) revelou que a taxa de mortalidade por Covid-19 na rede Prevent Senior foi maior que em outros hospitais da rede privada e da rede pública de São Paulo. O levantamento foi apresentado nesta quinta-feira (17) em sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal de São Paulo, que investiga a operadora.
A pesquisa mostrou que, ao longo da pandemia, as UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) brasileiras, em comparação com outros países, apresentaram taxas de mortalidade maiores de Covid-19. No caso da Prevent, o levantamento apontou que no período da pandemia, pacientes com menos de 60 anos internados na UTI por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), o que inclui também a Covid-19, tinham mais chances de sobreviver em um hospital público do que no Sancta Maggiore, da rede Prevent Senior.
Nos hospitais da operadora, a probabilidade de morte foi de cerca de 50% para os pacientes do grupo etário. Significa que a cada dois internados na UTI com a síndrome respiratória, um morria. Nas unidades públicas, essa probabilidade era inferior, de aproximadamente 40%. O médico Paulo Hilário Nascimento Saldiva, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, apresentou o estudo, elaborado por um grupo multidisciplinar de pesquisadores da universidade.
O objetivo do estudo era entender o desempenho dos hospitais no enfrentamento da doença. Os cientistas analisaram dados da base do SIVEP-Gripe de internações e óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causada por Covid-19. Os centros médicos foram avaliados entre 1º de janeiro de 2020 e 15 de novembro de 2021 e classificados em públicos, privados e híbridos – que atendem às duas modalidades.
O Albert Einstein, o Sírio Libanês e o Oswaldo Cruz foram os hospitais privados de alto custo incluídos no estudo; as unidades do Sancta Maggiore, da Prevent Senior e demais privados de baixo custo. O Hospital Santa Marcelina é o único híbrido incluído no levantamento.
No período, foram registradas 166.994 internações por Covid-19 na capital. Deste total, 23% dos pacientes morreram. Além disso, 34% dos doentes passaram por tratamento intensivo e 40% dos que precisaram de UTI morreram. Desse total, o Sancta Maggiore apresentou índice de letalidade 38,6%, enquanto no Hospital das Clínicas a taxa foi de 32,5%, e no Hospital São Paulo foi de 32%. Já os outros hospitais públicos em geral tiveram taxa de mortalidade de 26,9%, enquanto nos privados o índice foi de 17,3%. Nos hospitais de alto custo, o risco de morrer por Covid foi de 9,3% no Oswaldo Cruz, 9% no Albert Einstein e 8,5% no Sírio Libanês.
“Apesar de ser um plano de saúde pago, a Prevent tem índices de mortalidade piores do que os hospitais públicos, por faixa etária. Isso prova que muita coisa foi feita errada e corrobora com as nossas investigações. Também desmonta o discurso da operadora de que ela teve um resultado muito bom no combate à Covid — disse o presidente da CPI, vereador Antonio Donato (PT).
Durante a sessão na Câmara, Paulo Saldiva destacou que o comportamento da Prevent Senior se mostrou pior que o do Hospital das Clínicas, que recebe os casos mais graves. “Você chega lá de helicóptero, de ambulância, não chega andando no Hospital das Clínicas. Você chega pela Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (CROSS)”, explicou. “São os casos que precisam de diálise, de circulação extracorpórea, são os casos que estão mais avançados. E a Prevent Senior teve um comportamento parecido com o HC”, completou.
Segundo a pesquisa, o Sancta Maggiore apresentou índice de letalidade 38,6%, enquanto no Hospital das Clínicas a taxa foi de 32,5%, e no Hospital São Paulo foi de 32%. Já os outros hospitais públicos em geral apresentaram taxa de mortalidade de 26,9%, enquanto nos privados o índice foi de 17,3%. Nos hospitais de alto custo, a chance de morrer por Covid foi de 9,3% no Oswaldo Cruz, 9% no Albert Einstein e 8,5% no Sírio Libanês.
Em nota, a Prevent Senior disse não ter tido acesso ao estudo, apesar de tê-lo solicitado ao pesquisador Paulo Saldiva. A operadora, que procurou desqualificar a pesquisa, disse que os dados apresentados na Câmara são incompletos, alegando que nenhum paciente foi sequer examinado pelos responsáveis pelo estudo. A empresa alega ainda que o desempenho dos hospitais da rede Sancta Maggiore é superior à média dos hospitais estaduais. “Em suma, o estudo produzido pelo pesquisador foi feito com base em premissas incompletas, para dizer o mínimo”, afirmou a Prevent.
Instalada no dia 7 de outubro de 2021, a CPI da Prevent Senior busca apurar denúncias relacionadas a atuação da operadora de saúde na capital paulista durante a pandemia. Entre as denúncias, o uso em pacientes do chamado “Kit Covid”, composto por medicamentos sem eficácia científica comprovada, desautorizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com efeitos nocivos à saúde. A empresa também é suspeita de negar tratamento a doentes graves nas unidades de terapias intensiva, levando-os à morte.
A possível subnotificação do número de casos e de óbitos por Covid-19 dos pacientes que foram atendidos nos hospitais da rede Sancta Maggiore é outra suspeita que recai sobre a operadora. O intuito era diminuir a quantidade de registros para que pacientes com Covid-19 não tivessem a doença anotada em seus prontuários. Nos casos de morte, a informação também teria sido suprimida dos atestados de óbito.
Familiares das vítimas acusam a Prevent Sênior de praticar atendimento paliativo. Era quando os doentes eram encaminhados para uma clínica da rede na Vila Madalena, na capital paulista, para receber os “cuidados”. O objetivo seria a liberação de leitos nos hospitais após o óbito. A prática teria sido batizada de “alta celestial”.
JOSI SOUSA