Depois de mais de 200 mil pessoas se manifestarem na capital nicaraguense, Manágua, contra a política do governo de Daniel Ortega e suas propostas neoliberais, na quinta-feira (10), duas das principais universidades públicas foram atacadas por desconhecidos fortemente armados, com a intenção de expulsar pela força os estudantes que lá protestam há quase um mês, informou Victor Cuadras, dirigente estudantil, que denunciou a morte de um jovem. Por volta da meia-noite, outros desconhecidos abriram fogo contra estudantes na Universidade Nacional Autônoma de Nicarágua (UNAN), na zona sul de Manágua,
O porta-voz do Movimento Estudantil 19 de Abril (M19A), declarou à imprensa que o primeiro ataque armado aconteceu às 20:00 horas da quinta-feira e continuou pela madrugada de sexta contra a sede da Universidade Politécnica da Nicarágua (Upoli), na região norte de Manágua.
Indicou que os atacantes eram pessoas vestidas de civil, mas “seguramente policiais sem uniforme e ativistas ligados ao partido no governo, que utilizaram armas de fogo a partir de fora do campus universitário”.
Como resultado do ataque, muitas pessoas resultaram feridas, entre elas um estudante de 18 anos que faleceu em um hospital após receber um disparo de arma de fogo quando estava nas redondezas da universidade, explicou Cuadras à agência de notícias alemã, DPA.
Mais cedo, as ruas do centro da capital nicaraguense ficaram tomadas por uma multidão com a consigna central “O povo perdeu o medo e Ortega perdeu o povo”. Foi a terceira manifestação massiva em Manágua contra o governo do presidente Daniel Ortega em três semanas, informou a revista Confidencial em seu portal na Internet.
Uma caravana de camponeses, que se opõe ao projeto do governo para construir um canal interoceânico, foi recebida com entusiasmo pelos moradores de bairros localizados no trajeto para o lugar de concentração. Também foi muito aplaudida a presença de residentes do povoado indígena de Monimbo, em Masaya, bastião sandinista na luta contra a ditadura de Somoza em 1979. Os estudantes reivindicam aumento do orçamento para a educação e exigem justiça pelos mortos nas manifestações que começaram em 18 de abril rechaçando o pacote contra a Previdência.
O canal 15 de televisão, que transmitiu ao vivo o ataque armado durante mais de cinco horas contínuas, informou a morte de outra pessoa e um total de 18 feridos na Upoli, mas isso não foi confirmado pelo M19A.
“O governo de Ortega iniciou una caçada contra os estudantes e o povo que está nos apoiando na nossa mobilização contra a política de destruir nossas conquistas e nosso país. Isto já é uma guerra, mas não vamos nos amedrontar com esses ataques”, afirmou o porta-voz universitário Cuadras.
A crise que vive a Nicarágua se iniciou com um protesto estudantil que foi acompanhado por muitos setores do povo contra uma reforma da Previdência Social que penalizava os trabalhadores e as empresas.
O governo, atendendo a recomendação do Fundo Monetário Internacional (FMI), tinha anunciado um importante aumento nas contribuições para a Previdência de 3,5% para os empregadores (de 19% a 22,5%) e de 0.75% para os trabalhadores (aumentando de 6.25% para 7%), cortando em 5% as pensões dos aposentados. Encurralado por grandes e sucessivas manifestações, o presidente Daniel Ortega cancelou a reforma.
O conflito deixou 60 mortos (sem incluir o jovem assassinado na quinta-feira), segundo organismos independentes de direitos humanos, e 10 segundo o governo.