O Ministério Público de São Paulo pediu nesta quarta-feira (26) esclarecimentos à Prefeitura de São Paulo de como foi feito o censo da população em situação de rua divulgado no domingo (23) e deu à administração municipal 15 dias para explicar.
O promotor Ricardo Manuel Castro enviou um ofício à Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social pedindo que ela detalhe a metodologia da pesquisa. “A intenção é entender como foi feito e se as conclusões podem ser consideradas confiáveis”, disse ele.
O censo da população de rua é realizado por uma empresa privada contratada pela Prefeitura de São Paulo. A Qualitest, que recebeu R$ 1,7 milhão para fazer a contagem, considerou no censo apenas pessoas que dormem nas ruas, com ou sem barracas, e em centros de acolhimento.
A prática é recorrente. Em 2020, quando foi realizado o censo anterior, o então coordenador geral da pesquisa, Cristiano Luiz Rebello de Araújo, confirmou a metodologia. “A gente estava contando as pessoas que estavam, por exemplo, em uma barraca, em situações mais improvisadas. Aquilo que estava construído, por exemplo como um barraco, a pessoa não era contada. Uma ocupação, uma pequena favela, não era considerado população de rua”.
Segundo Ministério Público há um inquérito em andamento para entender como foi feito o censo e saber se os resultados são confiáveis. Após a divulgação dos resultados do censo, representantes de movimentos sociais que trabalham diretamente com a população de rua são unânimes em dizer que houve subnotificação.
Ainda que subnotificado, o Censo da População de Rua divulgado pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura de São Paulo, mostra números alarmantes. Segundo o levantamento, o total de pessoas vivendo nas ruas aumentou 31% de 2019 até o final de 2021, quando foi concluído o censo.
Em números, segundo a secretaria municipal, de 24.344, a cidade tem atualmente 31.884 moradores de rua, um aumento de 7.540 pessoas.
A chegada da pandemia da COVID-19 e o desemprego são os principais fatores apontados para o aumento dos moradores de rua.
Segundo a prefeitura, dos 31.884 identificados no censo, 19.209 foram recenseados quando estavam nas ruas, e outros 12.675 enquanto estavam abrigados nos Centros de Acolhida da rede socioassistencial do município.
O número de moradores de rua é alarmante. Em dados comparativos, das 645 cidades paulistas, 449, ou seja 69,6% do total, têm quantidade de moradores menor do que a população em situação de rua aferida na cidade de São Paulo.
Os dados revelam ainda que, em relação ao ano de 2019, havia 6.816 pontos de concentração, enquanto em 2021 esse número passou para 12.438, o que corresponde a um aumento de 82,5%. O número de barracas, classificadas como moradias improvisadas, cresceu 330% em 2021. No censo de 2019, eram 2.051 e em 2021, foram computados 6.778 pontos.
O Padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, tem publicado durante toda a semana em suas redes sociais críticas ao resultado do Censo da População de Rua divulgado pela Prefeitura de São Paulo. O padre tem se referido ao levantamento como “Censo furado”. Ele chegou a gravar vídeos com moradores de rua em que ele questiona se os mesmos teriam sido contados pelo levantamento. A resposta dos moradores entrevistados pelo padre é que não haviam sido contados. Em outro vídeo o padre entrevista moradores de rua que criticam o atendimento e as condições do CTA 11 da Água Rasa (Centro Temporário de Atendimento).
O padre Lancellotti também publicou em suas redes sociais fotos da Praça da Sé e do Pátio do Colégio em que ele alega que os moradores de rua teriam sido expulsos em virtude do aniversário da cidade, comemorado ontem, 25 de janeiro.
“A crise econômica se agravou, o desemprego disparou, a inflação subiu e, nesse período, a política pública da Prefeitura para essa população continuou a mesma. Os centros de acolhida não são pensados para as demandas de quem vive na rua, afirma o padre em tom de crítica em suas redes sociais. Sobre o censo o padre afirma: “Esse número é subestimado pela total inadequação com a qual foi feito esse censo. E a Prefeitura foi alertada dos problemas metodológicos. Um número subestimado vai resultar mais uma vez em políticas públicas insuficientes e equivocadas que não respondem quantitativamente e nem qualitativamente às demandas da população de rua”, publicou em sua conta no Instagram o padre.