Criminosos incendiaram a creche municipal ‘Irmã da Paz’ em Caucaia, cidade da Região Metropolitana de Fortaleza, nesta quarta-feira (9). O atentado foi realizado no oitavo dia de ataques coordenados por facções no Ceará.
A informação foi confirmada pela Prefeitura do Município e como as escolas e creches estão em períodos de férias, não havia ninguém na instituição e não há feridos. Esta é a segunda creche atacada por criminosos nesta onda de violência. No último sábado (5), um veículo foi incendiado no pátio de uma creche, em Jericoacoara.
Desde a madrugada do dia 3, o Ceará é alvo de ataques articulados contra prédios públicos, ônibus e empresas privadas, além de uma série de ações criminosas, inclusive com a detonação de explosivos em pontes, torres de celulares e incêndios de veículos públicos.
Entre a noite de terça e a madrugada de quarta-feira, mais cinco ataques foram registrados, totalizando 185 nos últimos oito dias, a maior onda de crimes em série que o estado já viveu.
O governador Camilo Santana declarou que o estado está tomando as providências necessárias para voltar à normalidade. 215 pessoas foram presas por envolvimento nos ataques.
Segundo Camilo, apesar da redução das ocorrências ao longo desses oito dias, o trabalho das forças de segurança que atuam no Estado deve seguir na mesma intensidade. Agentes da Força Nacional e policiais militares da Bahia e do Piauí têm trabalhado em conjunto com os efetivos de segurança do Ceará.
Por meio de sua página nas redes sociais, Santana explicou que “o esquema reforçado de segurança continuará, e com mais força ainda, por todo o tempo que for necessário para garantir a ordem e colocar atrás das grades todos aqueles que atentarem contra a sociedade”, garantiu.
“Esse tem sido justamente o motivo desses atos criminosos: fazer com que o Estado recue dessas medidas fortes, o que não há nenhuma possibilidade de acontecer. Pelo contrário: endureceremos cada vez mais contra o crime. Criamos uma secretaria especialmente para a atuação rigorosa em todos os presídios, agindo com firmeza, dentro da lei e mostrando que o comando é do Estado”, posicionou-se o governador.
A onda de crimes começou um dia depois do titular da recém-criada Secretaria da Administração Penitenciária, Luís Mauro Albuquerque, iniciar uma série de inspeções nos presídios do estado, além de encerrar a separação dos presidiários por facções nas prisões. “Eu não reconheço facção. O Estado não deve reconhecer facção. A lei não reconhece facção”, respondeu Mauro durante cerimônia de posse dos secretários de Estado, no Palácio da Abolição. “O preso está sob a tutela do Estado. Quem manda é o Estado”, acrescentou.
Anteriormente, os presos eram divididos em cadeias específicas para membros de cada facção criminosa. Isso acontece em consequência da disputa entre as facções Comando Vermelho (natural do Rio de Janeiro) e o PCC – Primeiro Comando da Capital (originária de São Paulo) nos presídios cearenses em 2017. 34 detentos morreram durante os conflitos.
Após a declaração de Albuquerque e o início das vistorias nos presídios, as facções criminosas que atuam no estado acordaram uma trégua para orquestrarem uma resposta ao governo. Além de CV e PCC, as facções Guardiões do Estado (GDE) – que atua em conjunto com o PCC-, e a Família do Norte (FDN) – também estão na mobilização dos ataques.
O portal especializado em segurança “Ponte” divulgou o conteúdo de mensagens atribuídas às facções, os chamados “salves”, que comprovam a aliança do crime contra o governo do estado.
“Meus irmãos GDE, nós pede humildemente que vocês entendam que se chegar qualquer liderança, PCC ou CV nas nossas cadeias, que os irmãos acolham e der tratamento de um bandido a eles, der água, comida, escova, pasta, roupas e lençol”, diz trecho de uma mensagem atribuída à cúpula do GDE.
“Em cima desta situação vamos dá essa trégua porquê é o está que está fazendo isso propositalmente no intuito de nós se matar. Como nós sabemos disso e da intenção do estado judiciário, nós não iremos satisfazer a vontade do estado. Iremos recebê-los os nossos inimigos com a dignidade de bandido e esperamos o mesmo feedback do lado deles”, continua o texto divulgado pelo portal PONTE.
De acordo com o presidente o Conselho Penitenciário do Ceará (Copen), Cláudio Justa, o que acontece hoje é diferente do que aconteceu em abril de 2017. “Tem uma reação de rua por parte das facções, que estão nos territórios, sobretudo mais vulneráveis. Nas outras ações precedentes, houve um recuo do estado, até com receio de se ter o agravamento da situação e um dano maior, não só ao patrimônio, mas também de perder pessoas”, explicou.
De acordo com Justa, os jovens que integram os grupos criminosos são denominados de “nem, nem, nem”. “São garotos jovens e adolescentes que nem frequentam a escola, nem atividade de comércio ou trabalho, nem estão integrados a qualquer atividade social. Esse é o exército cooptado, regimentado pelas facções. É um volume muito grande, eles não têm nada a perder, conseguem levantar dinheiro que dificilmente conseguiriam dentro de um trabalho lícito”, afirmou.