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“Estamos com perspectiva de queda de 1% da produção industrial e o mesmo para o PIB da indústria de transformação”, alertou o novo economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha, em entrevista ao Valor na última sexta-feira (4), onde defendeu que é preciso ter uma política industrial moderna focada nos setores de média e alta tecnologia.
“O que precisamos fazer? Ter um plano delineado para a indústria de transformação. Quando falamos de política industrial estamos falando de uma política industrial moderna, pautada nos pilares ESG (environmental, social and governance – ambiental, social e governança, em português), na sustentabilidade, focada nos setores de média e alta tecnologia, que são os que têm maior potencial verde. A descarbonização também precisa estar na agenda, para termos alinhamento com as melhores práticas que ocorrem hoje”, destacou Rocha.
“E quando falamos de investimento verde, seria em setores de média e alta tecnologia, com menor nível de emissões, e também dos maiores multiplicadores economia”. “Um seria o setor da saúde, intensivo do ponto de vista da tecnologia. O outro, da mobilidade urbana, com eletrificação de carros e veículos pesados. E, por último, o setor de infraestrutura. Temos um problema de competitividade porque não há infraestrutura adequada para isso”, lembrou o economista.
O economista-chefe da Fiesp, ao se declarar também favorável à ampliação do investimento público, alertou para os riscos da desindustralização.
“O que ocorreu com o Brasil foi um movimento distinto, sem fazer a passagem de renda média para renda alta. Ou seja, uma desindustrialização precoce”. “Significa que não fizemos a transição produtiva e tecnológica, não fizemos a devida absorção no mercado de trabalho da população para esses setores que pagam mais.”
Com doutorado pela Universidade de Cambridge, onde produziu análise comparativa sobre desenvolvimento industrial no Brasil e na Coreia do Sul, Igor Rocha também vê que o Brasil possa ter uma maior inserção no comércio global, mas ressalta que a economia brasileira não é tão fechada como as correntes mais liberais afirmam.
“A abertura comercial é um meio, não é um fim em si mesmo. Temos, de fato, que procurar maior integração com o comércio global. Mas também é preciso pontuar que temos quase 17 mil ex-tarifários [para reduzir tributos de importação], então a tarifa que se vê muitas vezes não é a que vigora. Além disso, o Brasil importa mais insumos do que China, Alemanha e EUA”, disse. “Temos de aumentar o fluxo de comércio, mas também olhar as exportações, onde o Brasil tem de melhorar porque houve regressão do ponto de vista produtivo e da pauta de exportações”, pontuou.
Entre as propostas em debate no Congresso Nacional, Rocha afirmou ser mais urgente para o setor a reforma tributária. “Precisamos de maior harmonização tributária. Hoje em uma empresa, a área tributária é maior do que a área comercial. Se a área comercial é menor que a tributária, alguma desfuncionalidade tem aí”. “Há três grandes problemas horizontais: educação, infraestrutura e a questão tributária, que são condições necessárias, porém não suficientes para o desenvolvimento do país. É muito difícil você empreender uma política industrial sem atacar essas três questões”.